Sábado, 23 de Novembro de 2024

Home Geral No Rio, ex-delegada da Mulher diz que apanhava de cinto do marido

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A ex-chefe da Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) de Volta Redonda Juliana Domingues relatou em entrevista ao programa Fantástico (TV Globo), no domingo (1º), ter sofrido agressões do ex-marido, o tenente-coronel da Polícia Militar Carlos Eduardo da Costa. De acordo com ela, os episódios de violência aconteceram entre 2021 e 2022, quando ela era delegada da Deam, em Volta Redonda, no interior do Rio de Janeiro. O PM atualmente é coordenador de Segurança do Tribunal Regional Federal do Rio.

“Muitas vezes eu apanhava de cinto. Por várias vezes, ele também me fazia contar as cintadas. Na época dos fatos, eu era delegada da Delegacia de Atendimento à Mulher. Isso me fez pensar muito. Antes, eu tinha vergonha, porque como isso foi acontecer comigo?”, relatou Juliana. “É, ele falava para mim, por várias vezes que ele me agrediu: ‘Eu bato na delegada da Deam. E o que você vai fazer? Você vai fazer o quê?’”.

Segundo ela, as agressões físicas e psicológicas começaram já na lua de mel.Para você ter noção, eu casei num castelo. Ele fez um casamento de princesa para mim. Eu era a mulher mais inteligente que ele tinha conhecido, eu era a pessoa mais espetacular que ele tinha conhecido, eu passei a ser burra, eu passei a ser porca, eu passei a ser totalmente insuficiente”, lamentou.

No decorrer do relacionamento, o PM começou a apresentar um comportamento de ciúme excessivo, que se manifestava principalmente quando ela, como delegada, precisava fazer plantão e ficar com a localização em tempo real ligada.

“Eu tinha que falar para ele todos os meus passos. Se eu fizesse alguma coisa que ele não gostasse, ele fazia tratamento de silêncio comigo. Ficava uma semana sem falar comigo. Se eu perguntasse ‘O que aconteceu, o que eu fiz?’ Nenhuma resposta”, continuou o relato.

Juliana tem dois filhos de relações anteriores, que tinham 4 e 13 anos na época do relacionamento.

“Uma vez ele me bateu na frente do meu filho, me deu um tapa no rosto. E o meu filho estava com a cabeça abaixada, jogando no celular, e eu falei, graças a Deus, ele não viu. Só que depois o meu filho falou para mim: ‘Eu vi, eu vi que ele te bateu’’’, disse ela, relatando a fala do menino.

De acordo com Juliana, as agressões foram se tornando mais frequentes. Até que, durante o depoimento de uma mulher que sofria o mesmo que ela, a delegada se deu conta de que ela própria era vítima de um relacionamento abusivo. Em agosto do ano passado, ela decidiu que não iria mais tolerar essa situação. Juliana conta que a gota d’água foi quando o marido disse que ia ao teatro com duas amigas dele, e ela não se animou com a ideia.

“E aí ele: ‘Porque você só causa problema e tal”’ Aí ele me levou para o nosso quarto, e ali ele me estuprou. Ele fez sexo comigo contra a minha vontade. E eu chorei muito. E eu pedi para ele parar. E óbvio que ele não parou. E ele, quando terminou, ele virou para mim e falou ‘Agora você vai tomar seu banho? Porque o teatro é 16h’”, disse a ex-chefe da Deam.

Três dias depois, Juliana, que disse não ter sido estuprada só uma vez, fez uma denúncia. Ela passou por dois exames de corpo de delito, que apontaram um hematoma na região malar, ou seja, na maçã esquerda do rosto, um segundo hematoma no glúteo e uma escoriação compatível com unhadas.

“Então, eu fiquei com uma lesão, um roxo desse lado do rosto e as cintadas. Então, isso foi comprovado. Agora, estupro não ficou comprovado, porque ele não me machucou na minha região íntima. Ele fez sexo sem o meu consentimento e mediante a ameaça de estar me batendo”, relatou.

Ela contou na delegacia que era obrigada a buscar o cinto e contar em voz alta o número dos golpes que sofria, e que Eduardo a mandava ir com ele à piscina do prédio em que moravam para que as pessoas pudessem ver as marcas do que ele chamava de “correção”. Segundo ela, Eduardo alegava que isso era uma fantasia sexual dele e que tais fatos eram o “segredinho” do casal.

A polícia interrogou cinco testemunhas. Entre elas, duas funcionárias do casal. Elas confirmaram que Juliana apresentava marcas de violência física com frequência. O PM também foi ouvido e confirmou o hábito de usar cintos e outros instrumentos durante o sexo, mas que as práticas eram “da vontade deles” e que “tudo era consentido”.

“E eu demorei ainda um dia pra ter coragem de fazer o registro de ocorrência. Tomei a medida de procurar ajuda numa delegacia de polícia enfrentando toda a minha vergonha, porque na qualidade de delegada que trabalha com isso, expor como eu estou expondo aqui, me tocou muito. Eu sabia que eu estava em um relacionamento abusivo, só que eu não conseguia tomar nenhuma atitude. Por medo, por vergonha, por falta de coragem.”

Em agosto do ano passado, Eduardo foi denunciado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro por dois estupros contra Juliana, por lesão corporal e violência psicológica. A Justiça aceitou a denúncia e a primeira audiência está marcada para este mês. As informações são do jornal O Globo.

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