Sexta-feira, 22 de Novembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 17 de agosto de 2022
Quase 60% dos britânicos dizem que escrevem menos à mão do que cinco anos atrás, segundo pesquisa realizada no ano passado, e 12% nunca escreveram sequer uma lista de compras. As crianças mandam e-mails para Papai Noel e algumas têm dificuldade em segurar a caneta.
A pergunta é: será que isso é realmente importante? O mundo não seria um lugar melhor se tudo o que escrevemos fosse tão claro e inequívoco quanto a palavra impressa? O mundo da medicina certamente seria: um americano de 42 anos morreu certa vez após um farmacêutico, ao ler a receita escrita de maneira desleixada por um cardiologista, lhe vendeu comprimidos errados.
Mas os dados mostram que, no campo da aprendizagem, escrever à mão é, definitivamente, importante. Vários estudos revelaram que tanto crianças quanto adultos aprendem e lembram mais quando escrevem à mão. “Isso estimula o cérebro de uma maneira muito diferente do que o teclado”, diz a professora de neuropsicologia Audrey van der Meer, da Noruega, cuja pesquisa sobre o assunto é amplamente citada.
Isso joga uma melancólica luz sobre dados recentes, indicativos de que despencou de 70% em 2019 para 59% em 2022 a parcela de alunos mais jovens das escolas primárias britânicas que alcançam os padrões de escrita previstos.
Van der Meer reconhece que ela mesma dificilmente escreve à mão e que não reconheceria a letra de sua filha de 19 anos “porque, pelo que sei, ela não escreve nada à mão”. Quando Van der Meer dá aula na universidade, vê, admirada, “uma muralha de símbolos da Apple” dos laptops dos alunos, poucos dos quais fazem anotações à mão. “É uma pena, de verdade”, diz ela.
O atrofiamento da escrita começou a afetar outras vidas também, como as dos peritos forenses em caligrafia. “É uma preocupação”, diz Steve Cosslett, um perito britânico que forneceu provas em centenas de casos judiciais desde o começo de sua carreira, em 1983. Para atestar a autenticidade de, digamos, uma assinatura ou um testamento, precisa-se de uma série de assinaturas autênticas. Mas elas são mais difíceis de encontrar agora, quando as pessoas deixaram de assinar coisas como cheques. “As pessoas não conseguem fornecer material de referência suficiente”, diz ele.
Cosslett também pondera que o campo da perícia forense de escrita à mão está encolhendo. O número de analistas de documentos que trabalham em laboratórios credenciados de investigação policial na Inglaterra e em Gales encolheu de pelo menos 25 na década de 1980 para cinco ou seis hoje.
É difícil imaginar um mundo em que a escrita à mão desaparece completamente, menos ainda uma época em que todos preferem digitar uma carta de amor ou ditá-la para Siri, a assistente inteligente da Apple. Acho que alguma coisa também vai se perder se deixar de existir gente como a grafóloga Tracey Trussell.
Os grafólogos, ao contrário da maioria dos peritos forenses em letra de mão, analisam a caligrafia para avaliar traços de personalidade. São muitos os céticos sobre esse tipo de coisa, mas Trussell diz que é muitas vezes contratada pelas empresas – hotéis, administradoras de imóveis, empresas de engenharia – para avaliar candidatos a empregos.
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