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Por Redação Rádio Pampa | 17 de setembro de 2023
A terapia assistida por MDMA parece ser eficaz na redução dos sintomas do transtorno de estresse pós-traumático (TSPT), de acordo com um estudo publicado na quinta-feira. A pesquisa é o teste final conduzido pela MAPS Public Benefit Corporation, uma empresa que desenvolve psicodélicos prescritos.
A empresa planeja submeter os resultados à Food and Drug Administration (FDA, órgão regulador equivalente à Anvisa nos EUA) como parte de um pedido de aprovação para comercializar MDMA, a droga psicodélica, como tratamento para transtorno de estresse pós-traumático, quando combinada com psicoterapia.
“(Se aprovada), a terapia assistida por MDMA seria o primeiro novo tratamento para o TSPT em mais de duas décadas”, afirma Berra Yazar-Klosinski, autora sênior do estudo, publicado na Nature Medicine, e diretora científica da empresa. “Pacientes com TSPT podem sentir alguma esperança.”
O TSPT afeta cerca de 5% da população adulta dos Estados Unidos a cada ano. Mas as terapias e medicamentos convencionais só ajudam, na melhor das hipóteses, cerca de 50% dos pacientes, explica o psiquiatra Stephen Xenakis, também diretor executivo da Associação Americana de Praticantes Psicodélicos, que não esteve envolvido no estudo.
“Minha experiência clínica é que muitos homens e mulheres perderam a esperança com tratamentos e terapias convencionais e sentem que a única saída para eles é cometer suicídio. Precisamos fazer algo mais para ajudá-los, e a terapia assistida por MDMA oferece uma nova opção que pode salvar vidas quando feita de maneira cuidadosa e profissional”, diz Xenakis.
O MDMA, também conhecido como Extasy ou Molly, é uma substância ilegal desde 1985, quando a Drug Enforcement Administration o classificou como uma droga da Lista 1, colocando-o na categoria mais alta para drogas controladas que a agência considera sem uso médico e que têm um alto potencial de abuso.
Antes disso, o MDMA era administrado por cerca de centenas de terapeutas na América do Norte e na Europa para aconselhamento de casais, crescimento pessoal e para lidar com traumas.
“A grande tragédia a salientar é que estava bastante claro no final dos anos 1970 e início dos anos 1980 que o MDMA tinha um potencial terapêutico incrível”, lamentou Rick Doblin, fundador da Associação Multidisciplinar para Estudos Psicodélicos (MAPS), um grupo sem fins lucrativos proprietário do MAPS, completando que “todo o sofrimento desde então é enorme porque o MDMA foi criminalizado”.
A MAPS tem defendido a legalização da terapia assistida por MDMA desde 1986 e apoiado pesquisas sobre seu uso no tratamento de TSPT desde 2001. O Heffter Research Institute, outro grupo sem fins lucrativos, tem feito o mesmo com a psilocibina, o ingrediente ativo dos cogumelos mágicos, desde 1993.
Em 2017, a FDA concedeu o status de “terapia inovadora” à terapia assistida por MDMA como tratamento para TSPT. A designação permite que o desenvolvimento de medicamentos experimentais promissores seja acelerado. A terapia assistida por psilocibina para depressão resistente ao tratamento recebeu status de inovação em 2018.
Os 104 participantes do novo estudo foram diagnosticados com TSPT moderado a grave e viveram com a doença por uma média de 16 anos. Eles incluíam vítimas de traumas infantis, veteranos de combate, sobreviventes de violência sexual e outros. Muitos tinham histórico de pensamentos suicidas e também sofriam de comorbidades como depressão e transtorno por uso de álcool.
Cada participante trabalhou com uma equipe de terapia de duas pessoas e recebeu três sessões preparatórias de psicoterapia de 90 minutos, seguidas de três ciclos de tratamento, com intervalo de um mês. Cada um consistia em uma sessão experimental de oito horas em que o participante tomava MDMA ou um placebo combinado com psicoterapia e depois participava de três sessões de psicoterapia de 90 minutos.
Durante as sessões experimentais, 53 participantes receberam MDMA e 51 receberam um placebo inativo. Nem os terapeutas nem os participantes foram informados quais pacientes haviam recebido o MDMA.
Os participantes do grupo que recebeu MDMA experimentaram reduções significativamente maiores nos sintomas de TSPT em comparação com aqueles do grupo que recebeu placebo, de acordo com o artigo de pesquisa.
No final do estudo, 86,5% das pessoas no grupo MDMA alcançaram uma redução mensurável na gravidade dos sintomas, relataram os investigadores. Cerca de 71 por cento no grupo MDMA melhoraram o suficiente para não preencherem mais os critérios para um diagnóstico de TSPT. Daqueles que tomaram o placebo, 69% melhoraram e quase 48% já não se qualificavam para um diagnóstico de TSPT.
As descobertas foram semelhantes aos resultados do primeiro estudo de Fase 3 da terapia assistida por MDMA para TSPT, publicado na Nature Medicine em 2021. Para os 90 participantes desse estudo, 67% do grupo que recebeu MDMA não se qualificava mais para um diagnóstico de TSPT dois meses após o tratamento, em comparação com 32% no grupo placebo.
Assim como em estudos anteriores de terapia assistida por MDMA, o tratamento foi geralmente bem tolerado, de acordo com os dados apresentados sobre eventos adversos. Os efeitos colaterais comuns, principalmente para aqueles do grupo MDMA, incluíram rigidez muscular, náusea, diminuição do apetite e sudorese.
Dois participantes do grupo MDMA e um do grupo placebo tiveram graves ideações suicidas durante o estudo, mas nenhuma tentativa de suicídio foi relatada.
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