Domingo, 19 de Janeiro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 18 de janeiro de 2025
O deputado federal Elmar Nascimento (União-BA) e o empresário José Marcos Moura, conhecido pelo apelido “Rei do Lixo”, mantiveram relação de proximidade nos últimos dois anos, incluindo o período próximo à deflagração da Operação Overclean pela Polícia Federal (PF). A operação encontrou documentos de uma transação imobiliária entre Moura e Elmar, conforme revelou a CNN. Em setembro, o empresário e o deputado assistiram juntos a um show de forró em Campo Formoso (BA), reduto eleitoral de Elmar. A investigação da PF foi remetida esta semana ao Supremo Tribunal Federal, responsável por julgar autoridades com foro privilegiado.
Elmar não figurou como investigado em nenhuma das duas fases da operação, mas a decisão de remeter o caso ao STF, comunicada na quinta-feira (16) pela 2ª Vara Federal de Salvador, sugere que a PF encontrou indícios que ligam o caso a pessoas com foro privilegiado. Os autos estão sob sigilo.
Moura, cuja alcunha faz referência a serviços de recolhimento de lixo prestados por uma de suas empresas, a MM Limpeza Urbana, chegou a ser preso na primeira fase da operação, no início de dezembro. A investigação da PF o apontou como um dos articuladores de um esquema de desvio de emendas parlamentares, mediante pagamento de propina para garantir contratos a outras empresas ligadas a seu grupo. Ele foi solto ainda em dezembro, mas está sujeito a medidas cautelares, como uso de tornozeleira eletrônica e proibição de manter contato com outros investigados.
Presença VIP
Três meses antes da prisão de Moura, o empresário recebeu tratamento de estrela durante um show do cantor de forró Nattan no Festival das Esmeraldas, realizado em Campo Formoso. A presença de Moura no festival foi revelada pelo portal Metrópoles.
Na transmissão do show, consultada pelo GLOBO, Nattan se dirige em mais de um momento a Elmar e Moura, que estão em uma área VIP no lado esquerdo do palco. Em uma passagem ao microfone, o cantor se dirige ao deputado com a frase “Elmar, o garçom me abandonou”, e em seguida chama o empresário: “Marcos Moura, pega seu copo que hoje nós vamos tomar uma”. O cantor também faz mais de uma alusão ao presidente do União Brasil, Antonio Rueda, também presente ao festival, a quem se refere como “Ruedinha” e “meu patrão”.
Na ocasião, Elmar fazia as vezes de anfitrião de caciques do União Brasil no festival, buscando sinalizar respaldo da sigla enquanto articulava sua candidatura à presidência da Câmara. No ano anterior, o deputado havia convidado o ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), para o festival, em uma tentativa de se aproximar do governo.
Moura, por sua vez, havia se tornado integrante da direção nacional do União Brasil em junho, após Rueda assumir a presidência. A indicação do empresário foi atribuída ao ex-prefeito de Salvador, ACM Neto (União), outro cacique da sigla que foi ao festival.
Em outra agenda com Elmar, o empresário compareceu ao evento de comemoração da eleição de Sandro Mabel (União) à prefeitura de Goiânia, no fim de outubro. Rueda também foi ao evento.
O relacionamento entre Elmar e o empresário remonta a abril de 2023, quando o deputado comprou um apartamento da Patrimonial Moura, empresa ligada ao “Rei do Lixo”, em um condomínio de Salvador. A escritura da transação, conforme revelado pela CNN, foi encontrada pela PF em um cofre de Moura.
O documento afirma ainda que, na negociação, Elmar repassou a Moura um outro apartamento no mesmo condomínio. Em sua declaração de bens prestada à Justiça Eleitoral na eleição de 2022, Elmar havia afirmado ser dono de “50% (de) apartamento” no condomínio, e avaliou sua participação no imóvel em R$ 206 mil. Já o valor devido por Elmar a Moura na transação chegou a R$ 1,3 milhão.
Segundo a decisão judicial que autorizou a primeira fase da Operação Overclean, dados obtidos pela PF com a quebra de sigilo de Moura mostraram que o empresário atuava no “direcionamento de contratações públicas” em favor da Larclean Saúde Ambiental, empresa dos irmãos Alex e Fábio Rezende Parente. De acordo com a investigação da PF, que surgiu a partir de suspeitas em obras tocadas pelos irmãos na Bahia, a atuação do grupo mirou também outros estados, como Amapá, Goiás, Tocantins e Rio.
Contratos
Levantamento do GLOBO identificou contratações da Larclean que hoje estão sob alçada do União Brasil. A empresa recebeu R$ 1,4 milhão em contratos com o governo de Goiás desde 2019, sob a gestão de Ronaldo Caiado (União). Também recebeu R$ 3,2 milhões por um contrato de dedetização firmado com a Secretaria de Saúde de Goiânia.
No Rio, a Larclean foi contratada, sem licitação, para prestar serviços de dedetização à Assembleia Legislativa (Alerj), sob a presidência de Rodrigo Bacellar (União), e recebeu R$ 63 mil até agora.
No Ar: Pampa Na Madrugada