Sábado, 23 de Novembro de 2024

Home Estilo de Vida Meta para o Ano-Novo é não se entupir de metas e cuidar da saúde mental

Compartilhe esta notícia:

É chegada a reta final do ano e há quem esse momento para traçar as famigeradas metas de ano-novo, as quais, não raro, são as mesmas de anos anteriores. Se você se identificou, provavelmente faz parte da maioria das pessoas que não cumpre os objetivos estabelecidos para o período. Segundo estudo da Universidade de Scranton, na Pensilvânia (EUA), apenas 8% conseguem concretizar o que idealizou. E se a solução fosse simplesmente não fazer resoluções de ano-novo?

Embora adotadas para nortear objetivos futuros, de ordem pessoal ou profissional, as listas de metas podem se tornar verdadeiros gatilhos para sofrimentos mentais, como ansiedade, burnout e até depressão, que cresceram na pandemia. Por isso, nem sempre são consideradas uma boa estratégia para todos, de acordo com Guilherme Navarro, psiquiatra clínico e forense e professor da Faculdade de Saúde e Ecologia Humana (FASEH), em Vespasiano, na região metropolitana de Belo Horizonte (MG).

“É problemático pensar que a gente precisa das metas e estabelecer isso enquanto uma unanimidade. Algumas pessoas vão estar em momentos em que façam sentido tê-las, outras não. Quando se coloca isso como algo generalizado, sentimos certa obrigação de funcionar e de pensar dessa forma, o que pode ser fonte de sofrimento”, explica Navarro.

A frustração vem, muitas vezes, quando a decisão de se traçar metas parte de introjeções sociais e não de desejos genuínos do indivíduo, o que torna ainda mais difícil cumprir o estabelecido e pode causar sensação de vazio. Isso explica aquelas pessoas que, não se sentindo realizadas, acabam a cada ano criando resoluções ainda mais difíceis de serem alcançadas.

Há também questões subjetivas que impedem a realização dos objetivos, ainda que estes estejam em consonância com os desejos mais profundos e internos, como a pandemia e o desemprego. Ou seja, nem todos têm condições materiais e estruturais para concretizarem o que idealizaram. “As oportunidades e as possibilidades não são distribuídas igualmente. Cada pessoa tem o seu tempo e está tudo bem”, salienta o professor.

Foi o que observou Ligia Baleeiro, de 37 anos, que após várias listas frustradas decidiu não traçar mais metas nesta época do ano. “É um momento emocional, quando a gente tem muita esperança e por isso se sente motivado a ser melhor e a fazer novos planos. Embalados por esse clima, acabamos por elaborar projetos grandiosos e vagos demais.”

Especialista em comportamento e neurociência pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), ela hoje se propõe a fazer autodesafios, normalmente de curto prazo e que são mensuráveis. Foi assim que conseguiu aprender a dirigir recentemente. “Essa era uma meta que voltava todo ano e nunca se concretizava”, lembra.

A virada de chave se deu quando Baleeiro se identificou como uma pessoa perfeccionista e começou a quebrar as suas metas em objetivos menores. “Tenho um planejamento mais estruturado de como vou fazer e não fico só num ideal. Antes, desistia quando via que não iria dar certo ou não estava num cenário perfeito. Hoje, revejo a rota e vou tentando até conseguir”, destaca a especialista, que tem um perfil no Instagram em que dá dicas sobre mudança de comportamento.

Vá no seu tempo

De acordo com Guilherme Navarro, o padrão de felicidade e sucesso é influenciado pela forma como a sociedade se organiza no sistema de trabalho, baseado em tópicos e metas. “Temos que alcançar mais e mais, como se fosse uma grande competição, que também pode ser fonte de aflição e angústia. Se não tomarmos cuidado, nos tornamos nosso próprio chefe, nosso próprio empregado e estabelecemos padrões que não têm tanto a ver com o que almejamos enquanto realizações pessoais.”

Os desejos são inerentes aos seres humanos, mas, segundo o professor, não precisam ser estabelecidos no tempo empresarial. Ou seja, não significa deixar de ter metas, mas é não colocá-las em velocidade e importância generalizada para todos, porque o tempo, as possibilidades e as dificuldades das pessoas são diversas.

“É engraçado que, no feriado de fim de ano, que era para ser um momento prazeroso, o indivíduo já está pensando de forma acelerada no próximo ano e na próxima meta”, ressalta o psiquiatra. “Posso não conseguir cumprir um desejo em 2022 e ficar em paz com isso. Não é um fracasso deixar de fazer algo num tempo específico.”

Entenda que tropeços irão surgir

Assim, antes de estabelecer novas resoluções, é preciso perguntar se elas fazem sentido no momento atual de vida e se, dentro das possibilidades subjetivas e materiais, são possíveis de serem realizadas. Nesse sentido, é preciso ter calma e perceber que tropeços podem acontecer.

Essa é a dica de Tiago Henriques, de 32 anos, criador de conteúdo e autor do livro ‘Erra Uma Vez (editora Belas Letras), lançado em outubro deste ano, que traz reflexões sobre as inseguranças criativas e a busca pela perfeição.

“Comecei o ano passado com projetos demais e um deles era um livro, que exige muita dedicação. Precisei realocar para a frente outra ideia que havia me deixado empolgado e reduzir a carga. Fiquei tranquilo com isso. Os erros, pausas e reajustes fazem parte do processo e não devem ser usados como justificativa para a desistência”, destaca.

Em seu perfil no Instagram, denominado Tira do Papel, Tiago dá dicas sobre como começar a criar constância, respeitando a saúde mental. Segundo ele, é comum começar o ano motivado, mas é preciso inserir hábitos sustentáveis à rotina para que as metas sejam concretizadas. Isso significa sair do plano dos desejos e traçar ações, que envolvam planejamento e autoconhecimento, até mesmo para entender o que não deu certo e como melhorar no ano seguinte.

“Antes, eu simplesmente olhava para o ano-novo e escrevia o que queria, mas quando aplicava não dava certo, porque faltava um plano de ação. Faltava quebrar em metas menores e fazer disso um projeto prático, com passo a passo, programação e, inclusive, preparação para os dias em que não há motivação. Afinal, é tudo sobre o processo e não sobre o objetivo final”, diz.

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de Estilo de Vida

Além da morte da escritora gaúcha Lya Luft, Cultura perdeu pelo menos 69 personalidades em 2021
Confira as previsões de lançamento da Apple para 2022
Deixe seu comentário
Baixe o app da RÁDIO Pampa App Store Google Play

No Ar: Pampa Na Madrugada