Quinta-feira, 26 de Dezembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 5 de maio de 2022
Como previsto pela maioria dos analistas de mercado, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou a taxa básica de juros, a Selic, de 11,75% para 12,75% ao ano na última quarta (4). Foi a décima alta seguida desde março de 2021, quando o cenário era muito diferente: os juros estavam no patamar mais baixo da história, em 2%.
Agora, os juros são os mais altos desde fevereiro de 2017 e colocam o Brasil no topo do ranking global de juros reais.
Pouco antes da decisão do BC, o Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, deu início a uma fase mais severa do seu processo de aperto monetário ao elevar em 0,50 ponto percentual as taxas de juros, para o intervalo entre 0,75% e 1%. É o maior aumento nas taxas de juros desde 2000 e a segunda alta consecutiva.
A decisão do banco central americano tem como objetivo combater a inflação nos EUA, mas tem repercussões no mundo inteiro, inclusive no Brasil. As consequências podem atrapalhar ainda mais o crescimento da economia brasileira, cujas projeções de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano estão abaixo de 1%.
Veja cinco efeitos da alta dos juros nos EUA e no Brasil que podem chegar ao seu bolso:
1) Fuga de capitais atrapalha Bolsa e empresas
Com a economia global cercada por incertezas agravadas pela guerra na Ucrânia e os novos surtos de covid na China, a alta dos juros nos Estados Unidos torna os títulos do Tesouro americano mais atraentes para investidores globais em busca de maior segurança.
A redução do apetite por investimentos de maior risco em economias emergentes e o Brasil deve ser um dos mais afetados. Os efeitos já são sentidos na fuga de capitais estrangeiros da Bolsa de São Paulo, a B3.
Após um primeiro trimestre de forte entrada, o fluxo de recursos estrangeiros na Bolsa inverteu a mão em abril. No segmento secundário, aquele com ações já listadas, o saldo líquido ficou negativo em R$ 7,677 bilhões, segundo dados divulgados pela B3.
2) Juros altos dificultam geração de empregos
Com mais dificuldades para captar recursos estrangeiros, as empresas também veem outra alternativa de financiamento de novos projetos ficar mais difícil. Os juros mais altos no Brasil dificultam o crédito para empresas investirem em expansões ou novas fábricas e estabelecimentos.
Ao elevar a Selic, o objetivo do Banco Central é desestimular o consumo das pessoas e das empresas com o crédito mais caro. No entanto, isso acaba levando as companhias a adiar despesas com novos projetos e a contratação de mais funcionários.
Com a manutenção da alta taxa de desemprego, fica mais difícil para os que estão empregados conseguirem reajustes salariais mais altos para compensar as perdas com a inflação de dois dígitos.
3) Selic mais alta dificulta o crédito e o consumo
Tomar dinheiro emprestado fica mais caro não só para as empresas, mas também para as pessoas físicas. Assim, fica mais difícil fazer compras parceladas de produtos nas lojas.
As taxas dos empréstimos pessoais de curto e de longo prazo nos bancos tendem a subir, acompanhando a Selic. Assim, pegar dinheiro emprestado no crédito consignado ou tomar um financiamento para comprar um carro ou imóvel vai ficar mais caro.
Para os brasileiros que já estão endividados, fica mais difícil rolar dívidas. Muita gente toma empréstimos pessoais para quitar dívidas mais caras, como as do rotativo do cartão de crédito. Essa estratégia vai ficar mais custosa agora.
Atualmente, mais de 70% dos brasileiros têm alguma dívida. Em quase 30% das famílias há parcelas atrasadas, segundo a Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência.
Com menos dinheiro em circulação por causa do crédito mais caro, a tendência é que as pessoas consumam menos. E o efeito disso nas vendas das empresas é outro fator desestimulante a novos investimentos e contratações.
4) Dólar tende a subir e pressionar mais a inflação
O maior interesse de investidores internacionais pelos títulos do Tesouro americano levam ao maior fluxo de capitais para os Estados Unidos. Para entrar no mercado americano, esses investidores precisam de dólares.
Esse movimento tende a valorizar o dólar perante as outras moedas do planeta. As divisas de países em desenvolvimento, como o Brasil, tendem a serem mais penalizadas porque as perspectivas negativas de suas economias agravam a redução natural da entrada de dólares em seus mercados.
Com isso, é possível que o dólar volte a subir no Brasil até o fim deste ano, que tem um fator a mais de instabilidade no Brasil: as eleições.
Como vários preços de itens básicos são cotados em dólares no mercado internacional — principalmente combustíveis e alimentos —, a pressão no câmbio pode alimentar a inflação e dificultar ainda mais o combate dela pelo BC com a alta dos juros. Isso pode significar maior perda no poder de compra dos brasileiros.
No Ar: Show de Notícias