Sábado, 26 de Outubro de 2024

Home Brasil Entenda por que o número de inscritos no ENEM caiu tanto nos últimos 10 anos

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Um estudo aprofundado dos dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) revela um preocupante declínio na participação dos estudantes no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Entre os anos de 2013 e 2023, observou-se uma redução de 45,6% no número de inscritos, evidenciando uma tendência preocupante que merece uma análise mais detalhada.

Essa queda significativa pode estar relacionada a diversos fatores, como a desvalorização do ensino superior, as dificuldades econômicas enfrentadas pelas famílias brasileiras, a perda de credibilidade em relação ao exame e as incertezas quanto ao futuro profissional,

“Muitos não têm interesse. Não é comum que seus pais ou familiares tenham ensino superior. Então, no máximo, querem terminar o ensino médio e ingressar no mercado”, explica a coordenadora de políticas educacionais da organização não governamental Todos pela Educação, Natália Fregonesi.

Além disso, falta conhecimento sobre as oportunidades do exame:

“Muitos enxergam como mais uma prova. Não vão atrás de entender que há diversos cursos, inclusive, com cotas para quem vem de escolas públicas”, completou.
Apesar disso, fazer uma graduação continua sendo uma das maneiras mais confiáveis de se destacar no mundo corporativo.

A falta de apoio das próprias escolas, principalmente as públicas, é outro entrave às inscrições, na análise de João Guilherme Porto, diretor da Faculdade Arnaldo Janssen, em BH. Segundo o professor, enquanto colégios privados engajam os estudantes em processos seletivos como o Enem, até pela questão comercial de ranqueamento publicitário das escolas, unidades públicas, nas quais está a maioria dos estudantes, deixam a desejar: “Falta perspectiva para esses estudantes. Não há motivação das escolas para que o seu aluno participe do Enem”.

Ensino básico

Fazer o estudante querer participar do Enem e cursar faculdade é um processo gradativo, que começa pelo ensino básico de qualidade, defende Eneas Arrais Neto, professor e doutor em educação pela Universidade Federal do Ceará. Exemplos disso vêm do Nordeste, que reúne 97 das 100 melhores escolas de ensinos infantil e fundamental do Brasil, mostram dados do Índice Nacional de Educação Básica (Ideb) de 2021, aferidos pelo Ministério da Educação. Das 97, 87 são no Ceará, que teve 79,8% dos concluintes do ensino médio público participando do Enem. Em Minas, o índice foi de 41,5%.

“Nos últimos 20 anos, houve valorização do ensino, com escolas estruturadas, laboratórios, profissionais selecionados por competência, não mais por indicações, além de premiações para as melhores escolas e professores bem-pagos”, afirmou sobre o ensino público cearense.

Demanda menor

Além da falta de perspectiva dos próprios alunos, o esvaziamento do Enem também pode ser explicado pelo fato de haver mais pessoas já nas universidades brasileiras, diminuindo, assim a demanda, conforme explica o sociólogo e analista educacional Flávio Pimenta.

Ele destaca que a população com curso superior subiu de 2%, há 40 anos, para os atuais 30% e atribui isso a programas que aumentaram o número de vagas, como os programas de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) e Universidade para todos (Prouni), para bolsas.

“Se o número de inscritos no Enem está diminuindo, talvez seja também impacto dos efeitos positivos de programas do MEC nas duas últimas décadas. Quanto mais pessoas entram (na faculdade), menores são as inscrições”, justifica.

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