Quarta-feira, 27 de Novembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 6 de agosto de 2023
Wanessa Camargo se viu paralisada, há alguns dias, enquanto percorria uma trilha na Chapada dos Veadeiros, em Goiás, em meio a um desfiladeiro. Foi de repente. Apavorada diante da altura elevada, permaneceu imóvel durante longos minutos no meio do caminho, desejando que alguém a pinçasse dali. Até que observou desconhecidos passando por ela e seguindo o trajeto normalmente. Procurou respirar fundo, com calma.
“Estou num processo de cura que leva uma vida inteira” — diz, sobre constantes ataques de pânico e crises de ansiedade. “A liberdade é fruto de um processo, e só entendi isso agora.”
O tal “processo” preenche, sem rodeios, as entrelinhas de seu novo álbum, “Livre”, que batiza a turnê inédita da cantora.
Dividido em três partes (a última sai no dia 30), o disco é um retrato em alta resolução da mulher de 40 anos que, de 2021 pra cá, reconhece no espelho outra pessoa. As mudanças são várias, como a própria indica: ela deu fim ao casamento de 15 anos com o empresário Marcus Buaiz, com quem teve os filhos João Francisco, de 9 anos, e José Marcus, de 11; reencontrou um amor da juventude e assumiu namoro com o ator e cantor Dado Dolabella; colocou os pés na terra e se embrenhou por cachoeiras; mergulhou num intenso processo terapêutico para encarar os constantes ataques de pânico e crises de ansiedade; e tomou as rédeas da carreira, sem se fixar em sugestões de produtores, que chegaram a convencê-la, sete anos atrás, a dar uma rápida (e frustrada) guinada do pop ao sertanejo.
“O fio condutor de meu novo trabalho é a minha história: uma mulher em busca de si mesma e da liberdade para ser quem é, agindo conforme o coração. Trago algo completamente autobiográfico, mas não só sobre mim. Isso tem a ver com o que todo mundo busca na vida” argumenta.
Pior inimigo
O trampolim para que embarcasse, enfim, no que ela define como “jornada de autoconhecimento” foi um grave quadro de transtorno do pânico, que se intensificou na pandemia. Ela conta que, devido à doença, se sentiu “presa” — e sem ação — por muito tempo.
“Fui ao fundo do poço. Vivi um medo absurdo. E precisei me salvar. O pânico, meu pior inimigo, foi o que me fez falar: ‘Agora ou é a a morte ou é aprender a reconstruir a vida’”, ela rememora. “O amor-próprio me trouxe a cura. Não é que eu diga: ‘Ai, sou perfeita e maravilhosa!’. Olho para mim com mais cuidado, aceitando minhas dificuldades.”
As canções do álbum pop “Livre” foram quase todas compostas em julho de 2022, à beira de cachoeiras e rios em Alto Paraíso, na Chapada dos Veadeiros, onde morava Dado Dolabella, que recentemente se mudou para São Paulo. A artista teve a colaboração, nesse período, de colegas como as cantoras Bibi, Amanda Coronha e Mayra:
“Desta vez, fiz tudo da maneira que queria, num lugar sincero. Só abri meu coração. Sei que daqui a dez, 20 ou 30 anos essas músicas falarão com alguém. Elas não foram pensadas para um momento específico. Foram pensadas para um eterno”, defende.
Boca do povo
O discurso firme não esconde um porém: a despeito das asas abertas, é impossível dar de ombros para o que os outros pensam, ela admite. Feliz da vida com o romance com Dolabella, Wanessa lamenta que ainda seja alvo de julgamentos.
“Não ligo o ‘foda-se’ e está tudo bem. Não! É triste ver fofocas mentirosas, como se as pessoas estivessem dentro da minha vida. Em quase 23 anos de carreira, criei uma casca grossa”, afirma. “Troco muito com Dado sobre tudo. Dou pitaco nas coisas dele, e ele nas minhas. E assim vamos juntos. É outra relação agora! Não tem nem comparação com o que vivemos no passado. Éramos outras pessoas na adolescência. De lá pra cá, a gente foi se reconstruindo na vida.”
E o que o pensa o sertanejo Zezé Di Camargo sobre este atual momento da filha? Diante da pergunta, Wanessa sugere que, sim, o pai cultiva opiniões opostas do que ela acredita acerca de temas variados. Mas que ambos preferem “se entender na diferença”.
“Quando a gente ama alguém de verdade, a gente sempre vê a luz da pessoa. Não são opiniões divergentes sobre a vida ou pensamentos políticos distintos que me deixam decepcionada. Tenho um prisma sobre empatia, que é o seguinte: assim como quero ser respeitada na minha liberdade de ser e de agir, é assim que quero fazer com as pessoas que amo. Aprendi isso com minha mãe e meu pai desde criança”, destaca.
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