Domingo, 24 de Novembro de 2024

Home em foco O governador de São Paulo tenta se equilibrar entre a radicalidade de seu grupo político e a imagem de moderação que tenta imprimir à sua gestão; nos momentos-chave, porém, ele se alinha a Bolsonaro

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O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) saiu em defesa de seu padrinho político, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), indiciado pela Polícia Federal no inquérito que apurou uma tentativa de golpe para mantê-lo no poder após a derrota nas eleições de 2022.

O político vem tentando se equilibrar numa corda bamba entre a radicalidade de seu grupo político e a imagem de moderação que tenta imprimir à sua gestão (a despeito, por exemplo, do endurecimento da polícia sob seu comando). Nos momentos-chave, como agora, porém, o governador se alinha a Bolsonaro, de quem foi ministro da Infraestrutura.

Foi assim, por exemplo, quando enalteceu o ex-chefe em protesto na avenida Paulista, em fevereiro, e de novo no 7 de setembro, quando pediu anistia aos presos pelos ataques golpistas de 8 de janeiro.

Distorções e omissões

A publicação de Tarcísio nas redes sociais nessa quinta-feira (21) acumula distorções e omissões sobre o golpismo bolsonarista. Veja quais.

1. “Há uma narrativa disseminada contra o presidente Jair Bolsonaro e que carece de provas” – Tarcísio não esclarece se a narrativa a que se refere é disseminada pela Polícia Federal ou pelo STF (Supremo Tribunal Federal), de cujos ministros se aproximou para tentar acalmar os ânimos em relação ao ex-presidente.

Ao longo de todo o ano, o governador negou publicamente o envolvimento de seu grupo político na tentativa de reverter os resultados eleitorais, buscando afastar a responsabilização de Bolsonaro.

“Não vejo por que a gente, por que essa corrente está na atenção da Polícia Federal”, afirmou em junho, a despeito da série de evidências golpistas acumuladas por seu padrinho político.

Enquanto isso, nos bastidores, Tarcísio aproximou-se de ministros da Suprema Corte, especialmente Alexandre de Moraes, para tentar esfriar a temperatura e melhorar a relação com os bolsonaristas.

2. “É preciso ser muito responsável sobre acusações graves como essa” – o governador paulistano sugere que falta responsabilidade no indiciamento de Bolsonaro pela Polícia Federal, mas não indica onde estariam as supostas falhas da investigação.

3. “O presidente respeitou o resultado da eleição” – conforme a “Folha de São Paulo”, Bolsonaro nunca mostrou respeito ao resultado da eleição. Após a derrota para Lula, passou a maior parte do tempo em silêncio, demorando 45 horas para se pronunciar depois do segundo turno, e, quando falou, disse que as manifestações pedindo golpe de Estado eram fruto de indignação e de um sentimento de injustiça em relação ao processo eleitoral. Também nunca tentou desmobilizar os acampamentos que pediam a reversão do resultado e intervenção militar.

4. “E a posse aconteceu em plena normalidade e respeito à democracia” – De novo, a afirmação de Tarcísio distorce a realidade pós-eleição de 2022. A posse aconteceu após meses de manutenção de acampamentos golpistas —o mais articulado, em Brasília, em frente ao QG do Exército—, cujos manifestantes não reconheciam a vontade popular e defendiam intervenção das Forças Armadas.

Em dezembro, apoiadores de Bolsonaro tentaram invadir o prédio da Polícia Federal na capital e colocaram fogo em carros e ônibus. O bolsonarista George Washington de Oliveira Sousa foi preso por ter planejado ataques a bomba em Brasília, inclusive no aeroporto.

Uma semana depois da posse de Lula, no dia 8 de janeiro, eleitores do ex-presidente inconformados com o resultado das urnas invadiram as sedes dos Três Poderes, vandalizando os prédios do Supremo Tribunal Federal, do Congresso Nacional e o Palácio do Planalto.

5. “Que a investigação em andamento seja realizada de modo a trazer à tona a verdade dos fatos” – Tarcísio não esclarece qual seria a verdade dos fatos e, de novo, não aponta onde estariam as inconsistências no inquérito concluído pela Polícia Federal.

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