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Por Redação Rádio Pampa | 18 de junho de 2022
O professor Teppo Sarkamo estuda como o envelhecimento afeta o processo cerebral do canto, ou o que pode ter importantes aplicações terapêuticas. Sarkamo explica que sabem muito sobre processamento de fala, mas não tanto sobre canto. E estão estudando o fato de certas funções relacionadas ao canto serem preservadas em pessoas com muitas doenças neurológicas.
Expressar-se pode ser uma tarefa quase impossível para pessoas com afasia, uma doença geralmente causada por um derrame que afeta seriamente a capacidade de se comunicar, pois é muito difícil para essas pessoas articular as palavras corretas. No entanto, a aplicação de uma técnica conhecida como “terapia de entonação melódica”, que consiste em pedir à pessoa que cante uma frase habitual em vez de dizê-la, surpreendentemente consegue fazer as palavras saírem.
Sarkamo é o coordenador do projeto PREMUS e, em conjunto com a sua equipe, utiliza métodos semelhantes e aumenta esta estratégia com a criação de “coral de idosos”, especificamente dirigidos a pacientes com afasia e seus familiares. Os cientistas também estão explorando o potencial do canto como uma importante ferramenta de reabilitação em casos de afasia e talvez também para prevenir a queda cognitiva.
Notas adequadas
O estudo PREMUS é realizado em coordenação com uma associação local de Helsínquia dedicada à afasia e envolveu vários coros, cada um composto por cerca de 25 pessoas com afasia e seus familiares que são responsáveis por seus cuidados. Os resultados dos testes realizados são promissores.
“Em última análise, o objetivo do nosso trabalho com pessoas com afasia é usar o canto como uma ferramenta para exercitar a produção da fala e eventualmente comunicar-se sem a necessidade de cantar. No entanto, nos coros estamos vendo o efeito que essa intervenção tem no dia a dia das pessoas como uma ferramenta essencial de comunicação”, diz Sarkamo.
Além do coro de pessoas com afasia, a equipe fez um grande número de ressonâncias magnéticas funcionais (fMRI) do cérebro de jovens, de meia-idade e idosos que cantam em corais para descobrir por que essa atividade é tão importante em diferentes fases da vida. Os resultados indicam que, com a idade, as redes cerebrais envolvidas no canto sofrem menos alterações do que as responsáveis pela fala, o que parece indicar que o canto tem um efeito mais global sobre o cérebro e sofre menos deterioração com a idade.
Seus estudos também mostram que é fundamental cantar ativamente e não apenas ouvir música coral, por exemplo.
“Quando você canta, os sistemas frontal e parietal do cérebro, responsáveis por regular o comportamento, são ativados, e mais recursos motores e cognitivos associados ao controle verbal e funções executivas são utilizados”, diz Sarkamo.
Resultados iniciais de um estudo longitudinal comparando a função neurocognitiva de membros seniores do coral e outros idosos saudáveis (que não cantavam) mostram os efeitos positivos do canto na função cognitiva e auditiva e a importância da interação social associada a essa atividade, o que poderia retardar o início da demência.
Os membros do coral tiveram melhor desempenho em testes neuropsicológicos, relataram menos dificuldades cognitivas e desfrutaram de maior integração social. Eletroencefalogramas realizados nos mesmos grupos indicam que os membros do coral possuíam capacidades de processamento auditivo de alto nível mais avançadas que lhes permitiam, em particular, combinar informações sobre tom e localização nas regiões frontotemporais do cérebro, algo que Sarkamo atribui à complexidade do o ambiente sonoro que ocorre em um coral.
O próximo passo será reproduzir e estender este trabalho com coros de idosos diagnosticados com Alzheimer, bem como desenvolver um ensaio clínico em larga escala para testar os efeitos. No entanto, as dificuldades são provavelmente diferentes no caso da doença de Alzheimer: os pacientes podem se lembrar de músicas do passado, mas Sarkamo não tem certeza de que eles possam aprender e lembrar novas letras.
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