Domingo, 24 de Novembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 20 de fevereiro de 2024
Quase imediatamente após iniciar o Ozempic, um medicamento para diabetes conhecido por induzir a perda de peso, Renata Lavach-Savy, de 37 anos, escritora de saúde em North Bergen, Nova Jersey, nos Estados Unidos, ficou sem qualquer sinal de apetite. Ela começou a configurar alarmes para se lembrar de comer. Ela estava tão exausta que, mesmo dormindo 10 horas por noite, desabava no sofá depois do trabalho, incapaz de se mover.
Ela deixou bolsas e roupas espalhadas pelo chão do quarto, porque ficava muito enjoada o tempo todo e temia que se abaixar para pegá-las a fizesse vomitar. Quatro meses depois, o seu nutricionista a disse que ela poderia estar desnutrida.
Renata ficou chocada. “Como posso estar desnutrida? Tenho mais de 90 quilos”, ela se lembra de ter pensado. Ela parou de tomar o medicamento.
Seu médico recomendou inicialmente o Ozempic porque Renata tinha síndrome dos ovários policísticos, uma condição hormonal que geralmente ocorre junto com resistência à insulina. As injeções semanais provocavam náuseas constantes, mas leves, e um nó de enjoo no estômago. Ela perdeu toda a vontade de comer.
Casos graves como o de Renata, em que o efeito de perda do apetite do Ozempic é tão extremo que leva à desnutrição, são raros, dizem os especialistas. Mas ocorre para algumas pessoas e merece atenção, afirma Andrew Kraftson, professor clínico na divisão de Metabolismo, Endocrinologia e Diabetes da Michigan Medicine.
Os médicos afirmam ser importante receber orientações claras e adequadas sobre dieta e nutrição quando as pessoas começarem a tomar a medicação. Aqueles apresentam resultados extremos, como Renata, podem precisar interrompê-la completamente.
“Você não pode comer o que tem vontade ou o que quer. Você tem que comer o que seu corpo aceita”, lembra Renata ao descrever como era tomar medicação.
A semaglutida, princípio ativo do Ozempic, funciona, em parte, bloqueando os sinais de fome do cérebro, suprimindo o apetite. Também faz com que o estômago se esvazie mais lentamente, fazendo com que as pessoas se sintam saciadas por mais tempo. Esses efeitos são os responsáveis pela perda de peso.
Mas, quando as pessoas tomam medicamentos como o Ozempic, os médicos precisam monitorá-las de perto com exames regulares, defende Kraftson. Ele recomenda uma ingestão calórica diária – normalmente entre 1.000 e 1.500 calorias, individualizada com base no peso inicial e no metabolismo estimado de uma pessoa – para seus pacientes e os aconselha sobre suas dietas para garantir que estejam recebendo todos os nutrientes suficientes.
Ainda não foram estabelecidas diretrizes nutricionais que sejam um padrão para pacientes que tomam Ozempic ou outros medicamentos que funcionam de forma semelhante, como Wegovy e Mounjaro.
Mas os médicos geralmente dão recomendações dietéticas semelhantes, afirma Robert Gabbay, diretor científico e médico da Associação Americana de Diabetes. Isso significa seguir uma dieta rica em frutas, vegetais e fibras, como a dieta mediterrânea, conta Janice Jin Hwang, chefe da divisão de Endocrinologia e Metabolismo da Faculdade de Medicina da Universidade da Carolina do Norte, nos EUA.
Evitar alimentos ricos em gordura também é fundamental, porque eles podem fazer com que as pessoas que tomam Ozempic se sintam desconfortáveis e até mesmo dolorosamente saciadas, diz Gabbay.
Além disso, Gabbay lembra que pessoas que tomam Ozempic tendem a perder peso porque consomem menos calorias, e não porque a droga em si queima gordura magicamente. Por isso, se os pacientes não consultarem regularmente os seus médicos para garantir que estão a receber uma nutrição adequada, os medicamentos podem ocasionar, ou exacerbar, distúrbios alimentares, explica Kraftson.
Embora os cientistas ainda estejam tentando entender como o Ozempic afeta o cérebro, um efeito colateral conhecido é que os desejos das pessoas podem mudar. Isso porque a semaglutida imita um hormônio chamado peptídeo-1 (GLP-1).
Quando as pessoas tomam a droga, níveis mais elevados desse hormônio inundam os receptores em nosso cérebro que regulam nossos comportamentos alimentares, diz Hwang, mudando a forma como nossos neurônios transmitem sinais para o resto do nosso corpo.
Assim como algumas pessoas perdem o interesse em alimentos antes apreciados. “Quando você pode escolher entre salada e frango frito, fica um pouco mais fácil fazer escolhas saudáveis”, afirma.
No entanto, as pessoas que tomam esses medicamentos precisam estar cientes das complicações que podem surgir por ter pouco ou nenhum apetite. “Nunca é saudável não comer”, conclui Hwang.
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