Sexta-feira, 22 de Novembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 30 de março de 2022
Os centauros são monstros fantásticos da mitologia grega. Na língua nativa, os “kentauros” eram conhecidos como “matadores de touros”. São criaturas híbridas: cabeça, tronco, braços de homem com corpo e pernas de cavalo. Eram reconhecidos pela força física e agressividade.
Entretanto, segundo a lenda, eles possuíam o raciocínio, a sabedoria e a inteligência humana.
O reconhecimento da força do cavalo é milenar.
Sabedores disto, os homens criam os veículos de tração animal, utilizando principalmente os equinos.
Os condutores deste tipo de transporte se tornaram conhecidos como carroceiros: o carregamento de pequenos fretes de madeira, ferro e lixo proporcionavam o seu sustento familiar.
Entretanto o abuso do animal com carga pesada, de baixo do sol, da chuva, má alimentação e os maus-tratos fez com que os carroceiros perdessem prestígio, na cadeia social do humanismo. A relação com os munícipes foi se deteriorando ao extremo quando passaram a perturbar em demasia o trânsito das grandes cidades.
Em 1995, o prefeito Maluf foi o primeiro a proibir veículos de tração animal na cidade de São Paulo. Logo após, uma cascata de grandes cidades seguiu a mesma orientação. O Rio de Janeiro foi o primeiro Estado a adotar tal medida.
Com a pandemia, com o desemprego e o grande empobrecimento da população brasileira, os centauros voltaram as ruas.
Não são iguais aos da mitologia, pois o seu trem posterior não são pernas de cavalo! São pernas humanas! São os novos centauros, completamente humanos!
Tem cara feia, são magros, mal-nutridos, amargos e puxam suas pseudo-carroças com rodas de bicicleta e micro carrocerias de arame e corda. Alguns carregam sobre seus ombros montanhas de fardos plásticos negros com os mais diferentes detritos: plásticos, latas de cerveja, trapos e até mesmo resto de comida.
Confesso que não tenho mais empatia com os pedintes com cartazes nas sinaleiras. Percebi que, nos meus caminhos, são sempre os mesmos. Entretanto, fico extremamente sensibilizado com aqueles que recolhem do lixo o seu sustento e da sua família.
Consigo até perdoá-los quando, na tentativa de encontrar algo útil ou comida, sujam as calçadas e espalham restos. Os homens, carregadores dos sacos pretos, são nossos novos zumbis. São os nossos Centauros!
Prof. Dr. Carlos Roberto Schwartsmann – médico e professor universitário.
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