Sábado, 23 de Novembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 19 de julho de 2022
Nesta semana, o euro ficou equiparado com o dólar pela primeira vez em 20 anos, após uma desvalorização provocada por preocupações de que uma crise de energética – motivada pela guerra na Ucrânia – leve a Europa a uma recessão.
Em relação ao real, o euro chegou a cair 13,4% do início do ano até a última quinta-feira (14). Para os turistas, a cotação tem girado em torno de R$ 5,40.
Diante dessa queda, a Europa ficou mais barata para os brasileiros? Viajar para o continente está mais vantajoso do que ir para os Estados Unidos?
Veja consequências da queda do euro
Especialistas afirmam que o mundo, de forma geral, ficou mais caro após a pandemia, incluindo os serviços de viagens.
Eles avaliam que os custos com alimentação e hospedagem são muito semelhantes entre os Estados Unidos e Europa. Por outro lado, viajar para países europeus tem a vantagem de não ter o gasto com visto e mais oferta de passagens aéreas.
Confira a seguir mais detalhes.
Brasileiro mais pobre
Mesmo com a queda do euro, viajar para a Europa continua caro para os brasileiros, que perderam muito do seu poder de compra nos últimos anos, diante do avanço da inflação e aumento do desemprego.
Em um momento em que a população tem dificuldade de comprar alimentos básicos, a viagem para a Europa parece mais distante.
“Mesmo falando de 5 para 1 (R$5 = 1 euro) é uma viagem cara para um orçamento que está pressionado aqui no Brasil. Claro que a classe A – e parte da B – nem percebem essa pressão”, diz a professora de Lazer e Turismo da USP, Mariana Aldrigui.
Cerveja mais cara
Além do Brasil, o custo de vida na Europa também aumentou, puxado, principalmente, pelos gastos com alimentos e energia (eletricidade, gás, combustível), pressionados pela guerra da Rússia contra a Ucrânia.
A Rússia é um grande fornecedor de energia para a Europa e o conflito gera incertezas sobre o abastecimento interno do continente, afirma o professor de finanças do Insper, Ricardo Rocha.
Só o valor da energia avançou cerca de 40% na zona do euro, nos últimos 12 meses até junho. Esse é um produto que acaba influenciando a formação de preço de alimentos e de serviços diversos, como hotelaria.
Rocha lembra, porém, que não é só a Europa que está mais cara. O mundo todo passa por uma alta de preços. Nos EUA, por exemplo, a inflação de energia também subiu 40% em junho
“Uma referência muito usada para [se ter ideia dos preços do] turismo na Europa é o valor da cerveja ou do refrigerante. Nota-se que houve um acréscimo entre 10% e 15% nos valores desses produtos. Então, isso altera o orçamento de gasto diário para viagem”, diz a professora da USP.
Alimentação
O nível de gasto com alimentação acaba saindo muito parecido para o brasileiro, seja na Europa ou nos Estados Unidos.
A regra geral é que comida e hospedagem sempre são mais caras em cidades mais requisitadas, como Nova Iorque, Orlando, Paris, Londres, etc.
Uma das exceções está na alta gastronomia, diz o vice-presidente de marketing e eventos da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav), Frederico Levy.
“Na França e na Itália, por exemplo, a gastronomia é uma atração turística, né? É um serviço extremamente valorizado, tem restaurante com premiações. Então, isso tudo faz com que os restaurantes de alto nível tenham um valor mais elevado na Europa do que nos EUA”, diz Levy.
Segundo ele, pelo fato de os europeus terem uma preocupação maior com a comida – que é menos processada do que a americana –, é mais fácil ter uma alimentação de qualidade na Europa do que nos Estados Unidos, pagando o mesmo preço.
Esse fator é importante porque é na alimentação que o brasileiro faz trocas quando viaja, diz Mariana, da USP.
“O brasileiro tenta selecionar uma hospedagem confortável e bem localizada para reduzir o custo de transporte, mas faz trocas na alimentação. A gente acaba optando por um hotel que inclui café da manhã, faz um café reforçado e, às vezes, pula o almoço ou come um lanche na rua”, diz.
Hospedagem
Em relação à hospedagem, Levy, da Abav, diz que, atualmente, os hotéis de luxo estão cerca de 20% a 30% mais caros na Europa do que nos EUA.
“Mas se a gente pega a hotelaria intermediária, varia muito pouco entre os dois destinos”, diz.
Mariana lembra que os turistas têm, hoje, mais opções de hospedagem e pode avaliar se a estadia em hotéis ou em casas de aluguel vai sair mais vantajosa ou não para a sua proposta de viagem.
Passagem aérea e caos nos aeroportos
Por seguir a variação do dólar, a queda do euro não influencia o preço das passagens aéreas. Como a moeda americana continua cara para os brasileiros, os voos estão caros para a maioria dos destinos.
Porém, normalmente, os voos com saída do Brasil para a Europa são mais em conta do que para os Estados Unidos. Isso porque há mais companhias aéreas voando para o continente europeu do que para o país americano, diz o professor do Insper, Ricardo Rocha.
“Do Brasil para os EUA, é pouco voo para muita procura. É só você ver a espera para tirar visto. Chega a dar um ano de fila”, comenta.
Por outro lado, o setor aéreo europeu passa por um momento atípico, com atrasos e cancelamentos de voos provocados por uma combinação de falta de funcionários e greves em meio às férias de verão, lembra Mariana.
Nesta semana, o aeroporto de Heathrow chegou a pedir às companhias aéreas que parassem de vender passagens para o verão, além de ter limitado o número de passageiros a 100 mil por dia, até 11 de setembro.
Portanto, com a menor oferta, o brasileiro que quer ir para a Europa por agora deve encontrar preços mais altos e ter que encarar filas e atrasos nos aeroportos europeus.
Custo com visto
Outro item importante para colocar na ponta do lápis é o visto.
O turista que quer ir para os EUA precisa desembolsar, hoje, US$ 160 (cerca de R$ 864 na cotação da última quinta-feira, 14) para conseguir essa autorização.
Por outro lado, até o momento, os brasileiros têm permissão para entrar nos países europeus do Espaço Schengen sem a necessidade de visto e permanecerem por 3 meses.
Contudo, a partir de maio de 2023, o bloco irá exigir uma permissão de entrada, que será feita a partir do Sistema Europeu de Informação e Autorização de Viagens (Etias). O Etias não é um visto, mas uma espécie de permissão on-line, que será exigida uma vez a cada três anos.
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