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Por Redação Rádio Pampa | 23 de janeiro de 2022
O secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Hélio Angotti Neto, assinou uma nota técnica, no fim de semana, que diz que as vacinas contra a covid-19 não possuem efetividade e nem a segurança demonstradas nos ensaios. Angotti Neto afirma ainda que a hidroxicloroquina, sim, possui eficácia e segurança contra o coronavírus.
A posição vai na contramão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), autoridade máxima sanitária do Brasil e também contraria a posição das principais entidades e autoridades em saúde do mundo, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Food and Drug Administration (FDA), dos Estados Unidos e a Agência Europeia de Medicamentos (EMA).
Além das agências atestarem a eficácia e segurança da vacina, todas contra-indicam o uso de medicamentos do kit covid, como cloroquina, ivermectina e hidroxicloroquina contra a covid. Atualmente, outras substâncias como prednisona e ibuprofeno, por exemplo, são indicadas para o tratamento de covid.
Angotti Neto ainda criticou o protocolo da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec). Segundo ele há uma discrepância no ‘’rigor científico’’ para diferentes métodos de tecnologia. Ou seja, segundo o secretário, a Anvisa teria sido extremamente exigente para avaliar o uso do kit covid e permissiva com relação à aprovação da vacina. “A hidroxicloroquina sofreu avaliação mais rigorosa do que aquela feita com tecnologias diferentes”, publicou no documento.
O secretário disse ainda que a decisão do Conitec em assinar parecer contra o kit covid foi devido um ‘’grande tumulto que pode ter pressionado membros da Conitec”.
Após a divulgação da nota técnica, o secretário Hélio Angotti Neto foi convocado para prestar esclarecimentos sobre a informação na Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal.
Evolução
Especialistas entendem que era até compreensível usar a hidroxicloroquina nos momentos iniciais da pandemia, em meados de março, abril e maio de 2020 — afinal, os médicos estavam tateando no escuro e lidavam com uma doença sobre a qual não havia experiência nenhuma.
A partir de junho e julho do mesmo ano, porém, começaram a ser publicados estudos mais robustos a respeito do tema. Eles mostravam que esse remédio realmente não funcionava em qualquer estágio da doença, seja antes do início dos sintomas, seja no leito de uma UTI.
“Atualmente, temos uma enorme quantidade de evidências mostrando que a hidroxicloroquina não é efetiva como tratamento da doença nos quadros graves, nos leves ou como profilaxia, para impedir que o vírus invada nossas células”, afirma a pneumologista brasileira Letícia Kawano-Dourado, que faz parte do painel da Organização Mundial da Saúde (OMS) que desenvolve diretrizes de tratamento contra a covid-19.
De meados de 2020 para cá, vários estudos foram publicados a respeito do tema. Um dos mais importante deles foi feito no Reino Unido e é conhecido como Recovery Trial. Numa análise de mais de 4.500 pacientes hospitalizados, o uso de hidroxicloroquina e azitromicina não trouxe benefício algum.
O mesmo resultado foi observado na pesquisa da Coalizão Covid-19 Brasil, com cerca de 500 voluntários brasileiros com a infecção pelo coronavírus em estágios leves ou moderados. Mais uma vez, a dupla de fármacos não mostrou o efeito desejado.
Além disso, os tratamentos testados foram associados a efeitos adversos mais frequentes, principalmente aumento do chamado intervalo QT, um sinal de maior risco para arritmia detectado por eletrocardiograma; e aumento de enzimas TGO/TGP no sangue, alteração que pode indicar lesão no fígado.
Segundo documento da Sociedade Brasileira de Infectologia, outros efeitos adversos são retinopatias, hipoglicemia grave e toxidade cardíaca. E outros efeitos colaterais possíveis são diarreia, náusea, mudanças de humor e feridas na pele.
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