Quinta-feira, 26 de Dezembro de 2024

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O que aconteceu com Lula? Para certos analistas, o candidato do PT teria perdido um pouco a mão, o antigo charme. Derrapou numa sequência de declarações inábeis, polêmicas, que além de não acrescentarem nada, reduziu o favoritismo projetado nas pesquisas eleitorais.

Uma coisa é certa: Lula não tem sido capaz de trazer ao cenário um sopro, uma aragem de novidade ao seu discurso e à sua prática política. Dizem que ele estava jogando parado. Só que ele parou lá atrás, dando voltas em torno de teorias envelhecidas, contidas no baú das esquerdas – é como se as demandas atuais e presentes pudessem ser enfrentadas com as mesmas armas e palavras de ordem do século passado.

As esquerdas têm milhares de “pensadores”, principalmente na academia, nas universidades. Mas não conseguem dar um único passo para sair do atoleiro das suas crenças e dos seus dogmas. Com milhares de dissertações de mestrado e doutorado, com a suposta capacidade de interpretar o mundo, porém não são capazes de criar e operar minimamente, nas redes sociais, um contraponto razoável face ao adversário bolsonarista.

Nas redes sociais o domínio é do bolsonarismo – pandemônio de razões primárias, vulgaridade, torpeza e insanidade. O bolsonarismo trouxe à lume, do buraco negro onde estavam, milhões de personagens, meio excluídos do debate nacional, insensíveis ou insatisfeitos com o estado geral das coisas – de repente alguém lhes ofereceu um palco para expôr seus desenganos e aflições, um rumo, dando-lhes voz e um lugar de fala.

Uma parte das massas populares cansou daquele Lula andando de um lado para outro do palco, microfone na mão, em peroração exaltada, como um desses pastores milagreiros da televisão. Perderam graça e substância – as figuras comuns da retórica lulista se revelaram, a partir de certo instante, um tanto superficiais, beirando a vulgaridade.

Lula é um homem de outro século, cuja formação e liderança se fizeram à luz de outros valores – no ínterim houve uma revolução do conhecimento, uma expansão fantástica da palavra escrita e falada, a que todos têm acesso no celular ou no computador pessoal.

Como observou Diogo Mainardi, Lula antes falava para os jornais e as televisões. As suas palavras eram consumidas por um público restrito. Agora, se ele pronunciar a palavra “aborto” em qualquer contexto, mesmo falando o que é certo, a sua manifestação adentrará por milhões de lares, provocará reações estridentes – o rei pode não estar nu, mas está exposto. Uma expressão mal pensada, uma palavra fora de lugar gera um terremoto de reações e sentimentos, amplificadas de forma competente pelos adversários nas redes sociais.

E tudo isso, sem mencionar a recessão de Dilma, o mensalão, o petrolão.

E no entanto, o lançamento das candidaturas Lula-Alckmin sugere que nos fóruns petistas alguém notou que era preciso dar um “freio de arrumação”. Tudo pareceu mais ordenado, voltou uma certa racionalidade.

Menos mal. Porque do modo como andam as coisas do Brasil, e da forma como se desenha a eleição presidencial, a primeira tarefa de todas as forças democráticas é a de parar a marcha batida do golpismo, em pleno curso.

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