Sábado, 23 de Novembro de 2024

Home Variedades “Influencers do lixo”: os brasileiros que fazem sucesso mostrando o que americanos jogam fora

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A fila dava volta no Parque Villa Lobos, área nobre de São Paulo, em uma tarde de junho. Depois de minutos de espera, algumas pessoas choravam de emoção pela chance de encontrar a youtuber brasileira Adeline Camargo, que mora nos Estados Unidos e virou uma referência em vídeos de dumpster diving.

A expressão em inglês significa “mergulhar na lixeira” – e quer dizer isso mesmo: pessoas que entram e vasculham caçambas de lixo em busca por produtos em boas condições e até novos que são descartados pelos americanos.

“Sei que muita gente quer uma lembrancinha do dumpster”, registra no vídeo Adeline, que trouxe para o encontro no Brasil dezenas de produtos que ela encontrou assim para sortear entre os seguidores. São maquiagens, bolsas, objetos de decoração, entre outros.

O encontro em São Paulo reflete o fenômeno entre brasileiros ávidos por vídeos sobre o lixo dos Estados Unidos. São dezenas de canais no YouTube e perfis no Instagram, alguns de famílias inteiras, que mostram essa prática comum no país.

“Os brasileiros ficam muito curiosos, porque os americanos esbanjam muita coisa, é um desperdício que te deixa alucinado. Tem muita coisa nova”, diz Alessandra Gomes, capixaba que também se filma “mergulhando” no lixo, no Estado de Massachusetts. Ela já recolheu edredons, sofás, mesas e muita comida.

Nos Estados Unidos, de forma geral, a atividade não é ilegal, mas navega em uma zona cinzenta. Em 1988, no caso que ficou conhecido como California contra Greenwood, a Suprema Corte do País decidiu que não há “privacidade” no lixo deixado na calçada. Mas regras específicas em Estados e cidades sobre a questão das lixeiras podem se sobrepor.

A atividade, por exemplo, pode ser considerada ilegal se envolver invasão de propriedade privada, se houver alguma placa indicando que é proibido mexer ou a lixeira estiver fechada com algum cadeado. Entrar nessas áreas sem permissão pode resultar em acusações de invasão. Também pode haver denúncias sobre incômodo público ou risco à segurança na atividade.

Nos vídeos gravados pelos brasileiros, em geral, não é possível saber se eles invadiram propriedades ou se desrespeitaram proibições. Ao menos uma destas pessoas disse que já foi detida pela polícia após uma loja denunciá-la e precisou pagar fiança e passar por uma audiência na Justiça.

Pegos no flagra

Vídeos que mostram os brasileiros sendo “pegos no flagra” acumulam muita audiência – na maioria, são funcionários de lojas que pedem para eles saírem ou simplesmente permitem que continuem. “Já fui flagrado pela polícia algumas vezes”, diz André da Silva, de 49 anos, que se mudou do Rio de Janeiro para Rhode Island há 23 anos e hoje tem mais de 300 mil seguidores apenas no Facebook com seus vídeos. “Mas, em geral, só perguntam o que estou fazendo, e eu explico que gravo vídeos. Eles ficam até chocados com as coisas que encontramos.”

Apesar do fenômeno recente nas redes sociais em países como Brasil ou El Salvador, a atividade faz parte da rotina de americanos há décadas, explica Jeff Ferrell, sociólogo e professor emérito da Universidade Cristã do Texas (TCU, na sigla em inglês) que, há 50 anos, se debruça sobre o fenômeno – seja como pesquisador ou “mergulhando” ele mesmo em lixeiras.

Autor do livro Empire of Scrounge: Inside the Urban Underground of Dumpster Diving, Trash Picking, and Street Scavenging (Império dos catadores: dentro do submundo urbano da busca em lixeiras, coleta de lixo e garimpagem na rua, em tradução livre), ele passou oito meses sobrevivendo apenas com o que achava no lixo.

Ferrell explica que o perfil de “mergulhadores” de lixeiras é variado. Alguns, como ele, são movidos por ideologia. Podem ser os chamados freegans, que por princípio de vida boicotam o consumo e sobrevivem com o que é descartado, ou organizações de caridade que distribuem esses bens e comida a moradores de rua ou necessitados.

“Muitas pessoas acreditam em uma redistribuição de recursos. Isso é tirar dos ricos e dar para os pobres, porque o lixo dos ricos em geral tem coisas de muita qualidade, coisas que ainda são muito úteis”, diz o pesquisador. Mas os imigrantes, na maioria sem os documentos necessários para residir nos Estados Unidos, diz Ferrell, também sempre formam um grupo relevante nessa caça ao tesouro nas lixeiras. As informações são do G1.

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