Sexta-feira, 27 de Dezembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 23 de abril de 2022
O Brasil não é para principiantes, já disseram mil vezes. A frase é de Tom Jobim – só podia ter vindo de um gênio, na sua luminosa verdade.
Vejam o PT e Lula. Até bem pouco sonhavam com uma vitória já no primeiro turno – então, só se falava no derretimento de Bolsonaro nas pesquisas. Pois em pouquíssimo tempo o presidente se recuperou e agora, além de tudo, quem está em processo de emagrecimento é a candidatura Lula.
Aquele declínio de Bolsonaro, os altos níveis de rejeição ao seu nome, pareciam indicar que o país havia voltado à normalidade. Parecia que o presidente começava a pagar a conta das suas grosserias, insanidades, e mentiras. Que o seu lado tosco, irascível, que chamava todo mundo para a briga, com alguma razão ou nenhuma, havia gerado os efeitos previsíveis de um presidente arruaceiro. Era o sonho de Lula, Moro, Ciro e de todos os pretendentes à terceira via.
Mas no Brasil não é assim que funciona; nem mesmo as previsões sobre o passado são confiáveis (Malan). E neste exato momento o sonho de uma vitória no primeiro turno das eleições passou para o lado bolsonarista – que parece trilhar o mesmo caminho dos que confundem desejos com projeções futuras.
Na política é assim – nada abala os sonhos, as pretensões dos seus atores. Não está aí João Doria a provar – na insistência de sua própria candidatura – que os fatos não importam e são os sonhos que valem? Não está aí Simone Tebet, um nome interessante, sendo pré-candidata quase secreta, porque mal sabem de sua candidatura e sem ter dito nada até agora que justifique o voto na sua pessoa? Não está aí esse atrapalhado ex-governador Eduardo Leite buscando, com um zumbi, uma saída para o impasse em que se meteu?
Não está aí Moro que, tendo cometido uma série de erros primários, agora provavelmente nem candidato a presidente será? Não está aí Ciro, com aquela vocação irrefreável para dar explicações intrincadas a assuntos banais, com a retórica que parece limpa, e é apenas verborrágica, porque nada diz, surpreende, propõe? Ele diz que o modelo de desenvolvimento brasileiro esgotou, não tem conserto. Mas não consegue ver o que mais visível: o que esgotou foi o seu próprio modelito, a verborragia caótica, o tom raivoso, a metralhadora atirando para todos os lados.
Retorno a Lula e ao PT. Estes, mal conseguem dar um passo à frente – como foi a candidatura a vice de Geraldo Alckmin – já entretanto, e na pior hora (na subida de Bolsonaro), os “militantes” aplicam uma sonora vaia a Paulinho da Força, presidente do partido Solidariedade, até então tido como aliado certo.
Está bem, sabemos que Paulinho da Força não é a melhor companhia da jornada. Mas era a hora da grosseria com um possível e (apesar de tudo) valioso aliado? Se foram militantes do PT – e foram, por causa do apoio de Paulinho ao impeachment de Dilma – são inimigos na trincheira.
Todas essas bizarrices, esses atos destituídos da mais elementar racionalidade, os gestos que se contrapõem, aos objetivos supostos, a distorção dos fatos como eles se apresentam, só confirmam Jobim: O Brasil não é para principiantes.
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