Quarta-feira, 27 de Novembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 11 de outubro de 2022
Um mundo subterrâneo repleto de organismos microscópicos pode ter existido em Marte no passado. Isso é o que revela um novo estudo publicado por cientistas franceses nesta semana.
Apesar da descoberta animadora, os pesquisadores acreditam que, se essas formas de vida simples de fato existiram, elas teriam alterado a atmosfera do planeta vermelho tão profundamente que uma “Idade do Gelo” em Marte teria entrado em curso que, consequentemente, teria levado a extinção desses seres.
A vida – mesmo a vida simples como micróbios – “pode realmente causar sua própria morte”, disse o principal autor do estudo, Boris Sauterey, pesquisador de pós-doutorado na Universidade de Sorbonne.
Os resultados “são um pouco sombrios, mas acho que também são muito estimulantes”, disse ele em uma entrevista por e-mail à Associated Press. “Eles nos desafiam a repensar a maneira como a biosfera e seu planeta interagem.”
Usando modelos climáticos e de terreno, Sauterey e sua equipe avaliaram a chamada habitabilidade da crosta marciana há cerca de 4 bilhões de anos, quando se pensava que o planeta era mais hospitaleiro e cheio de água.
Os pesquisadores argumentam que essas bactérias produtoras de metano e devoradoras de hidrogênio poderiam ter prosperado sob a superfície marciana naquela época, cercadas por várias dezenas de centímetros de sujeira que as protegiam da forte radiação recebida.
Como na Terra primitiva, qualquer área de Marte sem gelo poderia estar repleta desses organismos, de acordo com Sauterey.
O clima presumivelmente úmido e quente do início de Marte, no entanto, teria sido prejudicado por tanto hidrogênio sugado da atmosfera fina e rica em dióxido de carbono do planeta vermelho, ainda de acordo com o pesquisador.
À medida que as temperaturas caíram quase 200 graus Celsius negativos, qualquer organismo na superfície ou perto dela provavelmente teria se enterrado mais fundo na tentativa de sobreviver.
Por outro lado, os micróbios na Terra podem ter ajudado a manter as condições de temperatura por aqui, dada a atmosfera dominada pelo nitrogênio, disseram os pesquisadores.
Kaveh Pahlevan, do Instituto SETI, uma organização que estuda a origem da vida no universo, disse que futuros modelos climáticos de Marte precisam considerar essa pesquisa.
De acordo com um outro estudo liderado por ele, Marte era um planeta úmido, com oceanos quentes durante milhões de anos.
Durante esse período, a atmosfera teria sido densa e rica em hidrogênio, fazendo com que retivesse o calor e eventualmente o perdesse para o espaço como um gás de efeito estufa.
Já o estudo francês investigou os efeitos climáticos de possíveis micróbios quando a atmosfera de Marte era dominada pelo dióxido de carbono e, portanto, não é aplicável aos tempos anteriores, disse Pahlevan.
“O que o estudo deles deixa claro, no entanto, é que se [essa] vida estivesse presente em Marte” durante esse período, “ela teriam uma grande influência no clima”, acrescentou o especialista em um e-mail.
Mas quais são os melhores lugares para procurar vestígios desta vida passada?
Os pesquisadores franceses sugerem uma região específica: a inexplorada Hellas Planita, uma planície localizada no hemisfério sul do planeta, e a Cratera Jezero, onde atualmente o rover Perseverance da Nasa está coletando rochas que retornarão à Terra daqui a alguns anos.
Sauterey aposta nisso para investigar se ainda existe vida no nosso planeta vizinho. “Poderia Marte ainda ser habitado hoje por micro-organismos descendentes desta biosfera primitiva?” ele disse. “Se sim, onde?”.
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