Domingo, 08 de Setembro de 2024

Home em foco Primeira-ministra do Reino Unido diz que não recuará do pacote que afundou a libra

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A primeira-ministra britânica, Liz Truss, não mostrou sinais de que pretende recuar em suas políticas econômicas, que ontem forçaram o Banco da Inglaterra a fazer uma intervenção drástica de 65 bilhões de libras (cerca de R$ 387 bilhões) para segurar a cotação da moeda do país. Em entrevista à BBC nesta quinta-feira, Truss falou da reação ao seu pacote de corte de impostos e culpou a guerra na Ucrânia pela turbulência no mercado, que empurrou a libra para uma baixa recorde.

“Estou muito convencida de que o governo fez a coisa certa”, afirmou Truss em uma rodada de entrevistas para estações de rádio locais da BBC.

A entrevista foi a primeira de Truss desde o anúncio dos cortes de 45 bilhões de libras (R$ 268 bilhões) em impostos, na semana passada. Os cortes, os maiores em 50 anos no Reino Unido, foram criticados pelo seu efeito na dívida pública e na inflação, já que não há previsão de redução de despesas para compensá-los.

O pacote fez com que Truss tivesse a estreia mais turbulenta de qualquer primeiro-ministro britânico em tempos de paz. Em apenas três semanas, seu governo foi atingido por uma crise de confiança. As medidas podem empurrar o Reino Unido para uma recessão profunda e um colapso do mercado imobiliário.

Desde o anúncio do pacote pelo ministro das Finanças, Kwasi Kwarteng, há seis dias, houve críticas de vários lados. O Fundo Monetário Internacional (FMI) pediu que Truss reconsiderasse seus planos, também atacados publicamente por altos executivos britânicos, como Simon Wolfson, CEO da gigante do varejo Next PLC.

A secretária de Comércio dos EUA, Gina Raimondo, disse que a determinação de Truss em cortar impostos não impulsiona o crescimento do país. A Moody’s, agência de pesquisa financeira e classificação de crédito internacional, alertou que o governo pode causar danos permanentes às finanças públicas. O ex-presidente do Banco da Inglaterra Mark Carney acusou o governo de “minar” as instituições econômicas do país com a aparente marginalização do principal órgão de vigilância fiscal, o Gabinete de Responsabilidade Orçamentária.

Truss, então, estava sob intensa pressão para tentar tranquilizar os mercados – e os eleitores – nas entrevistas desta quinta-feira. Mas, ao contrário de seu antecessor Boris Johnson, ela não é uma comunicadora nata. Cada vez que era questionada sobre o impacto negativo de seu plano econômico, desviava a atenção apontando para o pacote do governo para ajudar os britânicos a pagar suas contas de gás e luz neste inverno.

Quando questionada sobre os custos crescentes das hipotecas, ela disse que o Banco Central é responsável pelas decisões sobre as taxas de juros, e repetidamente apontou a invasão da Ucrânia pela Rússia como a causa da turbulência no mercado.

Opções limitadas

Em entrevistas, o secretário do Tesouro, Chris Philp, disse que os ministros cumpririam o cronograma de divulgação de um plano fiscal de médio prazo em 23 de novembro. No entanto, ele também se recusou a confirmar se o governo manteria o compromisso anunciado no governo de Boris de aumentar pensões e benefícios de acordo com a inflação, que em agosto ficou em 8,6% em termos anualizados, a mais alta desde os anos 1980.

No momento em que os parlamentares conservadores expressam cada vez mais seu desconforto com a direção do novo governo, renegar o compromisso anunciado no início deste ano pelo então ministro do Tesouro Rishi Sunak corre o risco de provocar uma grande disputa na sigla governista antes de sua conferência anual em Birmingham, na próxima semana. O cancelamento dos reajustes chamaria ainda mais atenção para o corte de impostos, que beneficia os mais britânicos mais ricos e elimina o teto para os bônus dos banqueiros.

Em uma entrevista posterior à Sky News, Truss disse que seu governo está procurando aumentar a “eficiência” dos gastos para compensar os cortes de impostos, mas se recusou a dar exemplos. Qualquer corte de despesas também provocaria uma reação política, já que muitos serviços públicos já foram reduzidos no Reino Unido após a crise financeira global de 2008 e a pandemia.

Na realidade, Truss tem pouco espaço de manobra. Se retroceder, ela corre o risco de minar fatalmente a credibilidade de seu governo. Se mantiver o curso, pode prolongar a turbulência nos mercados financeiros, com as consequências políticas resultantes disso.

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