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Por Redação Rádio Pampa | 2 de novembro de 2021
Num mundo em transformação, em que a sustentabilidade ganha cada vez mais relevância, o futuro do petróleo tem sido colocado em xeque. No caminho da descarbonização e das medidas para limitar o aquecimento global, conforme previsto no Acordo de Paris, o produto – símbolo da segunda revolução industrial – terá de abrir espaço a outras fontes de energia, menos poluentes e, em alguns casos, mais baratas. Ainda não há consenso sobre quando seria o pico de demanda do óleo, mas varia de 2030 a 2040. A partir dessa data, haveria o declínio do uso.
Mas essa redução depende de uma série de fatores, como a intensidade de empresas e governos na adoção de políticas de diminuição das emissões. De acordo com relatório da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), para zerar as emissões de carbono em 2050, a demanda de petróleo teria de cair 75%, para 24 milhões de barris por dia. As previsões da multinacional BP apontam para queda de 68% e, da Shell, de 20%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás Natural (IBP).
As projeções da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), no entanto, apontam para aumento da demanda até 2045. A explicação é que o mundo precisará de petróleo para fazer a transição energética. E isso vai demandar investimentos.
“Não há transição energética sem a indústria fóssil, que tem densidade maior. Ela vai garantir a segurança energética durante esse período, vai financiar a mudança”, afirma a diretora executiva Corporativa do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), Cristina Pinho.
Mesmo assim, ela entende que a demanda de petróleo cairá não só pela mudança de comportamento da sociedade, mas também pelas novas tecnologias. A executiva acredita que o preço do óleo estará mais estreito a partir de 2035, o que tornaria menos viável a exploração de reservas mais difíceis e complexas. “No Pré-sal, até US$ 35 (o barril) ainda valeria a pena a exploração.”
No Brasil, o fato de o País ter uma matriz mais limpa, por causa das hidrelétricas, pode significar uma vida mais longa para o petróleo. Alguns segmentos vão continuar precisando de óleo em suas produções. Nesse cenário, o País seria fornecedor de empresas ou de outras nações que não poderiam mais elevar suas emissões por causa das metas estabelecidas.
Atualmente, segundo o IBP, 85% da matriz elétrica brasileira é renovável, enquanto a média mundial é de 23%. Na matriz energética – que inclui também o petróleo –, a energia limpa representa 48% e no mundo, 14%. Segundo a sócia fundadora da Catavento Consultoria, Clarissa Lins, nosso desafio está mais relacionado ao desmatamento do que revirar de ponta cabeça a matriz elétrica. “Temos a terceira matriz mais renovável do mundo, atrás apenas de Islândia e Noruega.”
Dificuldades
Na avaliação do sócio diretor de indústria da consultoria Roland Berger, Marcus Ayres, uma dificuldade no caminho da redução da demanda de petróleo está associada aos grandes bolsões espalhados pelo mundo e que devem passar por desenvolvimento nos próximos anos. “Nesse caso, é complicado sair de um ponto X para outro mais avançado. A Índia vai aumentar sua frota de veículos, mas será a combustão?”, questiona.
Para ele, o futuro do petróleo passa também pela transformação de uma série de indústrias que dependem do insumo – ou seus derivados – como matéria-prima, como é o caso do setor químico, de cimentos, aviação e transporte marítimo. Tudo isso influencia no mercado. “A demanda por petróleo vai existir por muitas décadas. O que temos de fazer é encontrar alternativas para conviver com ela, uma vez que as mudanças climáticas são uma realidade”, diz a presidente da Equinor no Brasil, Veronica Coelho.
Uma saída é investir em soluções capazes de fazer a captura, o sequestro e o armazenamento das emissões de carbono – ou promover o reflorestamento. Ao mesmo tempo, é preciso desenvolver novas tecnologias que suportem a demanda mundial por energia. “Durante muito tempo as exigências eram de faz de conta. Agora, muitos países tendem a forçar as empresas a adotar planos concretos de redução das emissões”, afirma Helder Queiroz, professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Na União Europeia, por exemplo, o plano é que, a partir de 2035, todos os carros vendidos nos países do bloco tenham propulsão elétrica, incentivando a extinção do motor a combustão. Para abastecer essa frota, que pode chegar a 56 milhões de carros vendidos em 2030, a aposta do mundo está na expansão das fontes renováveis como a energia eólica e a solar. Serão necessários investimentos da ordem de US$ 4 trilhões para atender à demanda mundial.
Para Clarissa Lins, a redução da demanda de petróleo só será possível com o investimento massivo em novas tecnologias e energia renovável. Segundo o relatório Net Zero Carbon, da Associação Internacional de Energia, o volume total de investimentos em energia deve alcançar US$ 5 trilhões por ano em 2030.
Se esse cenário se concretizar, em 2050, quase 90% da geração de eletricidade virá de fontes renováveis, como a energia eólica e solar, que juntas vão responder por quase 70% da geração total. “A descarbonização da economia só vai ocorrer com a mudança na oferta e na forma como a sociedade, a indústria e os meios de transporte usam a energia.”
No Ar: Pampa Na Tarde