Quinta-feira, 21 de Novembro de 2024

Home Esporte Mortes de fisiculturistas voltam a acender o alerta para os riscos do uso de anabolizantes

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A recente morte do fisiculturista de Belarus Illia “Golem” Yefimchyk, vítima de parada cardiorrespiratória, soma-se aos casos de dois brasileiros, que faleceram no mês passado e pelo mesmo motivo. Não é de hoje que os riscos à saúde de quem utiliza anabolizantes têm sido alvo de alertas de médicos e outros especialistas. Mas a questão volta à tona diante da sucessão de episódios fatais.

Antônio Souza, 26 anos, sofreu parada cardíaca em 3 de agosto durante competição na cidade de Navegantes, em Santa Catarina. No mesmo Estado, Matheus Pavlak, de 19, foi fulminado na sua casa, em Blumenau, dia 1º de setembro.

Yefimchyk levantava 272 quilos no supino (peso para levantamento com os braços). Com 1,85 metro de altura e 160 quilos, ele comia um total de 16,5 mil calorias distribuídas sete refeições a cada 24 horas.

“Essas substâncias aumentam muito o desempenho físico, o desempenho humano, para que esse indivíduo consiga o melhor resultado”, frisou o preparador físico João Angelo em depoimento ao site SBT Notícias.

O especialista fez a ressalva de que ainda não ser pode dizer que as mortes tenham sido causadas por substâncias: “É sempre um contexto. Aí entra a situação de cada pessoa, de uso indiscriminado e da motivação. O risco existe, com certeza, mas isso depende de fatores como a especificidade de cada substância e de cada indivíduo”.

Para o cardiologista Cássio Rodrigues Borges, do Hospital Sírio-Libanês de Brasília, as “bombas” podem contribuir para complicações que levam ao óbito, até por aumentarem as chances de problemas cardiovasculares. Some-se a isso os treinos intensos, com altas cargas e por muito tempo, além dietas restritas e uso de diuréticos (por competidores de fisiculturismo, por exemplo), que desidratam o atleta para que ele tenha a musculatura mais bem definida, às vésperas da competição.

“Como o coração é um músculo, ele sofre ação de hormônios e hipertrofia, o que pode gerar um quadro de insuficiência cardíaca com diminuição da função do coração e aumentar risco de arritmias graves”, explica Borges.

Os anabolizantes ainda geram um espessamento do sangue, por aumentarem a produção de células vermelhas. Isso também altera a pressão arterial e gera um risco maior de trombose, infarto e acidente vascular cerebral (AVC). Há ainda aumento dos níveis de colesterol LDL, o colesterol “ruim”, explica o cardiologista.

Além do risco cardíaco, os anabolizantes podem causar outros efeitos colaterais fisiológicos e até mesmo psicossociais. “Você pode ficar mais estressado, ter aumento de apetite, insônia, já ter uma pré-disposição genética a ter ginecomastia [aumento das mamas], aumentar outros hormônios ou desregular seu eixo fisiológico, seu eixo natural hormonal, colocando uma coisa externa”, afirma João Angelo.

Para o preparador físico, um “bodybuilder” que faz uso de esteroides deve ter acompanhamento profissional, o que diminuiria drasticamente o risco de fatalidades e outros problemas. Ele reforça, porém, que o Conselho Federal de Medicina (CFM) proíbe seus profissionais de receitarem hormônios para uso estético e alta performance esportiva.

Com uma “epidemia de anabolizantes” tomando conta das academias, os especialistas alertam os jovens. Segundo o cardiologista, “não há dose segura” quando o assunto é esteroide.

“Mesmo quem não é fisiculturista e usa menor dose pode ter um risco aumentado, mesmo que não seja em curto prazo. Às vezes podem demorar a surgir as complicações, mesmo depois de parado o uso, e muitas podem ser irreversíveis: sequelas de AVC, disfunção cardíaca permanente, falência testicular – pelo excesso de uso, as gônadas do paciente atrofiam e não voltam a produzir hormônios naturalmente – e em casos extremos morte de causa cardiovascular”, afirma Borges.

“Cabe uma reflexão do âmbito psicológico e até filosófico do contexto de vida da pessoa, do por que ela está fazendo aquilo e se assumir aquele risco vai de encontro com o benefício que ela quer. Normalmente, as pessoas estão mais ligadas a um resultado rápido, a uma sensação de prazer momentânea, com pouquíssimo esforço, pra atingir aquilo que ela vislumbra ser o ideal para ela”, diz João Angelo.

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