Quarta-feira, 27 de Novembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 18 de abril de 2023
As redes sociais estão repletas de receitas supostamente infalíveis para acabar com a gordura abdominal e reduzir a cintura em tempo recorde. Quase todos partem do mesmo princípio: acelerar o metabolismo, uma espécie de alquimia biológica que, em teoria, pode se tornar realidade com uma série de truques como abandonar o álcool, desenvolver hábitos saudáveis de sono, caminhar durante pelo menos meia hora por dia, controlar os níveis de stress, moderar consumo de açúcar e fazer exercícios aeróbicos com alguma frequência, entre outros.
A maioria dessas prescrições informais, no entanto, é acompanhada por uma cláusula em letras miúdas: “lembre-se de que, após os 40 anos, o metabolismo não se acelera facilmente”.
O que pode parecer à princípio uma “barreira metabólica” e um “obstáculo implacável”, não é bem assim. Estudos recentes do tema e especialistas desmistificam a máxima de que os anos são um impedimento para reduzir a gordura ao se debruçarem sobre a questão dos maus hábitos. Além disso, eles também enfatizam que alguns tipos de “expansão horizontal” ou até mesmo obesidade moderada podem ser benéficos para a saúde.
Até aqui, o mito da desaceleração metabólica tem afligido o ser humano assim que ele se aproxima da dita “meia-idade”. A boa notícia é que aparentemente se trata mesmo disso: um mito. Ele, no entanto, é tão persistente, que acabamos transformando-o em uma profecia autorrealizável. A chegada da chamada meia-idade é atribuída à suposta “preguiça” do metabolismo, isto é, àquela tendência de ganhar peso.
A partir dos anos 60, um novo abrandamento, desta vez bastante acentuado, que costuma ser o prelúdio das doenças da velhice. No entanto, um estudo cujas conclusões foram publicadas na revista Science em agosto de 2021 e que foi citado em vários meios de comunicação desde então mostrou que a taxa metabólica permanece surpreendentemente estável entre os 20 e os 60 anos. Ou seja, não acelera ou desacelera significativamente durante as décadas intermediárias da vida adulta. Nem mesmo para as mulheres que atingem a menopausa, o grupo demográfico mais frequentemente creditado com um “período de meia-idade” devido a causas metabólicas.
Os autores do estudo, com base em uma amostra de 6.400 pessoas de 29 países diferentes, acreditam que “esses dados nos ajudarão a entender melhor os processos de formação, crescimento e envelhecimento do ser humano e a desenvolver estratégias eficazes e coerentes de nutrição e saúde”. Ou seja, que não sejam baseadas em mitos.
James Gallagher, editor da BBC News Health and Science, explica que “o corpo humano parece passar por quatro fases metabólicas claramente diferenciadas”: Como aponta Tom Sanders, do King’s College London, análises científicas sugerem que por volta dos 40 anos “nada particularmente significativo” acontece do ponto de vista da taxa metabólica. Nem a queda do estrogênio feminino nem o declínio da testosterona masculina fazem com que nosso corpo abandone a via rápida e embarque em uma espécie de ataque que nos faça ganhar peso.
Maus hábitos
Segundo Sara Novak, editora da revista New Scientist, uma vez descartado o falso culpado, é hora de interrogar novamente os suspeitos de sempre. Aquele anel de gordura ao redor da barriga ou abdômen que alguns chamam de “a outra curva da felicidade” se deve “ao que é (quase) sempre: maus hábitos, como falta de exercícios e má alimentação”.
Nada de anormal acontece com o nosso metabolismo. A resposta permanece intacta na maioria dos casos, e é por isso que perder os quilos extras é metabolicamente tão fácil aos 45 quanto aos 25. O que talvez seja muito mais complicado, na opinião de Sara, é “adotar um estilo de vida saudável em um momento em que a inércia cotidiana e os maus hábitos estão profundamente enraizados e conspiram para evitá-lo”.
Ou seja, voltar à academia para fazer exercícios aeróbicos intensos é, por exemplo, muito mais difícil quando você já passou dos 40 anos, está imerso em uma rotina agitada e sente que deixou de ser dono do seu tempo.
Mais do que uma desaceleração do metabolismo, valeria a pena falar de estilos de vida acelerados e de seres humanos cansados de tanto trabalho. Nas palavras de Sanders, pode-se argumentar que a “epidemia de obesidade” que está ocorrendo entre pessoas com mais de 40 anos nos países de “desenvolvidos” “é impulsionada pelo consumo excessivo de energia alimentar e uma redução paralela no gasto de energia”.
Outra linha de interpretação, complementar à anterior, é a que estabelece uma conexão entre as duas curvas da felicidade: a psíquica e a que nos faz não caber nas próprias calças. Um estudo conduzido pelo economista britânico David G. Blanchflower, da Universidade Americana de Dartmouth, estabeleceu que o grau de felicidade subjetiva das pessoas depende, em grande parte, da idade.
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