Quarta-feira, 27 de Novembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 22 de agosto de 2022
As mortes por insuficiência cardíaca têm caído nos últimos anos, mas seguem entre as principais causas de mortes relacionadas ao aparelho circulatório no Brasil, superando até o infarto agudo do miocárdio. Uma das vítimas mais recentes foi a atriz e humorista Claudia Jimenez, que morreu no último sábado (20).
O caso também chama a atenção para a necessidade de acompanhamento de pacientes que passaram por radioterapia na região do tórax, principalmente nos anos 1980, 1990 e décadas anteriores.
“É muito grave. A insuficiência cardíaca é o fim das doenças que envolvem o coração se não adequadamente tratadas”, destaca a cardio-oncologista Marina Bond, do Hospital do Coração (HCor). “Mas hoje em dia, o tratamento está mais moderno e pode dar mais qualidade de vida se feito com um diagnóstico e tratamento corretos.”
Também chamada de “doença do coração fraco”, a insuficiência cardíaca é uma síndrome em que o coração tem dificuldades para bombear adequadamente, podendo prejudicar outros órgãos, como os pulmões. Costuma acometer principalmente pacientes com histórico de doenças e problemas cardiovasculares, como hipertensão e infarto, doença de Chagas e doenças congênitas. Outros fatores podem agravar o quadro, como diabetes, tabagismo e sedentarismo.
Pessoas que passaram por quimioterapia e radioterapia na região do tórax (como em cânceres nos pulmões, na mama e linfoma) também têm mais chances de desenvolver a síndrome, principalmente as que fizeram os tratamentos nas décadas anteriores aos anos 2000. Como no caso de Claudia Jimenez, os problemas cardíacos costumam aparecer apenas anos depois da radioterapia, geralmente após uma década ou mais.
“Nas décadas de 80 e 90, o coração foi mais atingido, aumentando o risco de placa gordura – que aumenta o risco de infarto –, afetando as válvulas e fazendo com que o paciente precise de cirurgias de trocas de válvulas, e diretamente afetando o músculo”, comenta Marina Bond. Segundo ela, esses pacientes têm cerca de cinco vezes mais chances de desenvolver doenças cardiovasculares.
Ela também aponta mudanças de comportamento importantes para o paciente com a síndrome. “É preciso controlar a quantidade de líquido ingerido – que deve ser menor, porque, como o coração não bombeia o sangue corretamente, pode causar líquido no pulmão –, consumir pouco sal, fazer uma reabilitação cardíaca – que é uma fisioterapia do coração –, controlar a alimentação e tomar as medicações – que são cada vez melhores. De maneira geral, tem muita coisa que pode fazer pra esse paciente.”
Sintomas
A insuficiência cardíaca é mais comum após os 65 anos e, ainda mais, depois dos 75 anos. Entre os sintomas principais, estão dificuldades respiratórias, fraqueza, cansaço e pernas inchadas. Estudos recentes têm destacado sinais adicionais, como a pesquisa da Associação Americana do Coração que lista insônia, depressão, ansiedade, disfunção cognitiva e problemas gastrointestinais, como dor no estômago, enjoo, vômitos e perda de apetite.
O presidente do Departamento de Insuficiência Cardíaca da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), Múcio Tavares explica que a síndrome pode decorrer de um único dano significativo ao coração, como um infarto, que por vezes deixa uma “cicatriz” local. “Não precisa ser contínuo.”
Já os efeitos da síndrome são contínuos, com uma piora progressiva quando o tratamento é insuficiente, tanto que parte significativa dos pacientes não sobrevive de um a cinco anos após o diagnóstico. “É uma doença mais grave que a maioria dos cânceres”, destaca. “É ruim, mortal, mas temos opções de melhora e para bloquear essa evolução ruim.”
Ele destaca a melhora nos tratamentos, com novos medicamentos, parte deles disponíveis também na rede pública, como betabloqueadores, inibidores e outros. “Hoje, se fizer um tratamento completo, um paciente com 55 anos ganha uma média de 10 anos e meio de expectativa a mais de vida, segundo estudos.”
Professor da USP Ribeirão Preto e assessor científico da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, Marcus Vinicius Simões explica que o coração tende a dilatar no caso de insuficiência cardíaca, chegando a um formato esférico.
“Em um primeiro momento, pode não apresentar sintomas. É progressiva. O déficit de contração que o coração assume vai, lentamente, ao longo de meses e anos, causando uma progressão e o coração vai dilatando.”
Ele explica que o diagnóstico é baseado em histórico clínico, exames físicos e de imagem e avaliação de sintomas. Também destaca que a resposta ao tratamento pode ser mais difícil no caso de pacientes com cardiopatias muito graves, como no caso de Claudia Jimenez. “Ela teve a agressão da radioterapia, era diabética, passou por vários infartos, teve doenças e muitas complicações, comorbidades. Os riscos vão se somando.”
Prevenção
Como a síndrome está ligada a outros problemas de saúde, a principal prevenção é a adoção de hábitos saudáveis, como a prática de exercícios físicos e a alimentação balanceada. No caso de pessoas com mais de 40 anos, um check-up anual é recomendado.
“Os exames são necessários porque são condições silenciosas, que, sem um rastreio, não se detecta. O fato de não causarem sintomas, não quer dizer que não existam”, aponta o cardiologista.
No Ar: Pampa Na Tarde