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Por Redação Rádio Pampa | 28 de maio de 2022
Mercúrio não faz sentido. É um pedaço de rocha bizarro, com uma composição bem diferente de seus planetas vizinhos.
“É muito denso”, disse David Rothery, cientista planetário da Open University, na Inglaterra.
A maior parte do planeta, o mais próximo do sol, é ocupado por seu núcleo. Mercúrio não tem um manto espesso como a Terra, e ninguém sabe ao certo por quê. Uma possibilidade é que o planeta era muito maior – talvez o dobro do seu tamanho atual ou até mais. Bilhões de anos atrás, esse proto-Mercúrio, ou super Mercúrio, pode ter sido atingido por um grande objeto, que arrancou suas camadas externas e deixou para trás o resto que vemos.
Embora seja uma boa ideia, nunca houve evidência direta para essa hipótese. Mas alguns pesquisadores acham que encontraram alguma coisa. No trabalho apresentado na Conferência de Ciência Lunar e Planetária em Houston, no mês de março, Camille Cartier, cientista planetária da Universidade de Lorraine, na França, e colegas disseram que pedaços desse proto-Mercúrio podem estar escondidos em museus e outras coleções de meteoritos. Estudá-los pode desvendar os mistérios do planeta.
“Não temos nenhuma amostra de Mercúrio” por enquanto, disse Cartier. Conseguir tais amostras “seria uma pequena revolução” na compreensão da história natural do menor planeta do sistema solar.
De acordo com a Sociedade Meteorítica, cerca de 70 mil meteoritos foram coletados em todo o mundo, em lugares tão remotos como o Saara e a Antártida, e hoje estão em museus e outras coleções. A maioria é de asteroides ejetados do cinturão entre Marte e Júpiter, mais de quinhentos vêm da Lua. Mais de trezentos são de Marte.
Notavelmente ausentes dessas rochas espaciais documentadas estão meteoritos confirmados dos planetas mais internos do nosso sistema solar, Vênus e Mercúrio. A principal hipótese é de que seria difícil, embora não impossível, que os detritos mais próximos do Sol e de sua gravidade conseguissem chegar mais longe no sistema solar.
Em um pequeno número de coleções de meteoritos se encontra um tipo raro de rocha espacial chamada aubrite. Batizada em homenagem ao nome da vila de Aubres, na França, onde o primeiro meteorito desse tipo foi encontrado em 1836, os aubrites têm cor pálida e contêm pequenas quantidades de metal. Eles são pobres em oxigênio e parecem ter se formado em um oceano de magma. Cerca de oitenta meteoritos aubrites foram encontrados na Terra.
Por essas razões, eles parecem corresponder aos modelos científicos das condições do planeta Mercúrio nos primeiros dias do sistema solar. “Nós costumamos dizer que os aubrites são análogos muito bons para Mercúrio”, disse Cartier.
Mas os cientistas não chegam a dizer que os aubrites sejam de fato pedaços de Mercúrio. Klaus Keil, cientista da Universidade do Havaí, em Manoa, que morreu em fevereiro, argumentou em 2010 que era mais provável que os aubrites tivessem se originado de outros tipos de asteroides do que ejetados de Mercúrio – e alguns cientistas apontam para um grupo de asteroides do cinturão chamados asteroides de tipo E. Entre suas evidências estavam sinais de que aubrites tinham sido atingidos pelo vento solar – algo contra que o campo magnético de Mercúrio deveria ter proteção.
Cartier, no entanto, tem outra ideia. E se os aubrites vieram originalmente de Mercúrio?
Seguindo a hipótese de que um objeto de tamanho considerável colidiu com um Mercúrio mais jovem, Cartier disse que uma grande quantidade de material teria sido lançada no espaço, cerca de um terço da massa do planeta. Uma pequena quantidade desses detritos teria sido empurrada pelo vento solar para o que hoje é o cinturão de asteroides, formando os asteroides do tipo E.
Ali, os asteroides teriam permanecido por bilhões de anos, colidindo ocasionalmente e sendo continuamente atingidos pelo vento solar, o que explicaria a impressão digital do vento solar nos aubrites. Mas, com o tempo, sugeriu ela, alguns pedaços foram empurrados em direção à Terra e caíram no nosso planeta como meteoritos aubríticos.
Os baixos níveis de níquel e cobalto encontrados nos aubrites correspondem ao que esperaríamos do proto-Mercúrio, diz Cartier, com dados da Messenger, espaçonave da Nasa que orbitou Mercúrio de 2011 a 2015, apontando semelhanças entre a composição de Mercúrio e dos aubrites.
“Acho que os aubrites são as porções mais superficiais do manto de um imenso proto-Mercúrio”, disse Cartier. “Isso pode explicar a origem de Mercúrio”.
Se for verdade, significaria que temos pedaços de Mercúrio – embora uma versão muito mais antiga do planeta – escondidos em gavetas e vitrines por mais de 150 anos.
“Seria fantástico”, disse Sara Russell, especialista em meteoritos do Museu de História Natural de Londres, que não esteve envolvida no trabalho de Cartier. O museu tem dez aubrites em sua coleção.
No Ar: Pampa Na Tarde