Sábado, 23 de Novembro de 2024

Home Ciência Físicos especulam possível existência de um Universo Espelho

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A ideia de que nosso Universo não é único, apenas um entre muitos em um vasto multiverso, vem sendo usada como material de ficção científica por quase um século. Porém, conforme nossos instrumentos de observação cósmica ficavam cada vez mais precisos, fomos descobrindo que a linha entre a fantasia e a realidade é muito, muito tênue.

Pesquisas anteriores já apontavam para vestígios de outros universos, inclusive interagindo (leia-se colidindo) com o nosso. Agora, pesquisadores apresentaram uma ideia curiosa, que amarraria algumas pontas soltas na Física: nosso Universo possuiria um irmão gêmeo espelhado, logo, invertido, onde até o tempo fluiria na direção oposta.

O conceito apresentado por Neil Turok, Nathan Boyle e Kieran Finn, pesquisadores do Departamento de Física Teórica da Universidade de Waterloo, em Ontario, Canadá, é bastante simples se pararmos para pensar. Ele parte do princípio que o Big Bang, na verdade, não foi um evento de criação, e sim uma explosão ocorrida dentro de um espaço finito, um objeto, este sim, o Universo per se.

Nesse modelo, os limites cósmicos seriam fixos e o período de inflação só ocorreria enquanto a matéria não alcançar as “bordas” do objeto, se opondo à teoria de rápida inflação logo após ao Big Bang. As coisas ficam divertidas ao tratar o Universo como um objeto, visto que ele estaria sujeito ao que chamamos Teorema CPT.

Resumindo muito a ideia, qualquer objeto em existência está sujeito a três sistemas físicos invariáveis: Carga, Paridade e Tempo, que são sempre as mesmas, independente dos valores, se cargas positivas ou negativas, interações no tempo em qualquer direção, ou observar uma imagem refletida em um espelho. Embora invertidas, todas as interações são idênticas.

Ao considerar o Universo como um objeto, e, portanto, sujeito à simetria CPT, algumas coisas não batem, como a existência de matéria escura. Se nosso Cosmos pode ser simplesmente “tocado ao contrário”, como um disco em uma vitrola, isso sugere a existência de um “antiverso”, como proposto pelos cientistas.

Este universo anterior seria um reflexo invertido do nosso em absolutamente tudo no que tange às leis da Física, e o Big Bang em questão teria agregado uma quantidade abundante de matéria existente, que explodiu tanto na “bolha” do nosso Universo quanto na do dito antiverso, contudo no sentido oposto, sem que nenhuma delas fosse estourada. Assim, esta realidade gêmea à nossa apresentaria elementos curiosos.

Um deles seriam neutrinos que giram na direção oposta aos que podemos interagir, obedecendo à simetria CPT. Os que conhecemos são chamados de “canhotos”, pois giram em sentido horário. Seguindo este modelo, um “antineutrino” girando em sentido anti-horário poderia muito bem se encaixar no que hoje especulamos ser a matéria escura, como apenas outro “sabor” de um neutrino.

A proposta apresentada pelo time de cientistas sugere que o tal Universo Espelho seria permanentemente ligado ao nosso, sendo um espelho perfeito de nossas interações físicas, apenas correndo no sentido contrário, incluindo o tempo.

O mais interessante, no entanto, é constatar que mesmo que a proposta seja completamente fora da caixa, sem dizer que muitos a classificarão como absurda, a possibilidade poderia inclusive ser testada no futuro, conforme nossos instrumentos de observação ficarem cada vez melhores.

O único problema é que não teremos como visitar essa realidade tão cedo, visto que ela está separada da nossa a um Big Bang de distância, existindo (se comprovado) além do nosso Universo observável. Por outro lado, é possível observar se os neutrinos que conhecemos, de elétrons, de taus e de múons, todos “canhotos”, possam ser um tipo de férmion de Majorana, uma partícula que é sua própria antipartícula.

As discussões sobre o que são neutrinos, na classificação dos férmions é bem antiga, onde eles não se enquadram nos modelos de Majorana, nem de Dirac, onde ele não é sua própria antipartícula. Alheio a isso, há a especulação de que um dos neutrinos não tem massa, o que comprovaria a hipótese de um universo que segue a simetria CPT, e consequentemente, sugere a existência de um antiverso.

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