Sexta-feira, 22 de Novembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 19 de agosto de 2024
No ano passado, a autoridade máxima em saúde pública dos Estados Unidos, Vivek Murthy, publicou um relatório que deixa claro que não há “evidências suficientes para determinar se as redes sociais são suficientemente seguras para crianças e adolescentes”. A manifestação é importante – outras do tipo, como a que destacou os riscos do tabagismo, tiveram profundo impacto na forma como a sociedade enxerga o tema.
Dois meses depois, um relatório da Unesco destacou os efeitos nocivos das telas no desempenho dos alunos. O documento mostrou que 1 em cada 4 países já tem regras para restringir o uso de celulares nas escolas.
Os alertas trazem à tona um debate que ganha ares de urgência por entidades médicas e de proteção da infância e da adolescência. Afinal, quais os riscos e o que deve ser feito para reduzir o uso de telas e redes sociais entre os mais jovens?
Os jornais que integram o Grupo de Diários América (GDA), do qual O GLOBO faz parte, fizeram um mergulho no tema nos últimos meses, ouvindo especialistas, famílias, escolas e autoridades de 12 países latino-americanos. O resultado você pode ler abaixo:
Riscos
Daniel Becker, pediatra, sanitarista e professor do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), explica que muito ainda vai ser desvendado sobre esses efeitos com o tempo, mas que as pesquisas na última década já revelam impactos nocivos que vão desde problemas na cognição até riscos pelo conteúdo que se dissemina nas redes:
“O que sabemos hoje é péssimo. Distúrbios cognitivos, perda de aprendizado, comportamentos alterados, sedentarismo, miopia explodindo, fraqueza muscular, sono perturbado, isolamento social progressivo. Tudo isso agravado pelos riscos de ideologias extremistas, publicidades nocivas, comparação constante com os outros, promoção de dietas malucas, fake news, golpes, pedófilos, tudo que circula sem freio nas redes.”
Neste mês, uma revisão de 12 estudos que avaliaram adolescentes de 10 a 19 anos por meio de exames de ressonância cerebral, conduzida por pesquisadores do University College of London, no Reino Unido, mostrou que aqueles com dependência em internet sofrem alterações no cérebro e mudanças de comportamento associadas à capacidade intelectual, coordenação física, saúde mental e desenvolvimento.
De acordo com o especialista peruano em psicologia de vícios Miguel Vallejos Flores, o vício nas redes sociais e o uso prolongado de dispositivos eletrônicos podem alterar a química cerebral, causar mudanças no comportamento e resultar em uma dependência psicológica significativa. Esses vícios tecnológicos estariam relacionados à busca por gratificação instantânea e interação social.
Abril María Arias Taveras, psicóloga clínica, terapeuta familiar e ex-presidente do Colégio Dominicano de Psicólogos, na República Dominicana, afirma que já chegou a presenciar o descontrole dos esfíncteres, ou seja, crianças fazendo suas necessidades fisiológicas na cadeira para não deixar os aparelhos. Ela lista agressividade, distúrbios do ciclo do sono, déficit de atenção e deficiências visuais, como problemas que vê em seu consultório devido ao uso excessivo de aparelhos. Também tratou de casos de crianças que agrediram seus familiares quando estes decidiram retirar seus aparelhos.
Além disso, surgem cada vez mais relatos de mau uso por crianças e adolescentes, que muitas vezes parecem não ter a dimensão dos impactos causados pelas ferramentas que têm em mãos.
No Peru, em 2023, um grupo de estudantes do colégio privado St. George’s College modificou com inteligência artificial fotos e vídeos das redes sociais de suas colegas para transformá-los em material pornográfico, que foi vendido por até 8 dólares.
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