Quinta-feira, 12 de Dezembro de 2024

Home Rio Grande do Sul Operação contra fraudes no leite é retomada sete anos depois: indústria em Taquara é o alvo da vez

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Com 12 etapas realizadas entre 2013 e 2017, a operação do Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) contra fraudes na produção de leite e derivados no Estado foi reativada nessa quarta-feira (11). Os alvos da vez foram uma fábrica do segmento na cidade de Taquara (Vale do Paranhana) e um químico industrial que já havia sido preso anteriormente por práticas como a adição de soda cáustica ao produto.

Também foi detectada contaminação de embalagens por “pelos indefinidos” e pontos de sujeira. A Justiça ainda não autorizou a divulgação da marca investigada pela ofensiva, denominada “Operação Leite Compensado”.

Os itens produzidos no estabelecimento são distribuídos para todo o Brasil e até para países como a Venezuela. Além disso, a fábrica já venceu e participa de várias licitações em vários Estados para fornecimento de laticínios. Recentemente, foi vencedora de concorrência para distribuir derivados do leite a escolas paulistas.

Sobre os lotes, o MPRS informa que, apesar de análises iniciais terem detectado substâncias nocivas à saúde humana e demais sujeiras, são aguardados exames mais detalhados em amostras. O objetivo é determinar exatamente quais estão contaminados.

Velho conhecido

Conhecido por fraudadores e autoridades pelos apelidos irônicos de “Alquimista” e “Mago do Leite”, o profissional esteve no foco da quinta fase da ofensiva, em 2014. Na época havia sido descoberta no município de Imigrante (Vale do Taquari) a sua “mentoria” em procedimentos proibidos como o uso de soda cáustica, bicarbonato de sódio e água oxigenada – nocivos à saúde – em produtos como leite líquido ou em pó, soro e outras modalidades.

O investigado, no entanto, já foi absolvido de acusação alusiva a fatos similares em 2005. Também teve imposta contra si uma medida cautelar em Teutônia (na mesma região). Nos últimos dois anos, ele aguardava a instalação de tornozeleira eletrônica, como medida alternativa à prisão por envolvimento em fraudes apuradas pela quinta etapa da operação. Ele também estava proibido de trabalhar no segmento de laticínios.

Em parceria com o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa),  Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), Receita Estadual, Delegacia do Consumidor da Polícia Civil (Decon) e Ministério Público de São Paulo (MPSP), as Promotorias de Justiça Especializada Criminal de Porto Alegre e de Defesa do Consumidor comprovaram a participação do “Alquimista” em novas irregularidades.

Com o apoio logístico da Brigada Militar (BM), 110 agentes cumpriram nessa quarta-feira ao menos quatro mandados de prisão preventiva e 16 de busca e apreensão em empresas e residências de Taquara e das cidades de Parobé, Três Coroas e Imbé, além de São Paulo. Foram presos o químico, um sócio-proprietário da indústria na capital paulista e dois gerentes da empresa, que contratou “O Alquimista” para assessora na produção de laticínios fraudados.

O promotor de Justiça Mauro Rockenbach, da Promotoria de Justiça Especializada Criminal de Porto Alegre, afirma que, depois de 2017, após a Leite Compen$ado 12, houve apenas duas denúncias sobre a adulteração no leite, mas ambas envolvendo pouca quantidade de adição de água ao produto, o que não rendeu uma nova fase da operação. No entanto, foram sugeridos e fiscalizados pequenos ajustes na cadeia produtiva:

“Agora a situação é outra. Com a denúncia de 2024 se confirmou um novo risco e, para nossa surpresa, lá estava o ‘Alquimista’, que era para estar usando tornozeleira eletrônica e para sair a condenação dele no âmbito da fase 5 da operação. Enquanto essas questões básicas não têm um desfecho, o que ele faz? Adultera leite e aprimora seus métodos, já que possui a fórmula exata da quantidade de soda cáustica para uma quantidade exata de litros de leite, de forma que os ajustes não sejam detectados nas análises”.

Já o promotor de Justiça Alcindo Luz Bastos da Silva Filho, da Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor, explica que a soda cáustica é usada para ajustar o PH do leite e diminuir a sua acidez. O composto também se volatiza rapidamente, não sendo detectado nos testes:

“Além de aprimorarem as fórmulas para adulteração, também aprimoraram as práticas criminosas. Eles utilizam alguns códigos – ‘vitamina’ e ‘receita’ – para tentar despistar qualquer tentativa de investigação. Em compostos lácteos para fazer bebidas derivadas, eles chegaram a reprocessar o produto vencido para reutilizá-lo. Já a água oxigenada serve para matar micro-organismos e recuperar produtos em deterioração. Isso, sem falar da soda cáustica, que pode conter metais pesados, alguns inclusive cancerígenos”.

(Marcello Campos)

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