Quarta-feira, 27 de Novembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 19 de maio de 2022
Alguns milhares de anos atrás, os seres humanos atingiram um marco na sua história, quando começaram a surgir as primeiras civilizações complexas conhecidas. Em muitos aspectos, as pessoas que andavam e se reuniam nas primeiras cidades do mundo teriam sido parecidas com os moradores das cidades atuais. Mas, daquela época até hoje, os cérebros humanos se encolheram, ainda que levemente.
O volume médio perdido seria mais ou menos equivalente a quatro bolas de tênis de mesa, segundo Jeremy DeSilva, antropólogo da Faculdade Dartmouth, nos Estados Unidos. E, segundo análises de fósseis cranianos publicadas por ele e seus colegas em 2021, essa redução começou há apenas 3 mil anos.
“É muito mais recente do que prevíamos”, afirma DeSilva. “Esperávamos algo mais próximo de 30 mil anos.”
A agricultura surgiu entre 5 e 10 mil anos atrás, mas existem evidências de que o cultivo de plantas pode ter começado até 23 mil anos atrás. E logo se seguiu a expansão das civilizações, repletas de arquitetura e máquinas.
A escrita surgiu inicialmente mais ou menos na mesma época. Mas por que, durante essa era de extraordinário desenvolvimento tecnológico, os cérebros humanos começaram a diminuir de tamanho?
Essa pergunta tem deixado os pesquisadores coçando a cabeça. E também levanta questões sobre o que o tamanho do cérebro realmente revela sobre a inteligência dos animais ou sua capacidade cognitiva em geral.
Animais
Muitas espécies têm cérebros muito maiores que o nosso e, mesmo assim, sua inteligência – da forma como a compreendemos – é muito diferente. Por isso, a relação entre o volume cerebral e como os seres humanos pensam não pode ser direta. É preciso haver também outros fatores.
Muitas vezes, é difícil saber exatamente o que faz com que os cérebros fiquem maiores ou menores ao longo do tempo em uma dada espécie.
DeSilva e seus colegas observam que os corpos humanos ficaram menores ao longo do tempo, mas não o suficiente para justificar a redução do volume do cérebro. De forma que a questão sobre o motivo dessa mudança ainda segue sem resposta.
Em um estudo recente, eles buscaram inspiração em uma fonte quase impensável: a pequena formiga.
À primeira vista, o cérebro das formigas pode parecer completamente diferente do nosso. Com volume de cerca de um décimo de um milímetro cúbico (um terço do tamanho de um grão de sal), ele abriga apenas 250 mil neurônios, enquanto o cérebro humano possui cerca de 86 bilhões deles.
Mas algumas sociedades de formigas são surpreendentemente similares às nossas. É assombroso observar que algumas espécies de formigas chegam a praticar uma forma de agricultura, cultivando imensos canteiros de fungos dentro do formigueiro. Essas formigas recolhem folhas e outros materiais vegetais para usar nas suas fazendas antes de colher o fungo que irão comer.
Quando a equipe de DeSilva comparou os tamanhos dos cérebros de diversas espécies de formigas, eles observaram que, às vezes, as formigas com sociedades maiores evoluíram para ter cérebros maiores – exceto quando também evoluíram essa propensão para cultivar fungos.
A pesquisa sugere que, pelo menos nas formigas, ter um cérebro maior é importante para se sair bem em sociedades grandes, mas sistemas sociais mais complexos, com maior divisão de trabalho, poderão fazer com que seus cérebros diminuam. Isso pode ocorrer porque as capacidades cognitivas ficam divididas e distribuídas entre muitos membros do grupo, que desempenham papéis diferentes.
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