Quarta-feira, 27 de Novembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 28 de maio de 2023
Paula Toller só teve covid uma vez — e recentemente. Mas diz ainda sentir o peso da pandemia:
“Eu me considero com sequelas. Não da covid. O problema são as paranoias. Se uma pessoa tosse perto de mim, eu fico ‘ai, meu Deus’. Alguém espirra, eu ponho máscara. Para ficar relaxada, é bem difícil. É uma coisa que estou trabalhando. Para sair à noite e ir a shows em lugares fechados, fico grilada.”
Ela espera que milhares de pessoas não tenham os mesmos grilos e saiam de casa para vê-la na turnê “Amorosa”, que está iniciando. No sábado (27), cantou em São Paulo. No próximo sábado (3), o show será no Rio. É a busca de firmar na carreira solo o grande público que conquistou no Kid Abelha.
“Isso já estava crescendo antes da pandemia. Agora, a ideia é ampliar e celebrar”, diz. “Tem um público que é da minha idade. E tem o público do início dos anos 2000, do sucesso do ‘Acústico’ do Kid (o disco de 2002 vendeu dois milhões de cópias). As pessoas estão indo aos lugares, ávidas. Está sendo bom para todos os artistas.”
A “minha idade” é 60 anos. Em 23 de agosto, serão 61. A turnê também comemora quatro décadas de carreira. O título “Amorosa” tem inspiração em “Amoroso”, o disco de João Gilberto (de 1977) que ela ouviu muito na pandemia, mas também no que chama de “reunião de afetos profissionais e pessoais”.
Está de novo trabalhando com Liminha na direção musical e Gringo Cardia na direção de arte. Tem como convidado o DJ Memê. Tem os músicos da banda. E também tem, criando um vídeo para o show, o filho Gabriel, de 33 anos, fruto do casamento — que já dura 36 — com o cineasta Lui Farias. E há o reencontro com o público e com os sucessos da carreira.
“O repertório é cheio de hits. É uma conexão de vida, das histórias das pessoas com as músicas e das minhas histórias com elas também”, diz Paula.
Há uma novidade: em duas canções, ela se acompanha ao violão. Aprendeu durante a pandemia, com aulas remotas no início. Muita coisa se começa aos 60, idade na qual ela vê pontos positivos e negativos.
“Tem sempre um negocinho que dói, a recuperação de tudo fica mais lenta. Mas tem uma coisa legal, que é paciência”, ressalta. “Não me estresso mais com problemas pequenos. Agora, só mesmo com o que é importante. Houve um dia na pandemia em que eu escrevi: ‘Hoje são 82 hojes’. Era um dia de cada vez. De certa maneira, continua sendo assim.”
Procura não se abalar quando perguntada se as canções do Kid Abelha tinham temática mais juvenil do que as de outras bandas surgidas no início dos anos 1980.
“Nunca parei para pensar se era juvenil ou não. Era o que eu queria, o que eu sentia. Era contemporâneo”, diz. “E o sucesso foi muito rápido, de uma maneira avassaladora. Com o tempo, fomos evoluindo e tendo mais reconhecimento.”
Em 2016, aos 34 anos, o Kid — ou seja, ela, George Israel e Bruno Fortunato — anunciou seu fim. Paula assegura que não houve briga, mas reconhece que havia desgaste por tantos anos juntos.
“Teve uma coisa que parece um detalhe, mas não é: eu fiquei diabética em 2009. Passei a precisar de cuidados muito maiores. Isso me levou a pensar no que eu queria e em que ritmo”, conta ela. “Fizemos a turnê de 30 anos, foi muito boa, mas já foi uma turnê de despedida. A gente não estava com aquela vontade de ficar junto o tempo todo.”
Rita
“Amorosa” também é uma palavra que usa para traduzir Rita Lee. Cantaram juntas algumas vezes, mas a relação ia além disso. Desde a adolescência, Paula colecionava discos de Rita e decorava as letras. Já profissional, recebeu elogios e convites da paulistana que idolatrava. No dia em que morreu sua mãe de fato — a biológica a deixou quando era criança — , ela estava em São Paulo para participar de um show de Rita.
“Foi um dia muito difícil, mas eu estava do lado dela, isso me deu força”, recorda Paula, que participou do “Altas horas” especial em homenagem a Rita. “Ali eu tive a sensação de que o fim estava próximo. Ainda assim, receber a notícia foi como perder uma parte importante da minha vida. Era uma pessoa muito generosa.”
Paula se vale da paciência recém-conquistada para comentar as fake news em que foi envolvida nos últimos anos. Caiu numa lista de apoiadores de Jair Bolsonaro, embora nunca tenha sido. Em 2018, teve sua imagem e uma canção usadas sem autorização por um candidato do PT e o processou.
“Fui vítima das duas centrais de ódio”, afirma. “Hoje, se você diz que gosta da cor verde, é como se odiasse todas as outras cores. Não apoiei nem vou apoiar nenhum político. Considero, é claro, que a política é necessária. Mas não estou nessa polarização. Confio mais nos artistas.”
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