Quinta-feira, 28 de Novembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 13 de abril de 2022
Não está sendo fácil para Murilo Benício rodar as cenas do personagem que encarna na segunda fase de “Pantanal”, novela das 21h da TV Globo. O antagonista Tenório é um cara retrógrado, que maltrata a mulher, tem outra família e é capaz de cometer atrocidades. O ator confessa que, muitas vezes, chega a ratear diante do texto carregado de frases machistas.
Na vida real, Murilo se junta aos filhos Antonio (25 anos) e Pietro (17) para compreender questões em torno da masculinidade no século XXI. Na pandemia, os dois foram morar com o pai.
“A convivência com eles me põe no mundo moderno. Tudo mudou muito e é difícil virar a chave da noite para o dia. Conversamos sobre o que acho legal e o que entendo que é certo, mas acho esquisito”, afirma ele, que alerta para o “cancelamento”. “Hoje, as pessoas têm medo de emitir opinião porque não podem errar. Fica todo mundo esperando falarem uma besteira para apertar o botão. A pessoa já nasce pré-cancelada. Isso assusta uma geração como a minha.”
Aos 50 anos, Murilo conta que tenta se acostumar com as rugas (“não preciso mais ser um rostinho bonito, sou um ator que tem muita história e isso é valioso”).
1) Como trabalhou em você as características do Tenório, um sujeito frio, moralista, retrógrado, conservador e preconceituoso? Não faltam inspirações na vida real, né?
Exatamente. Busquei inspiração muito mais na vida real do que em mim mesmo. Ele é o tipo de homem que a gente está se defazendo, mas que sempre persiste em vários lugares. Tem coisas que me sinto até mal quando falo. Ao mesmo tempo, encontro uma forma de dizer porque esses caras existem aos montes ainda. Tem um vídeo circulando de um fazendeiro que matou uma onça. É uma coisa tão inconcebível na minha cabeça… Achava que não existia mais, mas foi ontem! Acho que a gente tem uma urgência em falar do Tenório.
2) Que parte do texto foi mais difícil reproduzir?
O que mais pega são as frases machistas. Pensava: “Caramba, em algum lugar uma mulher está sendo tratada desse jeito no momento em que eu estou inventando esse cara”. Dava uma sensação ruim. Tive que brigar muito comigo mesmo.
3) Lembro que dava uma raiva danada do Antonio Petrin, que fez o Tenório na primeira versão da novela, quando e ele chamava a mulher de “bruaca…
Sabe que eu não vi a novela? Só ouvi falar. Eu estava morando nos Estados Unidos de 1989 a 1991. Quando me chamaram para fazer, não quis assistir porque não queria me contaminar. Ia acabar me policiando para não imitá-lo. Era uma responsabilidade que eu não queria. Faço o meu Tenório e, se ficar igual ao que ele fez, ótimo, porque aí é uma imitação sem saber.
4) Seu visual está diferente, você engordou um pouco… Esse é o primeiro personagem que você faz com cara mesmo de mais velho, né?
Acho que sim. Ele pode ser um pouco mais velho do que eu, mas acho que as idades se acompanham um pouco. Cinco anos atrás, eu devia não ter alguma ruga que estou tendo no olho, mas faz parte de quem a gente é no momento. Estou um pouco mais pesado do que a última novela. Na pandemia, ninguém conseguiu emagrecer…
5) Rugas, envelhecimento são problemas para você? Já fez plástica?
Já fiz plástica. Mas acho que o que vou fazer, se fizer, é alguma coisa estética, e nunca para retardar o tempo. Não quero me meter nessa cilada, uma hora eu ficaria mal. Tenho que acostumar aos poucos com as rugas que estão vindo. Se tiver uma bolsa embaixo do olho, aí tira, mas isso de querer parecer sempre jovem é algo que temos que repensar.
Quando a gente faz 50 anos, sabemos que não somos mais jovens. Preciso receber com maturidade todas as idades que me vêm. Saber que não sou mais um garoto e sou interessante de outras formas. Não preciso mais ser um rostinho bonito, sou um ator que tem muita história por trás e isso é valioso. A gente deixa de ficar jovem, mas vai ficando mais sábio (risos).
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