Sábado, 23 de Novembro de 2024

Home Cultura Impressões 3D ajudam a restaurar acervo do Museu Nacional após o incêndio

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Após o incêndio que atingiu o Museu Nacional, em 2018, amuletos e peças raras egípcias passaram a ser resgatadas dos escombros. Muito se perdeu, mas também há muito para se recuperar. O laboratório do museu, que trabalha desde 2003 com tecnologia digital, agora também faz impressões 3D de protótipos que são usados no lugar de peças que foram danificadas pelo fogo, enquanto estão em restauração, ou que se perderam totalmente.

A coleção egípcia do Museu Nacional contava com cerca de 700 peças. De acordo com o arqueólogo Pedro Luís Von Seehausen, foram resgatadas mais de 300 peças. “Com o impacto do incêndio, pensamos que tudo se perdeu e que não havia mais solução. Mas a gente já começou a pensar também na possibilidade de algumas peças terem se salvado”, disse Pedro. “Uma alternativa na minha cabeça era: trabalhar em um projeto, resgatando peças da coleção. Algumas resistiram ao incêndio, principalmente aquelas feitas de rocha e metal, como os amuletos. Tínhamos essa noção”, completou.

Segundo Pedro, o que foi não foi recuperado não significa que tenha se perdido totalmente. Muitas peças ficaram fragmentadas, algumas em até 80 pedaços. No entanto, com um trabalho minucioso, há possibilidade de ser restaurada. “O número de peças resgatadas pode aumentar muito, tudo depende da capacidade do restauro. A sorte é que temos profissionais de excelência, formados pelo próprio museu”, declarou.

O incêndio de 2018 destruiu o caixão de madeira e os restos da sacerdotisa egípcia Sha-Amum-em-Su, mumificada há 2.700 anos. O interior do sarcófago estava lacrado desde então, sendo revelado somente pelas chamas do fogo. No entanto, os oito amuletos que estavam em seu interior e que nunca tinham sido vistos antes não foram atingidos. Entre eles, o chamado escaravelho-coração. A sacerdotisa, que era cantora de Amon, havia sido dada de presente pelo rei do Egito na época, Kediva Ismail, para D. Pedro II. De acordo com Pedro, ela foi dada junto com outras peças e umas edições do “description de l’egypte”, um dos primeiros livros sobre o Egito antigo publicado.

“Os egípicios acreditavam que, ao morrer, ocorreria um julgamento com 42 perguntas. Entre elas, desde se você cometeu algum homicídio ou se falou mal de alguém. O escaravelho-coração era um amuleto, em forma de besouro, que deixaria o seu coração mais leve no momento do julgamento”, explicou Pedro.

Além dos amuletos de Sha-Amum-em-Su, também foi resgatado a única representação do sacerdote de Amon Menkheperre como um faraó, estatuetas de servidores funerários e estelas, que eram blocos de rocha calcário similares a lápides funerárias.

Com algumas peças fragmentadas, o uso da impressora 3D se viu como necessário. “Tem peças que faltam algumas partes que não serão recuperadas, então a gente consegue alinhar o modelo antes e imprimir na base acrílica o formato que falta. Podemos imprimir próteses para restaurar essas peças que foram perdidas”, explicou Pedro. “É muito importante termos o 3D, porque a gente consegue pensar na possibilidade de restauro. Claro que queremos deixar as peças novas, mas as que ficaram fragmentadas ou se perderam com o incêndio, podem ser expostas com o seu protótipo ou uma prótese para completar a estrutura”, comentou. “Tem peças que perdemos para sempre, mas temos as suas versões digitalizadas, então podemos fazer uma réplica com a impressão 3D ou colocá-las em uma exposição de realidade virtual, por exemplo”, finalizou.

Mesmo com as diversas peças perdidas no incêndio, a vantagem é que elas eram digitalizadas. De acordo com Sérgio Alex, professor Titular do Museu Nacional/UFRJ, as principais peças do Museu Nacional tinham sido digitalizadas e suas informações foram resguardadas nos arquivos digitais. “Em alguns casos, essas peças podem ser replicadas ou trazidas de volta no ambiente virtual através da realidade virtual”, explicou.

Uma seleção está sendo feita das peças que serão fundamentais serem restauradas. “Muitas vão poder voltar no estado que estão, mesmo após o incêndio, outras tratadas de uma maneira mais próxima e outras foram perdidas totalmente, a não ser que sejam prototipadas ou através do meio virtual. Outras, não tinham nem arquivo ou sequer informações, essas vão ficar perdidas para sempre”, afirmou Sérgio.

A coleção egípcia do Museu Nacional era a maior da América Latina e, mesmo após o incêndio, continua sendo a maior.

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