Quarta-feira, 27 de Novembro de 2024

Home Saúde Obesidade na adolescência ainda é assunto tabu em casa e nos consultórios

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Adolescentes com obesidade ainda enfrentam tabu para falar da doença com médicos e familiares. Os jovens, apesar da dificuldade de interlocução com os mais velhos, estão preocupados com o futuro de sua saúde e tentam emagrecer, mostra resultado de estudo internacional apresentado no Congresso Europeu sobre Obesidade. A análise aponta que 85% dos participantes, com idades entre 12 e 18 anos, estão preocupados com sua saúde nos próximos anos, por conta de sua relação pregressa com o sobrepeso.

A pesquisa foi realizada com 5,2 mil jovens, 5,3 mil cuidadores e 2,3 mil especialistas em saúde de dez diferentes nacionalidades. O estudo mostra que 24% dos jovens com obesidade ainda não sabem que têm a doença, o que reforça a necessidade de falar sobre o tema, dizem os médicos.

O diagnóstico e tratamento, explicam os pesquisadores, se faz difícil pois apenas 31% dos adolescentes sentem-se à vontade de falar com um profissional de saúde sobre a obesidade, enquanto 55% dizem conversar mais sobre o tema com a mãe e 36% com o pai. Amigos e colegas são pontos escolhidos para conversar “honestamente” sobre sobrepeso por 25%. Dos respondentes, 10% não quer falar com nenhuma pessoa sobre o tema.

“Qualquer conversa com a temática do peso é difícil. O que vemos é que há emoções mistas sobre este tema. Alguns adolescentes sentem-se estimulados por essa troca, mas outros sentem-se deprimidos com o assunto. É um tópico muito íntimo para eles”, diz Jason Halford, professor da escola de psicologia na Universidade de Leeds, no Reino Unido, e presidente da Associação Europeia de Estudos da Obesidade.

É nesta janela de comunicação que os especialistas acreditam ser fundamental trabalhar urgentemente. Para se ter uma ideia do descompasso entre adolescentes e pais, a análise mostra que 58% dos jovens tentaram, ativamente, perder peso no último ano. Enquanto isso, apenas 41% dos pais acreditam que essa meta estava entre os planos dos adolescentes com sobrepeso ao longo do mesmo período.

“Há desconexões com médicos e cuidadores. A adolescência é um momento complexo da vida. Parece que os pais não compreendem a magnitude do problema, como os adolescentes o fazem. Isso muito provavelmente impactam o tipo de cuidado e tratamento que os médicos têm oferecido a esses jovens”, diz o médico Ricardo Mendoza, diretor médico da ala de obesidade da Novo Nordisk, patrocinadora do estudo.

Mais internet, menos médicos

A maioria dos adolescentes busca informações sobre obesidade fora dos consultórios de especialistas. De acordo com o a pesquisa, 34% dos meninos e meninas buscam informação no YouTube. Enquanto somente 24% consultam seus médicos. Trata-se de uma média menor do que, inclusive, os que pedem informação às suas famílias (25%).

“Os médicos e pais subestimam o quanto esses adolescentes estão preocupados com o próprio sobrepeso. Não é exatamente culpa dos pais, em alguns casos os adolescentes escondem como realmente se sentem”, diz Halford.

A maioria dos meninos e meninas (65%) acreditam que a perda de peso é um desafio exclusivo de sua responsabilidade. O que, dizem especialistas, impõe uma má compreensão sobre o caráter multifatorial da doença.

Tome-se por exemplo o que é elencado como principal fator para o sobrepeso entre adolescentes, segundo os próprios jovens: de acordo com 38% dos respondentes da pesquisa, a principal causa do aumento dos indicadores na balança é “não conseguir controlar a própria fome”.

Um aspecto puramente biológico, explica Jason Halford. Para os cuidadores e médicos, a grande maioria elenca como causa principal os maus hábitos alimentares (o item corresponde a 93% das respostas) o que impõe certa incompreensão em relação à doença.

Brasil

Embora o Brasil esteja fora dos 10 países que fazem parte do estudo — entre eles, há os Estados Unidos, Colômbia, Itália e Reino Unido — médicos brasileiros relatam paralelos entre os meninos e meninas com menos de 18 anos que adentram os consultórios e o que mostra este novo estudo.

“O adolescente não discute a questão da obesidade no médico porque ele acredita que o especialista não pode oferecer nada a ele. O jovem acredita que tem que fazer tudo sozinho. O médico, do outro lado, acredita que a pessoa não discutiu porque não está interessado no tema. Então, por diferentes razões, o assunto não é levantado”, diz Bruno Halpern, médico endocrinologista e vice-presidente da Federação Mundial de Obesidade.

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