Quinta-feira, 26 de Dezembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 1 de dezembro de 2024
Os presidentes do Mercosul voltam a se reunir na quinta (5) e na sexta-feira (6) desta semana, no Uruguai, em um encontro que será menos morno do que em cúpulas recentes. A face real da nova diplomacia argentina e o desfecho político das negociações para um acordo de livre comércio com a União Europeia (UE) darão o tom da reunião, que também terá como destaques o interesse do Panamá em entrar como associado ao bloco e a participação de mais um membro, a Bolívia.
Para integrantes da área diplomática do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, uma esperada aliança do presidente argentino, Javier Milei, com Donald Trump, que assumirá a presidência dos Estados Unidos em janeiro de 2025, pode ter efeitos negativos para o Mercosul. Por outro lado, com a recente vitória de Yamandú Orsi, de centro-esquerda, no Uruguai, e os interesses econômicos mútuos entre Brasil e Paraguai, a ideia é isolar Milei no bloco sul-americano a partir do ano que vem.
No caso da Argentina, integrantes do governo brasileiro esperam o esvaziamento da agenda social do bloco. Milei, quer, por exemplo, reduzir o tamanho e os poderes do Instituto de Políticas Públicas e Direitos Humanos (IPPDH), que faz parte do Mercosul. E já deu sinais de que quer retirar a instituição de Buenos Aires, onde está sua sede.
Cartas na mesa
Desafeto de Lula, Milei colocou as cartas na mesa. No fim de outubro, demitiu a chanceler Diana Mondino, após um voto da diplomacia argentina a favor de Cuba na Organização das Nações Unidas (ONU). Em meados de novembro, o presidente do país vizinho já havia determinado a retirada da delegação da Argentina da conferência mundial sobre o clima, a COP29, no Azerbaijão.
Milei também deu trabalho para o Brasil nas reuniões que antecederam a cúpula de líderes do G20, no Rio de Janeiro, no fim do mês passado. A diplomacia argentina impediu o consenso em uma declaração sobre o empoderamento feminino e deixou claro que seu governo tem restrições à taxação dos super-ricos. No encontro do Rio, por pouco Buenos Aires não aderiu à Aliança Global contra a Fome, principal pauta brasileira na presidência do bloco.
á o novo presidente eleito do Uruguai, que se reuniu com Lula na última sexta-feira (29), será um aliado importante do Brasil neste momento, na percepção do governo. Após o encontro na semana passada, Orsi disse que ele e Lula estão otimistas quanto à possibilidade de continuar estreitando laços com outras regiões, principalmente com a Europa.
A grande expectativa do governo brasileiro, que seria um “gol de placa” para a diplomacia, gira em torno de um acordo de livre comércio com a UE. Uma decisão favorável faria com o que o Brasil saísse fortalecido do encontro, com perspectivas de aumento de comércio e investimentos com o bloco europeu.
Há, no entanto, forte resistência dos franceses. Lula já disse que o acordo não depende da França, e conta com o apoio da presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, para concluir as negociações ainda em 2024. A questão, no entanto, é que qualquer acordo assinado pela UE tem de ser aprovado por cada país do bloco, o que dá a Macron a chance de bloquear qualquer entendimento.
Nos últimos dias, várias reuniões técnicas entre representantes do Mercosul e da União Europeia foram realizadas em Brasília. A informação dos bastidores é que questões ligadas ao meio ambiente apresentadas pelo lado europeu e a compras governamentais — um ponto de preocupação do governo Lula — avançaram. No segundo caso, ao assumir a Presidência do Brasil, em janeiro de 2023, Lula anunciou que iria reavaliar o ponto que permite isonomia de tratamento a empresas do Mercosul e da UE em licitações públicas.
Para Marianna Albuquerque, professora de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ficará claro, na cúpula de Montevidéu, a nova dinâmica de relacionamento com Milei, que deve dar um foco maior à liberalização comercial. Ela também observa que, mesmo se não houver acordo com a União Europeia, são esperados avanços.
“Os franceses continuam se opondo, mas o Brasil trabalha com a possibilidade de ao menos anunciar avanços no dia 6”, afirma. As informações são do jornal O Globo.
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