Quinta-feira, 28 de Novembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 27 de novembro de 2024
Os áudios do general de brigada Mário Fernandes apreendidos pela Polícia Federal (PF) na Operação Tempus Veritatis – investigação sobre tentativa de golpe de estado no governo Jair Bolsonaro – revelam o esforço que o ex-secretário-executivo da Presidência, preso no dia 19, empreendeu para concretizar a ruptura democrática.
Os arquivos que subsidiaram a Operação Contragolpe – inquérito sobre o plano para assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu vice Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) – registram a indignação do general com o resultado das urnas e o tom que ele usava para tentar mobilizar colegas de farda em torno do golpe – com direito a palavrões e piadas.
Quando foi intimado a depor na Tempus Veritatis, em fevereiro, o general escolheu ficar em silêncio até que tivesse conhecimento dos detalhes do inquérito. Nove meses depois, Fernandes foi preso na Operação Contragolpe.
Os áudios mostram até como o general evocava o golpe de 1964 – o qual abriu a ditadura militar – durante as reflexões sobre como viabilizar o golpe com vistas a manter Bolsonaro no poder. A via, segundo o general, era o “clamor popular”, uma sugestão que acaba conectando o inquérito da Tempus Veritatis com os atos golpistas do 8 de Janeiro.
Fernandes é apontado como o autor do plano “Punhal Verde e Amarelo”, que previa envenenar Lula e eliminar Moraes com uma bomba. Também foi com ele que os investigadores encontraram a minuta de um gabinete de crise de militares que seria instalado após a ruptura democrática.
Mensagens encaminhadas por Mário Fernandes ao coronel Marcelo Câmara, ex-assessor de Bolsonaro, no início de novembro. O general chamava o aliado do ex-presidente de “Caveira”. Nos áudios, Fernandes diz que sugeriu a Bolsonaro mudar o ministro da Defesa e brada: “Qualquer solução, Caveira, tu sabe que ela não vai acontecer sem quebrar ovos, né, sem quebrar cristais. Então, meu amigo, parti pra cima, apoio popular é o que não falta.”
Em conversa mantida entre Fernandes e o tenente-coronel Mauro Cid em 8 de dezembro, o general narra uma conversa com o então presidente sobre o suposto golpe e diz que “tem procurado orientar tanto o pessoal do agro como os caminhoneiros que estão em frente ao QG”.
No dia 4 de novembro, Fernandes tentou pressionar o general Luis Eduardo Ramos para que ele desse uma “forçada de barra com o alto comando”, para que o relatório do Ministério da Justiça sobre as eleições estivesse em linha com a live de um marqueteiro argentino (estrategista do presidente Javier Milei) contra as urnas eletrônicas”. Fernandes alega que “tá na cara que houve fraude” e defende que o material seja divulgado “para inflamar a massa”.
“Pra que ela se mantenha nas ruas, e aí sim, porra, talvez seja isso que o alto comando, que a defesa (o ministério da Defesa) quer. O clamor popular, como foi em 64. Porque como o senhor disse mesmo, porra, boa parte do alto comando, pelo menos do Exército, não tá muito disposto, né. Ou não vai partir pra intervenção, a não ser que, pô, o start seja feito pela sociedade, porra. Pô, general, reforça isso aí”.
Entre os dias 14 e 15 de novembro, Fernandes pediu a Ramos que “blindasse o presidente contra qualquer desestímulo, qualquer assessoramento diferente” vez que “fontes” haviam sinalizado que “o comandante da Força foi ao Alvorada para sinalizar ao presidente que ele podia dar ordem” – supostamente, de golpe.
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