Sexta-feira, 31 de Janeiro de 2025

Home em foco Monitoramento de Trump: funcionários públicos dos Estados Unidos dizem se sentir “estado de sítio”

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Cerca de três milhões em todo o país, os funcionários públicos federais dos Estados Unidos disseram que se sentem em “estado de sítio” nas últimas semanas. Os relatos de temor e angústia surgem após uma enxurrada de medidas tomadas pelo presidente Donald Trump que afetam o setor.

“As pessoas choram nos escritórios de seus supervisores, se perguntando o que vai acontecer com seus empregos”, contou uma funcionária do Departamento do Interior que trabalha remotamente em tempo integral no oeste dos EUA. “Já estávamos angustiados e temerosos com o que poderia vir, mas quando os decretos começaram a sair, pensamos: ‘Uau! Isso é muito pior do que imaginávamos. Todos começaram a usar seus telefones pessoais porque temem ser monitorados de alguma forma. É uma loucura”.

Assim como ela, aqueles que aceitam falar com a AFP tomam precauções. Não revelam nomes e fazem poucas referências aos seus órgãos e regiões. Só se pronunciam sob anonimato, alguns até por meio de sistemas criptografados de mensagens. Outros preferem não se manifestar.

“Isso é bastante sintomático do ambiente atual”, disse um funcionário de outro departamento que também está em trabalho remoto.

Pagando promessa

Durante a campanha eleitoral, Trump havia prometido confiar ao bilionário Elon Musk, o homem mais rico do mundo e agora um colaborador próximo, a direção de um “departamento de eficiência governamental” destinado a reestruturar a administração pública federal e cortar gastos do Estado.

O governo ofereceu a quase todos os funcionários federais decidir se querem fazer parte de um programa de demissão em troca de oito meses de indenização, de acordo com um e-mail interno enviado aos servidores ao qual a AFP teve acesso. Funcionários que aceitarem o acordo, que entrou em vigor já na terça-feira, deverão deixar seus cargos até 6 de fevereiro e receberão indenização até 30 de setembro.

A proposta — elogiada por Musk, como uma “bifurcação na estrada” — foi enviada a todos os dois milhões de funcionários federais, de acordo com a imprensa americana.

Perseguição

Desde seu retorno à Casa Branca, o presidente republicano assinou diversos decretos que têm como alvo os funcionários federais: desmantelamento de políticas pró-diversidade, igualdade e inclusão, férias compulsórias antes de demissões em 60 dias para aqueles que trabalham nesses programas, congelamento de contratações, fim do trabalho remoto e até disposições desfavoráveis para encorajar carreiras administrativas.

“Em geral, sentimos que estamos sob estado de sítio. Todos estão tristes, esperando o impacto. Há muita incerteza, o que gera ansiedade”, relatou um funcionário que trabalha remotamente perto de Washington.

Um e-mail oficial pedindo explicitamente que denunciem qualquer atividade relacionada a programas de diversidade, um dos principais alvos de Trump, foi enviado aos servidores. Em uma mensagem acessada pela AFP, os funcionários de uma agência com sede em Washington foram instruídos a “relatar todos os fatos e circunstâncias” nesse sentido.

“Estão nos pedindo para denunciar nossos colegas”, lamentou a funcionária que trabalha do oeste do país.

Sem cerimônia

Um funcionário que trabalha no setor público federal desde 2014 diz que nunca viu um e-mail “tão pouco profissional” e “agressivo”.

“Temos a sensação de que ele não tem mais receios: lança suas piores iniciativas”, comenta o trabalhador alocado próximo a Washington sobre o magnata republicano e suas polêmicas medidas.

Para um veterano do Departamento de Comércio, todos estão “desconfiados e preocupados” sobre como lidar com as consequências em cascata dessas decisões. E que toda essa “angústia” impede as pessoas de fazer o trabalho para o qual são pagas.

A percepção dos funcionários é a mesma: que Trump e seu círculo querem “tornar o governo tão ineficiente quanto afirmam que ele é”, resumiu um deles.

Mas isso ainda não desanima o setor, e até serve de motivação para parte dos servidores. “De certa forma, reforça minha determinação. Não vou me deixar intimidar”, declarou o funcionário que trabalha remotamente na costa leste.

Já a funcionária do Departamento do Interior descreve que, enquanto metade quer “manter a cabeça erguida”, a outra metade acha isso “brutal”.

Segundo o Escritório de Estatísticas do Trabalho dos Estados Unidos, o governo federal emprega cerca de três milhões de pessoas. Esse número permanece relativamente estável desde os anos 1970.

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