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Por Redação Rádio Pampa | 15 de abril de 2022
O telescópio Hubble, da agência espacial americana (Nasa), confirmou que um cometa descoberto pelo astrônomo brasileiro Pedro Bernardinelli é o astro com o maior núcleo avistado até hoje.
O C/2014 UN271 tem um diâmetro de aproximadamente 130 km, cerca de 50 vezes maior do que a maioria dos cometas conhecidos, e foi descoberto por Bernardinelli, astrônomo da universidade de Washington, em maio de 2021, durante uma pesquisa para um projeto de doutorado.
Bernardinelli explica que, à época, ele nem imaginava que a estrutura era de um cometa e que os cálculos mais precisos só foram feitos por volta de setembro. Foi a partir daí que, juntamente com seu orientador, o astrônomo da Universidade da Pensilvânia, Gary Bernstein, os pesquisadores se depararam diante de uma descoberta surpreendente: estavam diante do cometa com o maior núcleo já encontrado.
Chegar a essa conclusão não é uma tarefa fácil. Os cientistas precisam entender como se comporta a camada de poeira e gás ao redor de um cometa, chamada de coma pelos astrônomos.
Isso é fundamental porque a luz do Sol, ao incidir sobre um determinado cometa, é refletida e então possível de ser observada pelos nossos telescópios. Contudo, a distância que o C/2014 UN271 está não é possível observarmos exatamente o seu núcleo, somente a camada de poeira.
O que os cientistas da Nasa fizeram então foi desenvolver um modelo computacional para “remover” brilho da como e revelar em detalhes o núcleo do cometa descoberto pelo brasileiro.
“Isso é uma medida bem difícil de ser feita porque precisamos de um modelo muito bom para explica essa nuvem de gás sublimado ao redor do cometa. Essa foi a grande diferença do estudo da Nasa”, ressalta Bernardinelli.
O cometa, também chamado de Bernardinelli-Bernstein em homenagem aos seus descobridores, está se movimentando a uma velocidade de 35 mil km/h na borda do sistema solar. Além disso, segundo a Nasa informou, sua massa é de 500 trilhões de toneladas, cem mil vezes maior do que a encontrado geralmente para esses objetos espaciais.
Em 2031, o C/2014 UN271 estará a 1,6 bilhão de quilômetros de proximidade do Sol. Essa será a menor distância que a trajetória do cometa chegará da estrela do sistema solar.
Bernardinelli explica que, por isso, ele não oferece nenhum risco para nós terráqueos, mas que entender a dinâmica do seu funcionamento e de sua aproximação com a nossa estrela é fundamental para a ciência.
O mais interessante disso, conta ele, é que estamos vendo um cometa ‘ligando’. Isso quer dizer que, embora ele ainda esteja numa região muito fria e congelante a cerca de 3 milhões de km do Sol, onde não deveria ocorrer a sublimação de seus materiais, essa sua proximidade cada vez mais perto da estrela, está aumentando a atividade do Bernardinelli-Bernstein, mas os cientistas ainda não sabem explicar o porquê isso ocorre.
“E entender isso é importante por diversos motivos. O primeiro é que, desse modo, a gente consegue ver quais são os tipos de material que existem na superfície desses objetos. Isso é interessante porque cometas são relíquias do sistema solar”, explica o pesquisador.
Ou seja, olhar para esses astros significa olhar para os primórdios de formação do nosso sistema solar, a cerca de 4 bilhões de anos. E o C/2014 UN271 está fazendo justamente sua primeira aparição por aqui desde então.
“Hoje estamos conseguindo ver um material muito fresco do começo do Sistema Solar, um material que não tinha sido evaporado antes e isso é muito interessante”, completa Bernardinelli.
Contudo, isso tudo não é algo muito rápido. O cometa está vindo de um “ninho” congelante de trilhões de outros cometas chamado Nuvem de Oort há mais de 1 milhão de anos. Segundo a Nasa, entender melhor como esses astros funcionam e como chegam aqui também será fundamental para compreendermos o papel dessa concha esférica de gelo na evolução do sistema solar.
“Este cometa é a ponta de um iceberg de muitos milhares de outros cometas que são muito fracos para serem vistos em partes mais distantes do nosso sistema solar”, disse David Jewitt, professor de ciência planetária e astronomia da Universidade da Califórnia, em Los Angeles.
“Nós sempre suspeitamos que ele era grande, já que é tão brilhante e está a uma distância tão grande. Agora, nós confirmamos que é mesmo”, completou.
O Hubble é considerado o telescópio mais famoso da Nasa e está há 31 anos em órbita. Os resultados da descoberta foram publicados pela revista “The Astrophysical Journal Letters”.
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