Quinta-feira, 02 de Janeiro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 22 de dezembro de 2022
A atriz Claudia Rodrigues, de 52 anos, pretende passar por um procedimento experimental nos Estados Unidos, em 2023, como parte do tratamento da esclerose múltipla, diagnóstico que faz parte da vida da artista há duas décadas. Focado na temperatura cerebral, a terapia chama atenção pelo preço elevado, que pode ultrapassar dois milhões de reais, e pelas expectativas relacionadas à técnica, uma vez que a doença não tem cura.
“Nós estamos nos preparando para um procedimento nos Estados Unidos com uma técnica inovadora e tecnológica”, disse a namorada da atriz, Adriane Bonato, em vídeo publicado no Instagram. Segundo ela, “dentro de todos os procedimentos que decidimos adotar para ela, vamos ter que investir por volta de 5 milhões de reais, estando incluso o procedimento nos Estados Unidos, que pode variar de uma a 10 sessões”.
Segundo a BTT Corp, empresa que realiza a técnica, as sessões do procedimento experimental variam entre 36 e 50 mil dólares. Na cotação atual, é um valor acima de 250 mil reais cada que, ao fim do processo, pode chegar a mais de 2,5 milhões de reais.
Adriane conta que, para arcar com os custos milionários, Claudia precisou colocar uma cobertura que possui no Rio de Janeiro à venda. Elas dizem estar com as melhores expectativas possíveis em relação ao procedimento, com planos para que a atriz possa retomar alguns trabalhos após as sessões. Especialistas, no entanto, ressaltam a falta de evidências científicas na técnica.
Eficácia
A esclerose múltipla é uma doença autoimune, ou seja, que leva o próprio sistema imunológico a atacar o Sistema Nervoso Central (SNC), o que provoca o comprometimento da coordenação motora.
O novo procedimento que Cláudia pretende se submeter foi desenvolvido pelo médico brasileiro Marc Abreu. Em 2007, durante um pós-doutorado em oftalmologia na Universidade de Yale, nos Estados Unidos, ele identificou uma área perto dos olhos que chamou de “túnel térmico cerebral”, capaz de facilitar a medição da temperatura do cérebro.
Isso levou à criação do sistema Abreu BTT 700, um equipamento que funciona como um termômetro. O aparelho recebeu o aval da agência reguladora dos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA), para essa finalidade: monitorar a temperatura cerebral durante procedimentos cirúrgicos e outros cuidados médicos.
Porém, depois, Abreu fundou a BTT Corp, uma empresa que promete utilizar o método para tratamento de uma série de doenças. De forma não invasiva, com uma espécie de capacete, o aparelho seria capaz de, entre outras funções, induzir proteínas chamadas de choque térmico na região que, em tese, ajudariam a restaurar processos do cérebro danificados pelas doenças.
No caso da escleros múltipla, a empresa diz que os benefícios são devido a um procedimento de hipotermia para esfriar o cérebro, o que ajudaria a ativar células que produzem a mielina, estrutura que protege os neurônios e que é danificada na esclerose múltipla.
Críticas
Especialistas, além de entidades médicas como a Associação Brasileira de Neurologia (ABN), a Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN) e a Associação Médica Brasileira (AMB), no entanto, criticam a promessa e afirmam não haver qualquer evidência científica que suporte a técnica.
“Não consigo ver nenhuma base fisiológica nesse método para tratar a doença. Isso não age na fisiopatologia da doença, não reduz os ataques das células de defesa no sistema nervoso, não age para recuperar os neurônios que estão mortos”, afirma o neurologista e presidente do Comitê Brasileiro de Tratamento e Pesquisa em Esclerose Múltipla (BCTRIMS), Jefferson Becker.
De fato não há estudos clínicos, que são feitos para a avaliação de tratamentos, sobre a técnica, além de ela não ter aval para ser utilizada com essa finalidade médica. Além disso, não há testes em andamento inscritos na plataforma Clinical Trials, que monitora os estudos nos EUA.
Para o neurologista Haroldo Chagas, chefe do serviço de neurocirurgia do Hospital Federal da Lagoa, no Rio de Janeiro, a promessa com uma tecnologia ainda “sem dados clínicos ou laboratoriais sólidos” pode gerar frustração no paciente.
Becker destaca ainda os riscos de tratamentos experimentais não terem a segurança avaliada em testes e poderem levar pacientes a adiarem a adesão a terapias com base científica. O especialista menciona ainda o preço elevado, que chega a milhões de reais, da técnica.
No Ar: Pampa Na Tarde