Quinta-feira, 09 de Janeiro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 8 de janeiro de 2025
Dois anos depois dos atos extremistas do 8 de Janeiro, completados nessa quarta-feira, o Supremo Tribunal Federal (STF) se prepara para julgar os acusados de financiar os atos, por terem viabilizado o transporte de manifestantes golpistas até Brasília.
Em paralelo, também há ações penais contra suspeitos de realizarem bloqueios de rodovias no final de 2022, movimento entendido como uma “prévia” do 8 de janeiro. Até agora, as 371 condenações limitaram-se aos chamados executores e incitadores dos atos golpistas.
De acordo com a Procuradoria-Geral da República (PGR), 63 pessoas foram denunciadas por pagarem o combustível, as passagens ou fretarem ônibus para pessoas irem para Brasília.
Parte dessas denúncias já foram recebidas pelo STF e com isso foram abertas ações penais. Ainda não há data marcada para o julgamento, mas a análise deve ocorrer neste ano se for mantido o ritmo dos demais casos .
A Polícia Federal (PF) chegou aos responsáveis pelas contratações de ônibus e outros meios de transporte a partir de dados apresentados pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
A investigação também reuniu mais elementos contra os suspeitos, como mensagens de teor golpistas e registros de participação em acampamentos em suas cidades de origens que pediam uma intervenção militar.
Uma das rés é Aparecida Solange Zanini, que contratou um ônibus que partiu de Três Lagoas (MS) com 29 passageiros. O veículo foi parado pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) no dia 9 de janeiro, quando retornava de Brasília.
Em depoimento, Zanini confirmou ter estado tanto no acampamento montado em frente ao Quartel-General do Exército, na capital federal, quanto nos atos na Esplanada dos Ministério. Além disso, ela participou de um acampamento em frente a um quartel do Exército em sua cidade.
No dia 3 de janeiro, em meio aos preparativos do 8 de janeiro, Zanini enviou um áudio dizendo que era preciso “ir pra cima desse povo” e que era necessário “quebra o pau e quebra tudo aquilo lá”. No próprio dia 8, gravou um vídeo dos manifestantes caminhando em direção à Esplanada e afirmou que eles estavam indo “retomar o que é nosso”.
O advogado Pedro Castro, que defende Zanini, afirmou que ela apenas contatou a empresa de ônibus “para aqueles que quisessem ir para Brasília em apoio as manifestações, de forma democrática e pacífica, pagassem individualmente sua passagem”. Castro acrescentou que ela participou do ato “de forma pacífica e democrática e quando percebeu todo o ocorrido, de imediato, foi embora”.
Alguns dos alvos atraíram a atenção para si mesmo. É o caso de Milton de Oliveira Júnior, que era apresentador em uma emissora de rádio da Itapetininga (SP) filial da Joven Pan e afirmou publicamente, em abril de 2023, ter ajudado no financiamento dos atos:
“Pode me denunciar. Eu contribuí e entrego o recibo para a senhora, pode vir buscar aqui. Eu ajudei e não tenho medo de assumir o que eu faço. Tá lá. Se eu tiver que ser preso porque eu ajudei alguns patriotas a irem para Brasília fazer protestos contra um governo ilegítimo, que eu seja preso”, afirmou, na época.
Em junho daquele ano, Oliveira Júnior foi alvo da uma das fases da Operação Lesa Pátria. A PF identificou que ele financiou a ida de um manifestante para Brasília, com transferências de R$ 6 mil.
Em manifestação apresentada no processo, a defesa do radialista afirmou que ele é inocente e que condenou, em programa veiculado no dia seguinte aos atos, a depredação ocorrida. Em relação ao dinheiro transferido, a defesa alegou que foi um empréstimo.
Parte dos réus alega que a contratação do transporte foi feita com a intenção de participar de uma manifestação pacífica. A PGR, contudo, reuniu elementos que indicam um planejamento para atos violentos.
Em um ônibus vistoriado pela PRF, por exemplo, foram encontrados coletes balísticos, máscaras de gás e estilingue. Uma das rés recomendou que outra pessoa não levasse uma criança para Brasília, dizendo: “Não é para ser 100% pacífica”.
Bloqueios
Também tramitam no STF ao menos três ações penais relacionadas aos bloqueios de estradas, realizados logo após a eleição presidencial de 2022.
Dois desses processos tratam de uma obstrução feitas na rodovia federal BR-470 na altura de Rio do Sul (SC), utilizando “blocos de concreto, toras de madeira e postes”. De acordo com a PGR, foram expostas no local faixas pedindo o fechamento do STF e intervenção militar.
Apontado como líder do movimento, o caminhoneiro Jonas Strelow defendeu, em um discurso gravado, uma intervenção militar e disse que era preciso o “Exército para vir botar a ordem no nosso país”. Ele também participou do 8 de janeiro. Em depoimento, afirmou que foi “enganado” pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
O advogado Gustavo Holz, que atua na defesa de Strelow, afirma que ele não era líder da mobilização e que foi um “movimento espontâneo da população e que foi encerrado após a confirmação dos resultados das eleições”. Holz também diz que não há relação entre os bloqueios e “os acontecimentos posteriores havidos em Brasília”.
Outra ação trata de um bloqueio na BR-101, em Joinville (SC), quando um carro de som foi utilizado para interditar a via.
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