Quarta-feira, 15 de Janeiro de 2025

Home Rio Grande do Sul O drama dos idosos em meio à tragédia das chuvas no RS

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“Só peguei meus remédios e documentos. Perdi tudo”. É assim que Nadir Fernandes, de 78 anos, conta como foram os acelerados minutos que antecederam o seu resgate.

Ela era moradora do bairro Navegantes, um dos mais atingidos pelas inundações em Porto Alegre. Teve de ser retirada de casa com o uso de um trator.

Em meio à tensão da operação para retirá-la de casa, a pá mecânica do veículo machucou as pernas da aposentada que, agora, não consegue mais caminhar.

A preocupação de Nadir com os remédios e a dificuldade em se locomover ilustram um lado pouco observado deste que é o maior desastre climático da história do Rio Grande do Sul: o impacto das inundações sobre a população idosa.

O Rio Grande do Sul é o Estado com maior proporção de idosos: 14,1% dos moradores têm 65 anos ou mais, segundo o Censo de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O Rio de Janeiro ocupa a segunda posição, com 13,1% da população.

Sobre os resgates de idosos, autoridades do Rio Grande do Sul dizem que não há público específico nos salvamentos e que a prioridade é resgatar todos aqueles que estão em áreas de risco e que precisam de auxílio.

“Independente da comorbidade, o resgate é realizado dentro da técnica, da maneira mais ágil possível”, diz nota do Corpo de Bombeiros do Rio Grande do Sul.

Até a noite dessa segunda-feira (20), foram confirmadas as mortes de 157 pessoas — além disso, 85 ainda estão desaparecidas.

A estimativa da Defesa Civil gaúcha é de que há cerca de 76,1 mil pessoas em abrigos e o total de afetados, em 464 municípios, é de 2,3 milhões de pessoas.

Um levantamento feito por entidades do Rio Grande do Sul, como a Universidade Lasalle e a Cruz Vermelha, estima que ao menos 202,5 mil idosos do Estado sofreram algum tipo de impacto com as chuvas dos últimos dias.

Informações pontuais sobre mortes nas fortes chuvas mostram idosos entre esses números. No entanto, a Defesa Civil diz que não apurou especificamente as idades das vítimas até o momento.

Uma psicóloga ouvida pela BBC News Brasil que atua em uma das centenas de abrigos espalhados pelo Estado afirma que falta estrutura adequada, tanto física quanto de recursos humanos, para lidar com os idosos em meio a esta crise.

Segundo ela, a maioria dos idosos resgatados e enviados a abrigos relatam problemas semelhantes: dificuldades de locomoção, baixa renda, solidão e doenças crônicas.

O governo do Rio Grande do Sul disse que atua em conjunto com os municípios, incluindo uma parceira com a prefeitura de Porto Alegre.

À BBC News Brasil, a prefeitura de Porto Alegre informou que um primeiro abrigo destino exclusivamente ao público idoso foi aberto na última sexta-feira (17).

Resgate

O drama das inundações sobre os idosos fica evidente nas ações de resgate. Voluntários contaram sobre os cuidados necessários com as pessoas com mobilidade mais frágil.

“Eles têm dificuldades para subir nos botes, porque têm a força reduzida”, diz o médico Daniel Che Barbosa Paiva, que está atuando como voluntário nos resgates.

Não é incomum, segundo os voluntários, que necessitem de aparato especial para serem resgatados, como o uso de pranchas de resgate.

“É preciso muito mais cuidado na retirada deles”, diz o enfermeiro voluntário Alan Domiciano.

Outro ponto que chama a atenção dos voluntários é que alguns desses idosos não querem sair de suas residências, ainda que haja alertas do poder público para deixarem o local.

“Quem não saiu de casa é porque está resistente, mesmo com as chuvas. A pessoa pode querer ficar ali para proteger a casa, por medo de alguém invadir. Mas também é preciso entender a cabeça de um idoso que não quer sair da própria casa para ficar em um abrigo em que não conhece ninguém”, diz Domiciano.

Entre as dificuldades, há os problemas crônicos de saúde dos idosos, como hipertensão e diabetes.

Isso leva a um cuidado extra, durante e após o resgate, principalmente em relação às medicações — já que alguns podem ter perdido seus remédios em meio às enchentes. (BBC News Brasil)

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