Sexta-feira, 31 de Janeiro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 30 de janeiro de 2025
A colisão entre um jato da American Airlines e um helicóptero militar Black Hawk durante a aproximação em Washington, na noite de quarta-feira (29), joga luz em um problema que perdura há décadas no sistema aéreo dos Estados Unidos: a falta de controladores de voo.
A questão, crítica desde o governo de Ronald Reagan (1981-1989), se agravou com a retomada do tráfego aéreo após a pandemia e é especialmente preocupante sob a capital americana, que lida com um grande movimento de aeronaves civis e militares simultaneamente.
Helicópteros militares e aviões de passageiros são uma visão comum ao longo do Rio Potomac, na região de Washington, onde a colisão aconteceu. A região abriga inúmeras bases militares e três grandes aeroportos.
O aeroporto Reagan, que era destino do voo da American Airlines, tem um movimento particularmente alto. Entre 2016 e 2019, houve 88 mil pousos ou decolagens de helicópteros num raio de 30 milhas (48 km) da sua pista principal, incluindo cerca de 33 mil voos militares e 18 mil voos de forças de segurança, segundo um relatório de 2021.
Em 2024, dez novos pousos e decolagens foram autorizados pela FAA no aeroporto Reagan, que registra cerca de duas movimentações de aeronaves por minuto em sua pista principal.
A colisão no ar na noite dessa quarta ocorreu quando o jato de passageiros que partiu de Wichita, no Kansas, estava se aproximando para pousar em Reagan. As comunicações de rádio entre a torre de controle de tráfego aéreo e o Black Hawk mostraram que a tripulação do helicóptero sabia que o avião estava nas proximidades.
Quase colisões
Relatos de incidentes em que duas aeronaves quase colidem, tanto em pista quanto em voo, têm sido assustadoramente comuns nos EUA.
Em fevereiro de 2023, por exemplo, um avião cargueiro da FedEx e uma aeronave da Southwest com 128 pessoas a bordo quase colidiram no ar em Austin, Texas, chegando a ficar a 52 metros de distância. O Conselho Nacional de Segurança nos Transportes (NTSB, em inglês) concluiu que o incidente foi provocado por suposições incorretas por parte de um controlador de tráfego aéreo.
Já em julho de 2024, dois aviões comerciais ficaram a cerca de 200 metros de distância em Syracuse, no estado de Nova York. Segundo as investigações, o controlador de tráfego aéreo permitiu que uma aeronave se aproximasse da pista enquanto a outra estava decolando.
De acordo com especialistas, a sobrecarga nas operações de controle e a falta de pessoal estão entre os fatores que quase provocaram tragédias.
Em 2023, uma reportagem do “New York Times” analisou um banco de dados mantido pela Nasa com relatos confidenciais feitos por profissionais da aviação. As entradas são feitas voluntariamente e não eram verificadas independentemente. Ainda assim, havia cerca de 300 menções a quase colisões nos EUA num período de 12 meses.
O número, segundo o jornal, é mais que o dobro do registrado uma década antes, embora não seja possível afirmar se as condições de segurança se deterioraram ou se houve simplesmente um aumento no número de denúncias.
Controladores aéreos
De acordo com o “Times”, a falta de controladores aéreos é um problema que data dos anos 1980, quando a administração Reagan promoveu uma demissão em massa de profissionais em greve. Desde então, a FAA não tem conseguido reverter a escassez de mão de obra.
Com a pandemia e a paralisação dos voos, muitos controladores deixaram a profissão, e o ritmo de treinamento de novos funcionários caiu devido às restrições de reuniões de pessoas, por motivos de saúde. Em 10 anos, o número de profissionais treinados caiu 10%, enquanto o tráfego aéreo cresceu 5%. O problema já era conhecido durante a Presidência de Joe Biden.
Para suprir a demanda, a maioria dos controladores chega a trabalhar seis dias por semana, com cargas horárias elevadas, irregulares e com pouco tempo de interjornada. Profissionais da categoria, segundo o jornal, sofrem com problemas médico e psicológicos, mas evitam procurar atendimento profissional pelo medo de serem barrados nos exames periódicos.
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