Quinta-feira, 28 de Novembro de 2024

Home em foco Instagram se torna “passaporte da vacina” no Brasil

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Se você não tem um registro no Instagram do momento em que recebeu alguma dose da vacina contra a covid-19, pode se considerar um verdadeiro eremita digital. Ao longo de 2021, as redes sociais foram inundadas de fotos celebrando a chegada dos imunizantes.

Porém, as imagens de agulha no braço, da carteirinha de vacinação e da alegria com personalidades e funcionários da saúde – como o Zé Gotinha – se tornaram mais do que uma publicação: elas estão sendo usadas para entrar em estabelecimentos e eventos na retomada das atividades. O Instagram virou o verdadeiro “passaporte da vacina” no País.

A estratégia já foi usada pelo ator Anderson Souza, de 25 anos, para entrar em uma festa na cidade do Rio de Janeiro. Já na fila e sem conseguir baixar o app do SUS por conta de uma bateria com pouca carga, Souza tentou entrar perguntando para os funcionários na portaria se poderia mostrar a foto que tirou recebendo a vacina contra a covid-19 – e se surpreendeu por saber que a “gambiarra” era aceita.

“Achei uma ótima ideia. Consegui provar que eu estava vacinado e também pude mostrar para as pessoas na fila outra forma de conseguir entrar”, contou Souza.

Para Ludmilla Brandão, também 25 anos, a foto foi usada para entrar em um cinema de Teresina (PI). “Até baixei o aplicativo do SUS na hora, mas não foi possível cadastrar. Fiquei tentando até a hora de entrar no filme, mas não deu certo”, diz.

O “book da vacina” ganhou um empurrão extra depois que o Conecte-SUS, aplicativo do governo federal de validade da imunização, foi hackeado junto com outros sistemas do Ministério da Saúde, no dia 10 de dezembro. O ataque hacker atingiu também serviços como o Painel Coronavírus, o e-SUS Notifica, o Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunização (SI-PNI), deletando dados de pacientes de todas as plataformas.

Isso é Brasil

O “passaporte da vacina” é uma mistura de dois elementos tipicamente brasileiros: a alta adesão à vacinação e o uso intenso de redes sociais. O Instagram tem 114 milhões de usuários brasileiros, segundo a plataforma de dados Statista. Para Alexandre Inagaki, consultor de redes sociais, o uso do Instagram nada mais é do que o reflexo de uma ferramenta que a maioria dos brasileiros têm na mão.

“Isso é bem característico do Brasil. A gente postou fotos com comprovante da vacina, unindo o útil ao agradável, no caso das redes sociais. As fotos da vacinação foram a versão ‘Zé Gotinha’ daquelas selfies na academia que costumamos postar com hashtags”, afirma Inagaki.

Mesmo para quem já se beneficiou do “quebra-galho” pelo Instagram, o método parece ser uma coisa pontual, já que o governo federal e alguns governos estaduais desenvolveram carteirinhas digitais para validar a vacinação em 2021. Para ter a informação no celular, é necessário fazer o download de um dos aplicativos, como o Conecte-SUS, e cadastrar alguns dados pessoais e da dose recebida (como data e lote do imunizante).

Foi o que a Alanna Souza, 25 anos, fez, depois de usar a foto da carteirinha para entrar em uma festa em Brasília. A estudante afirmou que só usou a imagem uma vez, e logo depois baixou o aplicativo para não correr riscos na hora de comprovar a vacinação.

“Acabei descobrindo no desespero. Perguntei se eu poderia mostrar a foto, para provar que eu estava muito vacinada. Eu não sabia do app, mas passei a usar”, explica Alanna.

Além de não ser uma comprovação oficial, uma das questões levantadas sobre as publicações no Instagram está na veracidade da informação. Para Marco Aurélio Safadi, médico infectologista da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, a foto pode até ser verdadeira, mas não tem nenhum selo de garantia, o que pode influenciar na credibilidade de segurança do estabelecimento que permite a entrada por esse método.

“Evidentemente, o grau de segurança de um documento oficializado, com código de barra, é diferente de um documento que exibe apenas uma imagem. Se é só para tirar uma foto, perde-se a credibilidade desse tipo de exigência e acaba sendo uma falta de respeito com quem se preocupou em levar um certificado oficial.”

Safadi ainda afirma que, sem a obrigatoriedade do comprovante, eventos e estabelecimentos, como bares e restaurantes, até podem optar por aceitar as fotos de vacina, mas que é necessário deixar claro para os outros clientes que essa é uma das formas permitidas de comprovação.

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