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Por Redação Rádio Pampa | 17 de julho de 2022
No último estágio da vida, quando a morte se aproxima, as pessoas geralmente ficam entorpecidas. Por isso, geralmente imaginamos a experiência como um desaparecimento sonolento e inconsciente da vida.
Em 2013, cientistas da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, mediram em laboratório a atividade cerebral de camundongos moribundos. E algo interessante aconteceu.
Depois que os camundongos sofreram parada cardíaca — sem batimentos cardíacos ou respiração — seus cérebros mostraram um aumento na atividade global, com níveis de ondas gama baixas que eram mais sincronizadas em todo o cérebro do que nos estados normais de vigília. E, incrivelmente, esse tipo específico de atividade cerebral foi associado à percepção consciente das pessoas em estudos anteriores.
O experimento desafia a noção de que o cérebro fica inativo durante a morte. Em outras palavras, os camundongos podem tido algum tipo de experiência enquanto estavam entre a morte clínica e a morte cerebral completa.
É possível que antes da inconsciência derradeira exista um período de maior consciência. Os cientistas se perguntaram: o que os camundongos experimentaram enquanto morriam? O mesmo poderia ser verdade para as pessoas?
Surpresas
Os seres humanos têm cérebros maiores e mais complexos do que os de camundongos, mas um experimento muito interessante realizado no Imperial College London, no Reino Unido, em 2018 lançou luz sobre como pode ser a morte em humanos.
Os cientistas queriam investigar as semelhanças entre dois fenômenos muito diferentes. Um deles são as experiências de quase morte (EQM) — as alucinações experimentadas por cerca de 20% das pessoas que foram ressuscitadas após a morte clínica.
O outro são as alucinações causadas pelo DMT, uma droga psicodélica que gera de forma confiável um amplo espectro de efeitos subjetivos nas funções do cérebro humano, incluindo percepção, afeto e cognição.
Os participantes do estudo receberam doses de DMT e, depois de voltarem à realidade, foi pedido que descrevessem suas experiências usando a lista de verificação comumente usada para avaliar experiências de quase morte. Os cientistas ficaram surpresos ao ver uma quantidade incrível de pontos em comum.
Ambas as experiências de EQM e DMT incluíram sensações como “transcendência de tempo e espaço” e “unidade com objetos e pessoas próximas”.
Alucinógeno
A experiência de quase morte revelou-se surpreendentemente parecida com a de um poderoso alucinógeno. “Acho que a principal lição da pesquisa é que podemos encontrar a morte na vida e nas experiências de vida”, disse o neurocientista Chris Timmermann.
“O que sabemos agora é que parece haver um aumento na atividade elétrica [cerebral]. Essas ondas gama parecem ser muito pronunciadas e podem ser responsáveis por experiências de quase morte.”
O neurocientista também explicou que existem regiões específicas no cérebro, chamadas de lobos temporais, que lidam com memória, sono e até aprendizado e que também podem estar relacionadas a essas experiências. De certa forma, diz Timmermann, “nossos cérebros estão simulando uma forma de realidade.”
Cerca de 20% das pessoas que foram declaradas clinicamente mortas e depois sobreviveram relatam EQMs. Será que todos as vivenciam e poucos se lembram delas ou será que essas experiências são raras?
Otimismo
Pessoas que tiveram experiências de quase morte frequentemente relatam sentimentos de calma e serenidade. Por exemplo, sabemos que pessoas que tiveram experiências de quase morte frequentemente relatam sentimentos de calma e serenidade, com redução do estresse associado à morte.
Também sabemos que as EQMs são predominantemente descritas como sem dor, o que significa que a consciência aumentada que podemos experimentar após a morte também pode ser indolor.
A pesquisa também mostra que as pessoas tendem a perder seus sentidos em uma ordem específica. Primeiro, fome e sede, depois fala e visão.
A audição e o toque parecem durar mais, o que significa que muitas pessoas podem ouvir e sentir os entes queridos em seus momentos finais, mesmo quando parecem inconscientes.
E uma scan cerebral recente de um paciente com epilepsia à beira da morte mostrou atividade relacionada à memória e sonhos, levando à especulação de que pode até haver alguma verdade na frase “você vê a vida passar diante de seus olhos”.
Finalmente, sabemos por esses experimentos que a experiência da morte pode envolver uma consciência elevada, possivelmente alucinatória. Uma última viagem psicodélica antes do nada derradeiro. “Em uma sociedade como a nossa, onde tendemos a negar a morte e tentar varrê-la para debaixo do tapete, acho que essa é uma das grandes lições que a pesquisa psicodélica pode nos dar: como incorporá-la em nossas vidas”, concluiu Timmermann.
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