Quarta-feira, 27 de Novembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 13 de abril de 2022
O que a imagem mais detalhada do Sol já registrada revela? Um zoom em um dos pontos dessa foto composta por um mega mosaico de imagens mostra formas que se assemelham a um homem de costas, olhando para a esquerda.
Por mais que nossos olhos tendam a encontrar figuras humanas em todos os cantos, a ciência explica que por trás das traços amarelos e dourados há, na verdade, conceitos como gás, plasma, arcos magnéticos e tempestades geomagnéticas capazes de interferir na vida na Terra.
Parece complicado, mas são fenômenos que estão sob alguma das camadas da megafoto e eles não ditam apenas a dinâmica da nossa estrela de 4,5 bilhões de anos.
O Sol e seus fenômenos podem afetar desde o funcionamento de sistemas de Internet e GPS aqui na Terra até a segurança de astronautas em missões espaciais. E tudo está ali, revelado ou sob outras áreas que a foto não alcançou.
A foto, um conjunto de 25 imagens individuais, foi feita pelo telescópio espacial de alta resolução acoplado à sonda lançada em 2020 pela Nasa juntamente com a Agência Espacial Europeia, a ESA.
Na imagem, além de ser possível enxergar uma figura humana intrigante (um fenômeno que a psicologia chama de pareidolia – o reconhecimento de uma imagem, som ou objeto familiar em um estímulo aleatório, como enxergar formas de animais em nuvens), o que temos em destaque é a última camada da atmosfera do Sol, a coroa solar, que é bem mais quente que superfície da estrela.
Sim, assim como a Terra, o Sol possui uma atmosfera. E ela é dividida em duas partes, a cromosfera, a camada mais inferior, e a coroa (a que de fato vemos nas imagens).
As regiões mais luminosas da foto são chamadas de manchas solares ou regiões ativas, locais de alta concentração de campo magnético. Isso quer dizer que, diferentemente do que imaginamos quando olhamos para o espaço, o Sol não é uma bola estática.
Os campos magnéticos estão a todo tempo produzindo uma “dança” de gás e plasma, o material que forma a estrela.
“O Sol é uma estrela muito ativa. Ele tem períodos em que essas regiões ativas aparecem em maior número (que chamamos de máximo solar) e outros em que elas quase não aparecem”, diz Alessandra Abe Pacini, cientista do grupo de Física Espacial do CIRES/NOAA, na Universidade do Colorado.
O que intriga os cientistas por muito tempo é o fato de que a dinâmica de aquecimento dessas regiões é algo único.
Diferentemente do esperado, a camada mais exterior da nossa estrela (a coroa vista na foto da ESA) é mais quente que sua superfície. São temperaturas que ali chegam à casa do milhão, enquanto a superfície solar chega a “apenas” 5 mil graus Celsius.
Adriana Valio, astrônoma do Centro de Rádio Astronomia e Astrofísica Mackenzie, explica que isso é curioso porque aqui na Terra, quando pensamos numa fogueira, por exemplo, as regiões mais quentes que ardem em chamas ficam justamente nas camadas mais inferiores, o inverso da dinâmica do Sol.
“Isso eu acho bárbaro”, diz. “É uma questão que intriga há mais de 30 anos e que a sonda poderá resolver”.
A ESA também divulgou imagens que mostram a cromosfera do Sol. São quatro imagens ‘coloridas’ que revelam detalhes sobre essa camada da atmosfera que não é visível aqui da Terra.
Adriana Valio explica que a sonda tem dois grupos de instrumentos: câmeras imageadoras, que tiram as fotos em alta resolução do começo desta reportagem, e ferramentas que fazem uma espécie de “tomografia” do Sol, medindo a densidade de partículas da estrela e do vento solar.
Na Solar Orbiter, esse “tomógrafo” é um instrumento chamado de SPICE. A função dele é entender como o Sol cria e controla a heliosfera, a região do espaço onde o nosso sol exerce sua influência.
“O Sol tem um fluxo continuo de partículas. Esse fluxo preenche todo o Sistema Solar”, explica Valio. ” E a Solar Orbiter conseguiu mapear, pela primeira vez, de onde sai esse vento solar “.
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