Sábado, 23 de Novembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 23 de agosto de 2024
No último ato de uma Convenção Nacional que consolidou uma “frente anti-Donald Trump” no Partido Democrata, a candidata à Presidência da sigla, Kamala Harris, traçou uma linha divisória entre ela e o republicano, o apresentando como uma ameaça à democracia e às liberdades individuais. A fala, que teve a mesma energia dos discursos de campanha, trouxe referências à sua história de vida, e destacou a promessa de governar “para todos os americanos”, independente de origem ou partido.
“Em nome de americanos como as pessoas com quem cresci, pessoas que trabalham duro, perseguem seus sonhos e cuidam umas das outras. Em nome de todos cuja história só poderia ser escrita na maior nação da Terra, aceito sua indicação para Presidente dos Estados Unidos”, disse Kamala Harris, cumprindo um protocolo das convenções: aceitar a indicação para concorrer ao posto. “EUA, nós não vamos retroceder.”
A vice-presidente iniciou o discurso agradecendo ao marido, Doug Emhoff, que estava na plateia, ao atual presidente Joe Biden, e ao seu candidato a vice, Tim Walz, que fez um elogiado discurso na véspéra. Também prestou uma homenagem à mãe, Shyamala, que morreu em 2009.
“Sinto falta dela todos os dias, especialmente agora. E sei que ela está olhando para baixo esta noite e sorrindo. Minha mãe tinha 19 anos quando cruzou o mundo sozinha, viajando da Índia para a Califórnia com um sonho inabalável de ser a cientista que curaria o câncer de mama”, disse Kamala.
Para Kamala, essa é uma das eleições “mais importantes” de todos os tempos para os EUA, e que seria um grande risco à democracia permitir que Donald Trump retorne à Casa Branca. Ela lembrou o ataque ao Capitólio, no dia 6 de janeiro de 2021, quando trumpistas radicais invadiram o local para tentar reverter, através da violência, a derrota do republicano para Joe Biden.
“Imaginem Donald Trump sem barreiras de proteção, e como ele usaria os imensos poderes da Presidência dos Estados Unidos. Não para melhorar sua vida, não para fortalecer nossa segurança nacional, mas para servir ao único cliente que ele já teve: ele mesmo”, disse Kamala. “De muitas maneiras, Donald Trump é um homem pouco sério. Mas as consequências de colocar Donald Trump de volta na Casa Branca são extremamente sérias.”
Até o início de julho, como confirmaram assessores ao New York Times, o discurso de Kamala estava sendo moldado para ser o da indicação para, mais uma vez, ser companheira de chapa de Joe Biden. Mas a decisão do presidente de abandonar a disputa mudou a corrida: o pessimismo sobre a reeleição deu lugar ao entusiasmo dos apoiadores, a uma ampla coalizão e a um fluxo considerável de dinheiro. Segundo a agência Reuters, as doações, em um mês, chegaram a meio bilhão de dólares, mais de R$ 2,7 trilhões.
Criar laços com um eleitorado que, como mostram pesquisas, não a conhece tão bem pode ser uma das chaves para a vitória. Na véspera, Tim Walz, em um curto porém eficaz discurso, conseguiu se apresentar como um homem de família, como um professor que era bem quisto por seus alunos, e como um governador que jamais esqueceu sua origem no Nebraska rural. Kamala fez algo parecido.
“Quero que saibam que prometo ser uma presidente para todos os americanos. Vocês sempre podem confiar em mim para colocar o país acima do partido e de si mesma. Para manter os princípios fundamentais sagrados dos EUA, do Estado de direito a eleições livres e justas, à transferência pacífica de poder”, afirmou Kamala, ao apresentar um contraponto a Donald Trump.
Outro desafio, apontam analistas, é ser clara em suas propostas. O que fazer, por exemplo, para combater os elevados custos da alimentação, de tratamentos médicos e de moradia — pontos que estão sendo explorados por Trump —, como defender os direitos reprodutivos das mulheres e qual a visão dela para o futuro dos EUA. No discurso em Chicago, ela garantiu que os EUA “não retrocederão”, e sugeriu que o republicano, caso vença, irá promover cortes em políticas sociais.
Kamala associou a Trump decisão da Suprema Corte, em 2022, que derrubou o direito constitucional ao aborto nos EUA, e disse que políticas defendidas por ele e seus aliados podem afetar terapias de fertilização in vitro, barrando os planos de milhões de famílias de terem filhos — em seus discursos, Walz sempre lembra que sua filha, Hope, só foi gerada graças a técnicas de inseminação artificial.
“Acredito que os EUA não pode ser verdadeiramente prósperos a menos que os americanos sejam totalmente capazes de tomar suas próprias decisões sobre suas próprias vidas”, afirmou. “Mas hoje à noite, nos EUA, muitas mulheres não são capazes de tomar essas decisões. E sejamos claros sobre como chegamos aqui. Donald Trump escolheu a dedo membros da Suprema Corte dos Estados Unidos para tirar a liberdade reprodutiva. E agora ele se gaba disso.”
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