Sábado, 23 de Novembro de 2024

Home Você viu? “Estou aqui porque fiz ‘O poderoso chefão’”, diz o ator Al Pacino ao falar sobre o filme épico que o consagrou e que estreou há 50 anos

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É difícil imaginar “O Poderoso Chefão” sem Al Pacino. Seu desempenho como o discreto Michael Corleone, que se tornou um herói de guerra respeitável apesar de sua família corrupta, passa quase despercebido na primeira hora do filme – até que finalmente ele se afirma, gradualmente assumindo o controle da operação criminosa Corleone e do filme junto com ele.

Mas também não existiria Al Pacino sem “O Poderoso Chefão”. O ator era uma estrela em ascensão do teatro em Nova York, com apenas um papel em filme, no drama de 1971 “The Panic in Needle Park”, quando Francis Ford Coppola lutou por ele, contra a vontade da Paramount Pictures, para interpretar o príncipe ruminado de seu épico. Meio século de papéis cinematográficos fundamentais se seguiram, incluindo mais dois trabalhos como Michael Corleone em “O Poderoso Chefão parte II” e “Parte III.”

A pré-estreia de “O Poderoso Chefão” aconteceu em 14 de Março de 1972, em Nova York, e 50 anos depois, você pode imaginar todas as razões para que Pacino não queira mais falar sobre o filme. Talvez ele fique envergonhado ou irritado sobre como essa performance, desde o início de sua carreira no cinema, continua dominando seu currículo, ou talvez ele já tenha dito tudo o que há para dizer.

Mas em uma entrevista por telefone, Paccino, de 81 anos, foi bastante filosófico, mesmo caprichoso, sobre a discussão do filme. Ele continua a ser um admirador fervoroso do filme e de como Coppola e seus colegas de elenco o apoiaram, e ele ainda está impressionado com a forma como ele sozinho lhe deu sua carreira.

“Estou aqui porque fiz ‘O Poderoso Chefão’”, disse Pacino, falando de sua casa em Los Angeles. “Para um ator, é como ganhar na loteria”.

Pacino falou mais sobre ter sido chamado para protagonizar o filme, o peso de seu legado e porquê ele nunca mais interpretou um personagem como Michael Corleone.

1-Quando você recebe uma ligação pedindo para falar sobre “O Poderoso Chefão”, tem uma parte de você que pensa, “meu Deus, de novo”? Se tornou tedioso?

Bem, não. Eu espero isso. Você espera falar sobre coisas que deram certo e coisas que não. Você só vai: Ok, estive aqui, fiz isso. Mas é legal. É melhor do que falar comigo mesmo sobre isso.

2-Como o papel de Michael Corleone apareceu?

Naquela época, eu não tinha escolha. Francis me queria. Eu tinha feito um filme e eu não estava tão interessado em cinema. Minha cabeça estava em outro lugar. Me sentia deslocado nos primeiros filmes que fiz. Lembro de dizer ao Charlie (Laughton, seu mentor, professor de teatro e amigo): “Uau, eles falam sobre isso ser real, mas enquanto isso não é. Porque há fios por toda parte. E também, você tem que fazer de novo! (Risos.) Você faz isso e eles dizem, bem, vá de novo, faça de novo”. É real e não real ao mesmo tempo. O que leva algum tempo para se acostumar.

3-Quando você e Coppola se conheceram?

Francis tinha uma produtora, a Zoetrope, e pessoas como Steven Spielberg, George Lucas, Scorsese e De Palma eram parte do grupo. Eu lembro de ver alguns deles quando Francis me chamou para ir a São Francisco depois de me assistir em uma peça da Broadway. Você conhece essa história? Estou contando histórias velhas agora (risos).

4-Tudo bem. É para isso que estamos aqui.

Ele me viu no palco (em 1969 no espetáculo da Broadway “Does a Tiger Wear a Necktie?”) mas eu não o conheci. Ele tinha escrito “Patton” na época e me enviou um script de uma incrível história de amor que ele escreveu (nunca foi produzida). Ele queria me ver. Isso significava que eu tinha que pegar o avião e ir até São Francisco, o que não era comum para mim. Eu pensei, “tem outro jeito de ir? Eu não posso pedir para ele voltar aqui, posso?” Eu fui. Passei cinco dias com ele. Foi realmente especial. Mas fomos rejeitados, é claro. Eu era um ator desconhecido e ele tinha feito dois filmes “You’re a Big Boy Now” e “The Rain People”. Então, voltei para casa e não ouvi mais falar dele.

5-Mas, eventualmente, você ouviu. Quando foi isso?

“Panic in Needle Park” não tinha saído ainda e eu recebi uma ligação de Francis Coppola — um nome do passado. Primeiro, ele disse que iria dirigir “O Poderoso Chefão”. Eu pensei “bem, ele pode estar passando por um ‘minibreakdown’ ou algo assim. Como deram para ele “O Poderoso Chefão”?

6-Você não pensou que fosse possível de ele fazer?

Eu preciso te dizer, era um grande livro. Quando você é ator, você nem coloca os olhos nessas coisas. Elas não existem para você. Você está em um lugar na vida em que não é aceito para esses grandes filmes — pelo menos ainda não. E ele disse que não só ele estava dirigindo (gargalhando), mas que ele queria que eu fizesse. Desculpe, eu não quis rir. É que pareceu tão ultrajante, que eu estava falando com alguém fora de si. Eu respondi para ele: “Em que pegadinha eu estou?”. Ele queria que eu fizesse Michael. Pensei “ok, vou entrar na dele”. Disse: “Sim, Francis, bom.” Era verdade e recebi o papel.

7-A Paramount se opôs à ideia de ter você no papel.

Bem, eles rejeitaram todo o elenco! (risos). Eles rejeitaram Brando, Jimmy Caan e Bob Duvall.

8-Existiu algum momento durante as gravações que você percebeu que seria tão bom quanto é?

Você lembra da cena do funeral de Marlon? O sol estava baixando, então, naturalmente, eu estava feliz porque eu poderia ir para casa e tomar uns drinks. Eu estava indo embora pensando que tinha sido um ótimo dia, eu não tinha falas, nenhuma obrigação. Todo dia sem falas é um ótimo dia. Então, estou voltando e sentado em uma lápide está Francis Coppola, choramingando como um bebê. Fui até ele e disse: “Francis o que aconteceu?” Ele respondeu: “Eles não vão me dar outra chance”. Querendo dizer que eles não o deixariam fazer outra montagem. Aí eu pensei: “Ok, acho que estou em um bom filme”. Porque ele tinha uma paixão, ela estava lá.

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