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Por Redação Rádio Pampa | 11 de novembro de 2021
Durante um período de 30 anos, os brasileiros passaram por uma transição nutricional, abrindo mão de uma dieta mais natural para uma com maior consumo de ultraprocessados, a exemplo de refeições prontas, refrigerantes e outros itens cuja produção fica totalmente a cargo da indústria.
Mas esse não é um problema apenas de saúde: tais produtos são justamente os que mais geram impactos no meio ambiente, com maiores emissões de gases de efeito estufa, além de desperdiçar mais água e gerar uma maior pegada ecológica.
Os riscos ambientais representados por esse consumo estão descritos em um estudo inédito, recém-publicado no jornal científico The Lancet Planetary Health. A colaboração envolveu pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), além de especialistas de instituições britânicas como as universidades de Londres, de Manchester e de Sheffield.
O levantamento usou dados de residências urbanas brasileiras coletados entre 1987 e 2018. Assim, foi calculado o impacto ambiental a cada mil calorias consumidas de alimentos de quatro grupos: não processados ou minimamente processados, ingredientes culinários processados, alimentos processados e, por fim, os ultraprocessados.
Os cientistas notaram que a proporção de produtos não processados ou minimamente processados nas dietas das famílias diminuiu, enquanto a quantidade de processados e ultraprocessados cresceu. O que teve aumento no período, principalmente, foi o consumo de carne ultraprocessada, o que dobrou o impacto ecológico diário por indivíduo, totalizando cerca de 20% da pegada ambiental relacionada à dieta.
Diante das mudanças nutricionais no Brasil, a cada mil calorias consumidas, houve um aumento de 21% na contribuição para as emissões de gases de efeito estufa, além de um acréscimo de 22% na pegada hídrica, isto é, na quantidade de água utilizada para manter uma alimentação abarrotada de ultraprocessados. E ainda houve uma elevação de 17% da pegada ecológica, indicador que considera os gastos de recursos naturais como um todo.
Mas o cenário pode ser ainda pior: a relação entre a alimentação e as mudanças climáticas seria um desafio para a própria segurança alimentar. “Os sistemas alimentares são responsáveis por um terço das emissões globais de gases de efeito estufa, e ainda, ao mesmo tempo, sofrem os impactos climáticos que eles próprios ajudam a causar”, explica Jacqueline Tereza da Silva, coordenadora da pesquisa que atua no Departamento de Medicina Preventiva da USP, em comunicado.
Para Christian Reynolds, professor da Universidade de Londres, o Brasil está passando por uma transição alimentar parecida com a que ocorreu no Reino Unido. Tanto lá quanto aqui, essa mudança aconteceu em um período considerado curto, com impactos muito além do bem-estar humano.
O papel nocivo dos ultraprocessados à saúde já é discutido há mais de uma década por sua relação com obesidade, doença coronariana, diabetes e mesmo câncer. Mas é preciso discutir seus outros efeitos nocivos. “Devem ser consideradas ações e políticas que visam várias áreas. Por exemplo, intervenções fiscais como impostos ou subsídios, regulamentação sobre publicidade e melhoria da rotulagem de alimentos e menus com a adição de impactos ambientais”, cita Reynolds.
No Ar: Pampa Na Madrugada