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Por Redação Rádio Pampa | 28 de outubro de 2022
O governo de Israel formalizou o acordo para exploração de gás em parceria com o Líbano no Mediterrâneo e sinalizou a restauração das relações militares com o governo da Turquia. Os movimentos ocorrem às vésperas de uma nova eleição em Israel, na qual o ex-premiê Binyamin Netanyahu, que é opositor ao acordo com Beirute, lidera as pesquisas.
Líbano e Israel assinaram cópias do acordo de fronteira marítima mediado pelos Estados Unidos e as entregaram à ONU na cidade costeira de Naqoura, no sul do Líbano. As assinaturas ocorrem após meses de negociações indiretas mediadas por Amos Hochstein, o enviado dos EUA para assuntos de energia, e marca um grande avanço nas relações entre as duas nações, que estão formalmente em guerra desde a criação de Israel em 1948.
Ambos os países reivindicam cerca de 860 km² do Mar Mediterrâneo que abrigam campos de gás natural. O Líbano espera que a demarcação das fronteiras marítimas abra caminho para a exploração de gás para ajudar a tirá-lo de sua crise econômica, que mergulhou três quartos de sua população na pobreza. Israel espera que o acordo reduza o risco de guerra com o grupo militante libanês Hezbollah, apoiado pelo Irã.
O acordo foi assinado pelo premiê israelense, Yair Lapid, que caminha para o fim do seu mandato, e pelo presidente libanês, Michel Aoun. Os documentos preveem deixar sob controle de Israel o campo de Karish e conceder ao Líbano o campo de gás de Qana, mais ao nordeste. Uma parte desta última reserva ultrapassará, no entanto, a linha de fronteira entre os dois países e, desta maneira, Israel ficará com parte do lucro de exploração, segundo o acordo.
O primeiro-ministro israelense disse que o acordo é um reconhecimento, de fato, de Israel por parte do Líbano. Já o presidente Aoun, aliado do Hezbollah, ressaltou que o texto não tem qualquer dimensão política.
“Esta é uma conquista política. Não é todo o dia que um Estado inimigo reconhece o Estado de Israel em um acordo escrito, e isto acontece diante de toda comunidade internacional”, celebrou Lapid. Em um tuíte, o presidente Aoun respondeu que se trata de um acordo puramente técnico, sem qualquer dimensão política, ou “consequências que contradigam a política externa do Líbano”.
O Líbano não quer que sua delegação tenha qualquer contato oficial com a de Israel, por isso exigiu a realização da cerimônia em duas salas separadas.
Como resultado prático, o chefe do Hezbollah libanês, Hassan Nasrallah, anunciou hoje o fim da mobilização militar excepcional do grupo contra Israel. Nasrallah, que chegou a afirmar que atacaria Israel em caso de exploração do campo de gás de Karish sem um acordo prévio, afirmou que o tratado limítrofe representa uma grande vitória para o Líbano. “Nossa missão está concluída”, disse ele, acrescentando que o acordo “não é um tratado internacional nem um reconhecimento de Israel”.
O presidente dos EUA, Joe Biden, em uma declaração publicada nesta quinta, disse que o acordo atende aos interesses do Líbano e de Israel.
As tensões aumentaram brevemente entre o Líbano e Israel no verão passado, depois que Israel começou a perfurar o campo de gás Karish enquanto as negociações aconteciam. Antes do acordo, o Líbano considerava a área disputada, enquanto Israel disse que fazia parte de sua zona econômica exclusiva reconhecida pela ONU.
No mesmo dia, o ministro da Defesa de Israel, Benny Gantz, sinalizou uma possível retomada dos laços de defesa com a Turquia, enquanto os dois países buscam normalizar seu relacionamento. Gantz disse, após uma reunião com seu colega turco Hulusi Akar na capital turca Ancara, que instruiu sua equipe a iniciar os procedimentos necessários para retomar as relações de trabalho.
“Não é segredo que nossos laços enfrentaram desafios”, disse Gantz, que se tornou o primeiro alto oficial de defesa de seu país a visitar a Turquia em mais de uma década.
Turquia e Israel já foram aliados regionais próximos com amplos laços de defesa, mas o relacionamento tornou-se cada vez mais tenso sob o governo do presidente turco Recep Tayyip Erdogan. O líder turco tem sido um crítico aberto das políticas de Israel em relação aos palestinos, enquanto Israel se opõe aos laços da Turquia com o grupo militante palestino Hamas, que governa a Faixa de Gaza.
As relações se romperam em 2010, depois que as forças israelenses invadiram uma frota com destino a Gaza que transportava ajuda humanitária para palestinos que romperam um bloqueio israelense. O incidente resultou na morte de nove ativistas turcos, e os países retiraram seus respectivos embaixadores.
Após uma tentativa de consertar os laços, a Turquia chamou novamente seu embaixador em 2018, depois que os Estados Unidos transferiram sua embaixada em Israel para Jerusalém. As relações começaram a derreter após a saída do ex-primeiro-ministro israelense Binyamin Netanyahu.
Eleições
Os acordos de fronteira e a reaproximação com a Turquia ocorrem a poucos dias das eleições para o Knesset, o Parlamento israelense, que opõe o atual premiê com o ex-líder Netanyahu. Esse será o quinto pleito de Israel em três anos.
As votações de 1º de novembro podem trazer de volta Netanyahu, depois que uma enorme coalizão com direita, esquerda, centro e partidos árabes foi formada na eleição anterior para tirá-lo do poder.
Netanyahu, que assumiu o papel de líder da oposição após a derrota, é contrário ao acordo com o Líbano e defendia que a proposta teria que ser voltada pelo Parlamento ou em referendo. Mas este mês o Supremo Tribunal do país rejeitou as apelações de apoio parlamentar, abrindo caminho para a assinatura do acordo.
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