Quinta-feira, 21 de Novembro de 2024

Home Política Pablo Marçal se perde na narrativa: “Machão” ou vítima? Entenda

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Pablo Marçal calculou cada passo que levou à agressão que sofreu de José Luis Datena no debate da TV Cultura na noite de domingo (15). Na semana anterior ao debate, procurou, pessoalmente e por meio de assessores, o candidato do PSDB para propor uma suposta trégua. Na sexta-feira (13), prometeu uma baixaria inaudita no confronto que se aproximava, e, uma vez escanteado dos principais embates no programa, apostou todas as fichas em atrair o elo mais frágil, Datena, para as vias de fato.

O problema está no “pós-cadeirada”: Marçal tentou passar da posição de algoz do “consórcio comunista” para o de vítima. Acontece que ele mesmo estabeleceu o meme como categoria de análise política nesta eleição, e os memes superaram de longe a solidariedade que ele esperava receber ao comparar a cadeirada que recebeu à facada em Jair Bolsonaro em 2018 e ao atentado a Donald Trump nesta campanha.

Rápido na compreensão das ondas de opinião pública nas redes sociais, Marçal tratou de melhorar na manhã dessa segunda (16). Andando, sem oxigênio, passou a dizer que a agressão não foi nada e que está pronto para a guerra. Seu monitoramento deve ter captado o que as buscas na internet mostravam: que os vídeos nos momentos seguintes à agressão o captaram em pé, de volta ao púlpito e, inclusive, mantendo a provocação a Datena, que foi contido, e que as cenas da ambulância com uma profissional de saúde lhe colocando uma máscara de oxigênio enquanto uma trupe filmava pareceram bastante exageradas.

A candidatura de Marçal só viceja no caos. Fatos como sua estagnação nas pesquisas, com a explosão da rejeição, e um debate com regras mais restritas tolhem sua capacidade de fomentar essa confusão que o tornou conhecido. Daí por que nos primeiros blocos da Cultura o que se viu foi um candidato entediado em falar de propostas das quais não faz a mais pálida ideia, e alijado da “liga principal”, uma vez que o sorteio de confrontos diretos entre candidatos o circunscreveu a Datena e Marina Helena, enquanto Guilherme Boulos e Ricardo Nunes, juntamente com Tábata Amaral, debatiam na outra roda.

Diante da evidência de que não teria oportunidades de fustigar Nunes e Boulos, com quem disputa a liderança nas pesquisas, até o fim do programa, apostou tudo em enfurecer Datena, a quem já chamara duas vezes de “estuprador”, pegando no apelo à masculinidade caricata, segundo a qual só é “homem” quem parte para a briga. Quando o tucano já estava com a cadeira em riste, Marçal ainda o instiga a avançar.

Portanto, a ideia de uma vítima indefesa não prosperou, como mostraram ondas de memes e de certa louvação à reação – em tudo inadmissível – de Datena no ambiente nativo de Marçal, o digital.

O debate da RedeTV!, menos de 48 horas depois do maior caso de agressão física entre candidatos já registrado em eleições brasileiras, será um teste para uma já alvejada democracia, que tem se mostrado ainda pouco equipada para lidar com alguém que fomenta a violência como arma política – e, para isso, conta com a ampla colaboração da falta de controle dos adversários. (Opinião de Vera Magalhães veiculada no Jornal O Globo)

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