Segunda-feira, 25 de Novembro de 2024

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Há anos as mudanças climáticas são sentidas e há notícias de recordes de calor, além de eventos climáticos atípicos. Geralmente as tragédias são localizadas e muito pouco se investe na compreensão dos fenômenos de um mundo em transformação, preferindo-se contar com a sorte e a esperança de que o revés restrinja-se a outros locais que não exatamente aquele em que moramos.

A catástrofe climática que se abate sobre o estado do Rio Grande do Sul muda o paradigma, trazendo mortes, desespero e sofrimento humano em escala maior, impactando uma população aproximada de sete milhões de habitantes em mais de 350 municípios do estado. Em alguns deles o resultado foi a destruição quase que total de cidades e propriedades rurais.

A busca pela causalidade do evento deve suceder imediatamente ao resgate das vítimas e o investimento na reconstrução do estado. Se não formos capazes de aprender com o desastre, estudando modelos e formas para minimizar os riscos e danos à população, vamos seguir à mercê do desconhecido de uma natureza em transformação hostil.

Neste sentido, mesmo sem ser técnico na área, mas um apaixonado pela ciência e pela etiologia, me debrucei sobre artigos que versam sobre a hidrologia dos sistemas da região e o impacto de intensa pluviosidade associada a outros fatores climáticos e geográficos.

Ao analisar a imagem do sistema hidrológico composto pelo Lago Guaíba e seus afluentes, assim como a Laguna dos Patos, se verifica a existência de um estuário onde convergem vários rios com uma significativa contribuição hídrica, que abastecem dois sistemas em sequência, sendo que em ambos a porção terminal possui um ponto de estrangulamento, assemelhado ao formato de um funil. E o funil se sobrecarrega e represa o escoamento de um corpo líquido, em caso de
alta demanda volumétrica em curto espaço de tempo. Pondere-se inclusive que o vertedouro do sistema lacunar ao oceano foi modificado, com viés de restrição de desembocadura, adotando-se molhes entre a praia do Cassino e o município de São José do Norte, para delimitar o canal de acesso ao Porto de Rio Grande. Se isto outrora funcionou relativamente bem, deveríamos avaliar se o modelo é compatível com os novos desafios climáticos atuais.

Alguns estudos demonstram sobrecarga nos canais de desaguadouro, tanto do Lago Guaíba quanto da Laguna dos Patos, quando há alta vazão afluente. Outros fatores como direção dos ventos podem afetar o escoamento das águas e, dependendo desta associação dos fatores de
alta precipitação na bacia, sentido dos ventos e velocidade de deslocamento, pode haver represamento de água nos sistemas.

Com todo o exposto, questiono se alguns locais como as ilhas de Porto Alegre e cidades adjacentes ao sistema deveriam ter maiores recursos de barreira ou mesmo impedimento na construção por expor populações, sobretudo as mais carentes, a risco elevado de morte.

Adicionalmente reflito se a capacidade técnica empregada para exploração oceânica de petróleo não inclui algum aparato e/ou tecnologia capaz de oferecer o recalque de alta vazão ao oceano (visto que a distância entre a Laguna dos Patos e o Oceano Atlântico é cerca de 15km em alguns pontos), capaz de ser operada previamente em dias antes de um evento climático adverso previsto, assim como uma espécie de esvaziamento profilático para acolher uma demanda de
alto índice pluviométrico.

Por fim, gostaria de ver a engenharia se debruçar, com análises de impacto ambiental, na viabilidade de um canal entre o oceano e a laguna dos Patos, que trabalhe com sistema de comportas e possibilite tanto escoadouro mais rápido de água quanto prover outro acesso ao
porto de Porto Alegre.

Eduardo Boger 

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