Quarta-feira, 26 de Fevereiro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 25 de fevereiro de 2025
Uma gravação em poder da Comissão de Ética da Presidência da República (CEP) revela a influência da primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja, no Ministério das Mulheres, e como ela costuma ser atendida com presteza. A primeira-dama recebe, segundo relato da própria ministra Cida Gonçalves, um grau de atenção diferente de ministros do governo, que despacham no Palácio do Planalto.
Em relato que foi gravado, a ministra indicou que costuma interromper seus compromissos para atender chamados de última hora três pessoas: a primeira-dama Janja, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e o ministro da Casa Civil, Rui Costa. Mas não faria o mesmo nem sequer com os ministros Alexandre Padilha (Relações Institucionais) e Márcio Macedo (Secretaria-Geral da Presidência).
“Na hora que estou com tudo organizado o presidente chama, a Janja chama, Rui chama. O Palácio chamou… O presidente chamou tem que deixar tudo, Rui chamou tem que deixar tudo. Os únicos que eu consigo enrolar são o Márcio e o Padilha, os outros eu não consigo. Isso se chama hierarquia, respeito à autoridade”, disse Cida.
A ministra falava a subordinadas sobre a imprevisibilidade de sua agenda ministerial, que ela mesmo considerava um “inferno”. Cida tentava rebater queixas de que era complicado acessá-la e também cobrava mais agilidade das secretárias nacionais que compõem a equipe e dizia que não poderia haver dentro da pasta “mini ministérios”.
O jornal O Estado de S. Paulo perguntou ao Ministério das Mulheres, com base na gravação, a razão pela qual a primeira-dama seria merecedora de mais prioridade do que ministros de Estado – e por que alguns podem ser mais “enrolados” do que outros.
“A ministra não teve acesso aos áudios e não se recorda do teor das conversas, muitas vezes em tom descontraído e informal. De qualquer forma, é importante pontuar que a afirmação de que ‘a primeira dama merece mais prioridade do que ministros de Estado, que podem ser ‘enrolados’, e alguns ministros mais do que outros’, é da reportagem e não um pensamento da ministra“, afirmou a assessoria de imprensa da pasta.
“Como ministra de Estado, Cida Gonçalves jamais deixou de atender a qualquer outro ministério. O Ministério das Mulheres possui articulação institucional com todas as outras pastas do governo, até por conta da transversalidade dos temas tratados. Naturalmente, algumas pautas são mais complexas do que outras e as atinentes à Secretaria-Geral da Presidência e à Secretaria de Relações Institucionais são mais extensas e demandam tempo, por envolver, respectivamente, a articulação com entidades da sociedade civil e a relação com o Congresso Nacional.”
Relação prévia
Janja costuma fazer reuniões com a ministra para discutir pautas de gênero, uma de suas bandeiras políticas. Cida e a secretária-executiva Maria Helena Guarezi, também alvo de denúncias, são próximas da primeira-dama e atuam com respaldo político dela. A número dois do ministério é amiga pessoal de Janja.
Um dos exemplos de envolvimento de Janja, segundo relatado por Cida na reunião, foram estatísticas, possivelmente, para embasar uma proposta de projeto de lei de reserva de vagas nas eleições – se seria paridade ou algum percentual, como 30% para um gênero.
“É importante destacar que a ministra e a primeira-dama possuem relações pessoais e profissionais que antecedem a eleição do presidente Lula e sua indicação ao ministério. A primeira-dama tem um extenso histórico de articulação política no campo dos direitos das mulheres e, por isso, oferece um rico diálogo e fundamentais contribuições para as pautas da igualdade de gênero. No entanto, é óbvio que não existe qualquer hierarquia ou prioridade em relação a outros ministros, substancialmente porque os temas tratados são extremamente distintos”, afirmou a assessoria de Cida.
Denúncias
Em outubro de 2024, Cida e ao menos três outras autoridades da pasta foram alvo de denúncias de comportamentos e práticas, segundo denunciantes, seria compatíveis com assédio moral, inclusive com teor de xenofobia regional. Haveria até um caso de racismo, que teria sido praticado pela número dois do ministério.
A Controladoria-Geral da União arquivou a maior parte das queixas, por não reunirem materialidade. O caso da ministra não foi avaliado e segue pendente de julgamento na Comissão de Ética. (Estadão Conteúdo)
No Ar: Show de Notícias